Valor Econômico: Bradesco capta R$ 370 mi no Japão apesar da crise

Valor Econômico
Por Angelo Pavini, de São Paulo

Apesar de toda crise internacional, os exuberantes juros brasileiros continuam atraindo investidores estrangeiros. É o que se conclui do anúncio feito ontem pelo Bradesco, que conseguiu captar R$ 370 milhões (US$ 176 milhões) em um fundo de renda fixa de papéis brasileiros no varejo do Japão, em parceria com a Mitsubishi UFJ Asset Management. A expectativa quando a parceria foi anunciada, em agosto, era captar US$ 1 bilhão, mas os bancos não contavam com a crise internacional.

“O período de captação coincidiu com a turbulência, mas nós ainda esperamos chegar a US$ 1 bilhão”, diz Luiz Osório Leão Filho, gerente de projetos internacionais da Bradesco Asset Management (Bram), responsável pela gestão da carteira, que continua aberta. “Diante da situação internacional, é um valor significativo”, admite.

Ele e o diretor-geral da Bram, Robert John van Dijk estavam no Japão no início de outubro explicando as vantagens do fundo para os potenciais investidores quando o dólar atingiu quase R$ 2,50 por aqui. O salto da moeda americana fez os ouvintes, em geral senhores e senhoras de mais de 60 anos, bombardearem os brasileiros com questões sobre o funcionamento do mercado brasileiro. “A maior preocupação foi com o câmbio, mas alertamos que o que estava ocorrendo era uma sobrevalorização, que não tinha justificativa macroeconômica e que a moeda deveria voltar, o que aconteceu”, diz. As palestras, feitas em Tóquio, Osaka, Nagóia e Yokohama, atraíram grupos de 150 a 200 pessoas.

Outras dúvidas eram sobre o funcionamento do Tesouro brasileiro e o risco de calote da dívida. “Explicamos que o Brasil nunca teve ‘default’ da dívida interna”, afirma Leão Filho. Mas o que deixou os brasileiros mais satisfeitos foi o fato de que as preocupações eram mais de curto prazo e, no longo prazo, o otimismo dos japoneses com o Brasil era grande.

O fundo abriu para captação efetivamente na sexta-feira passada, dia 7, depois, portanto, da forte desvalorização da moeda brasileira, que teria dado prejuízos para os investidores que tivessem aplicado antes. Mas, segundo Leão Filho, o câmbio não é a maior preocupação dos japoneses, uma vez que eles se recusaram a incluir no fundo mecanismos de proteção cambial. “Eles têm uma visão positiva sobre o real no longo prazo e, quando sugerimos fazer hedge, eles propuseram criar outro fundo”, diz. Segundo Leão Filho, o fundo está sendo oferecido com um horizonte de aplicação de dez anos.

O perfil dos investidores é bem variado, uma vez que a aplicação mínima é baixa, de 10 mil ienes, o equivalente a US$ 100 ou R$ 210. A distribuição é feita pela rede de varejo do Banco de Tóquio Mitsubishi, pela gestora do grupo, a Mitsubishi UFJ, e o braço de varejo de alta renda, o Mitsubishi Trust Bank. “E acreditamos no aumento dos depósitos justamente porque o Mitsubishi Trust entrou na operação só no começo da semana passada”, diz Leão Filho. Há também a alta dos juros brasileiros, para mais de 10% reais acima da inflação, enquanto no Japão o juro básico está em 0,3% ao ano.

O sucesso do Brasil no Japão é confirmado por outras instituições. A BNP Paribas Asset Management Brasil tem R$ 1,2 bilhão em fundos com ativos brasileiros no Japão, R$ 200 milhões dos quais em renda fixa, e não teve resgates, diz o diretor Luiz Sorge. “E estamos em tratativas também para o lançamento de um fundo sediado no Chile de renda fixa Brasil para investidores institucionais daquele país”, diz. A previsão de lançamento é para dezembro com patrimônio esperado de US$ 350 milhões.

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