Valor : Fiesp ataca spread; juro já declina, diz Setubal

Valor Econômico
Maria Christina Carvalho, de São Paulo

Preocupada com a competitividade da indústria nacional no próximo ano, em um contexto em que o mundo estará consumindo menos e os produtores americanos e europeus buscarão de todos os meios penetrar mais em outros mercados, a Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) voltou suas baterias contra o elevado custo do crédito no país.

“Em 2009 vai sobrar tudo, menos crédito”, disse o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp (Decomtec), José Ricardo Roriz Coelho.

Por isso, a Fiesp elaborou estudo do custo do capital para a indústria e a conclusão, segundo Coelho, é que, “o juro ficou estável desde 2000, apesar da queda da inadimplência. Agora, mal começou a crise, o juro já subiu. Nos outros países, foi o contrário, o juro caiu”.

De fato, de acordo com dados do Banco Central (BC), a taxa média do juro subiu de 40,40% para 42,90% ao ano de setembro para outubro, puxado pela taxa para empresas, que passou de 28,3% para 31,6% ao ano. O spread subiu de 26,4 para 28,4 pontos percentuais, refletindo maior prêmio de risco. A inadimplência ficou praticamente estável em 4,1% em outubro frente a 4% em setembro.

O presidente do Itaú Unibanco Banco Múltiplo, Roberto Setubal, afirmou que o juro subiu em função do aumento das taxas nos mercados futuros e da preocupação com a inadimplência.

A taxa do swap de 360 dias chegou a superar 16% na segunda quinzena de outubro em comparação com cerca de 14,5% na primeira quinzena do mês. No fim de novembro, voltou ao redor de 14%. Segundo Setubal, em resposta a esse movimento, o juro já está caindo na ponta do crédito. Mas a expectativa de uma certa deterioração da inadimplência em 2009 permanece com a previsão aumento do desemprego, “embora em níveis nada preocupantes”.

O Itaú Unibanco detectou a redução na demanda por crédito por parte das empresas de 25% nas últimas semanas. Para 2009, Setubal prevê aumento de 15% a 20% do crédito, abaixo dos 30% deste ano.

A persistir o cenário de juro elevado, disse o diretor da Fiesp, a indústria brasileira vai “estar muito vulnerável”. “Se não diminuir o custo de capital”, acrescentou, “haverá impacto no investimento e na competitividade”.

Levando em conta as informações do Banco Central, o estudo da Fiesp concluiu que a indústria de transformação paga por ano R$ 33,4 bilhões de spread ao tomar crédito dos bancos. Esse valor, salientou Coelho, é mais do que os R$ 25,8 bilhões que o setor investe em tecnologia e desenvolvimento e 7% do valor do investimento.

O Decomtec chegou a essa conclusão ao aplicar a fórmula de decomposição do spread bancário, feita pelo BC. Pela fórmula, 37,4% do spread vêm da inadimplência; 13,5% de custo administrativo; 18,3% de carga tributária; 0,3% de Fundo Garantidor de Crédito (FGC); 3,5% de compulsório sobre depósito a vista; 0,1% de compulsório sobre depósito a prazo; e 26,9% de “resíduo líquido”, que seria o spread propriamente dito, margem ou ganho do banco.

O estudo compara o custo do crédito no Brasil com o de 42 outros países e conclui que os juros médios do crédito adequados para o Brasil seriam 12,4%.

O economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, afirmou que uma taxa de crédito de 12,4% pressupõe um juro entre 6% a 7% brutos na ponta da captação, e uma taxa líquida abaixo da inflação corrente.

Ele critica também a comparação entre os juros no Brasil e em outros países sem levar em conta informações sobre compulsórios e impostos nos outros mercados.

Por fim, Sardenberg informou que, ao longo desta década, o resíduo líquido ou margem dos bancos vem declinando dentro do spread total, de 28,12% em 2001 para 26,93% no ano passado.

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