Valor Econômico: Lula quer ação conjunta contra a crise

Isabel Versiani e Walter Brandimarte
Reuters, de Nova York

Em discurso na abertura da Assembléia-Geral da ONU, nesta terça 23, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que as soluções para a crise financeira global sejam tratadas por organismos multilaterais.

Lula destacou que as intervenções do Estado, “contrariando os fundamentalistas do mercado”, mostram que a política se sobrepõe a economia e que os governantes precisam agira para combater a “desordem” nas finanças internacionais.

Mencionando o economista brasileiro Celso Furtado, Lula disse que é “inadmissível que os lucros dos especuladores sejam sempre privatizados e suas perdas invariavelmente socializadas”. Para Lula, a resolução de crise tão grave não pode ser deixada aos fóruns econômicos, e existe a presença dos Estados nacionais. “Os organismos econômicos supranacionais carecem de autoridades e de instrumentos práticos para coibir a anarquia especulativa. Devemos reconstruí-los em bases completamente novas”, propôs Lula. “Dado o caráter global da crise, as soluções que venham a ser adotadas deverão ser também globais, tomadas em espaços multilaterais legítimos e confiáveis, sem imposições”, acrescentou.

O presidente brasileiro atribuiu a ONU a responsabilidade de convocar os países para contribuir na solução da crise. “Das Nações Unidas, máximo cenário multilateral, deve partir a convocação para uma resposta vigorosa às ameaças que pesam sobre nós”, afirmou.

A crise dos alimentos também foi tratada no discurso do presidente Lula, que abordou também os riscos para o comercio sem um acordo em Doha. “Minha obsessão com o problema da forme explica o emprenho que tenho tido, junto a outros lideres mundiais, para chegar a uma conclusão positiva da Rodada Doha”, disse Lula.

“Continuamos insistindo em um acordo que reduza os escandalosos subsídios agrícolas dos países ricos”, frisou o presidente, destacando o impacto positivo que o acordo teria na produção de alimentos, sobretudo nos países pobres e em desenvolvimento.

Depois de destacar o papel que vem sendo cumprido por articulações dos países em desenvolvimento, como o G-20, os Brics e a Unasul, Lula conclamou a reforma do Conselho de Segurança da ONU, cuja representação, considerou, está “distorcida” e é “obstáculo” ao multilateralismo.

“As Nações Unidas discutem há 15 anos a reforma do Conselho de Segurança. A estrutura vigente, congelada há seis décadas, responde cada vez menos aos desafios do mundo contemporâneo”, criticou Lula.

O presidente rebateu ainda o que classificou de tentativa de associar a crise dos alimentos aos biocombustíveis. Lula disse que a acusação não resiste à análise da realidade. “O etanol de cana-de-açúcar diminui a dependência de combustíveis fósseis, regenera terras deterioradas e é plenamente compatível com a expansão da produção de alimentos”, defendeu. Lula disse que o Brasil quer aprofundar o debate sobre o biocombustível na conferência mundial sobre o tema, em novembro, em São Paulo.

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