Manifestação calorosa na agência Veneza constrange executivo do banco
Era para ser apenas uma visita de negócios ao Recife, mas o vice-presidente do Santander, Juan Moreno, foi pego de surpresa e acabou envolvido num grande protesto realizado pelos bancários contra as demissões e o fechamento de agências.
Avisado pelos seguranças, o executivo do banco espanhol bem que tentou despistar os bancários, mas errou a porta de saída da agência Veneza e acabou no meio da manifestação, ocorrida na manhã desta segunda-feira, dia 9.
Nervoso com a situação, o vice-presidente do Santander primeiro tentou ignorar a manifestação. Mas, sob vaias, acabou encarando os cartazes com as reivindicações dos bancários e entendeu que a política de Recursos Humanos do banco tem deixado muito a desejar.
A presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Jaqueline Mello, conta que desde o início do ano o Santander já demitiu 32 funcionários no estado – e já fechou mais de 970 postos de trabalho em todo o país. Segundo ela, nos últimos dias, o banco iniciou o fechamento de dez agências no estado, extinguindo ainda mais empregos e piorando o atendimento aos clientes.
“Um banco que só nos primeiros três meses deste ano lucrou R$ 1,428 bilhão precisa ter responsabilidade social. Basta ver as agências lotadas para concluir que o banco precisa contratar e abrir novas unidades, e não demitir”, diz Jaqueline.
Segundo levantamento do Sindicato, em Pernambuco estão sendo fechadas, até o final de maio, as agências de Moreno, São Lourenço da Mata, Águas Belas, Catende, São José do Egito, Floresta, Nazaré da Mata e Rio Formos, além de algumas fusões de unidades no Recife e na região metropolitana.
O protesto
Ao saber da visita do vice-presidente do Santander à agência Veneza, onde fica a superintendência do banco, os funcionários da empresa e os diretores do Sindicato se deslocaram para a unidade na tentativa de conversar com o executivo.
Após várias tentativas, a direção local do banco descartou qualquer possibilidade de reunião entre os representantes dos bancários e o vice-presidente do Santander. “Decidimos, então, esperar o Juan Moreno sair para protestar e mostrar todo o nosso descontentamento com a empresa. Mostramos para ele que os brasileiros exigem respeito e que os pernambucanos não admitem essa política de demissões e fechamento de agências”, explica a secretária de Finanças do Sindicato, Suzineide Rodrigues.
Enquanto aguardavam a saída do vice-presidente, os bancários tiveram de enfrentar um forte calor. Isso porque o banco desligou o ar-condicionado do autoatendimento, onde se concentrava o protesto, na tentativa de dispersar os manifestantes.
“A estratégia não deu certo, só serviu para animar ainda mais os manifestantes”, explica a representante do Nordeste na Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander, Tereza Souza. Segundo ela, a repercussão do protesto entre os bancários foi maravilhosa.
“O pessoal achou a ação do Sindicato uma resposta à altura da forma com que o banco tem fechado agências e demitido seus funcionários. Há boatos de que outras dez unidades serão fechadas em Pernambuco. Na próxima quinta-feira, dia 8, temos uma reunião da COE, quando vamos apurar o que é boato e o que é verdade”, diz Tereza.
Para o secretário de Administração do Sindicato, Epaminondas Neto, que é empregado do banco, o Santander, mais uma vez, massacra os brasileiros com a política de demissões e fechamento de agências. “E o problema se agrava na medida em que o banco não dialoga com os sindicatos. Com este protesto, exigimos mais uma vez: Santander, respeite o Brasil e os brasileiros”, ressalta Epaminondas.
Saúde dos bancários
A falta de funcionários nas agências do Santander tem prejudicado a saúde dos bancários, que trabalham sobrecarregados num ambiente de estresse. Além disso, as demissões tem causado insegurança e instalado um clima de terror entre os empregados, prejudicando, inclusive, a saúde mental.
“Muitos funcionários têm procurado o Sindicato com problemas de saúde. Não é a toa que o Santander é responsável por mais de 40% das CATs (Comunicação de Acidente de Trabalho) que abrimos aqui no Sindicato nos últimos três anos”, conta o secretário de Saúde do Sindicato, Wellington Trindade.
Segundo o dirigente, só nos últimos dois anos o Sindicato abriu mais de 400 CAT’s para os funcionários do Santander, o que dá uma média de 16 Comunicações de Acidente de Trabalho por mês.