Valor: divergências entre BB e Votorantim

Valor Econômico
Vanessa Adachi, de São Paulo

As negociações para a venda de uma fatia minoritária do Banco Votorantim para o Banco do Brasil tomaram um desvio nas últimas duas semanas. “O negócio já esteve praticamente fechado há quinze dias. Mas, hoje, tem 50% de chance de não ocorrer”, diz uma pessoa que acompanha de perto as negociações. Não há acordo sobre preço e nem sobre a divisão de poder.

O Banco do Brasil acha que o Votorantim vale cerca de R$ 10 bilhões e a família Ermírio de Moraes não concorda. Os controladores do Votorantim querem ter voto de minerva no conselho de administração do banco, e o BB não aceita.

As conversas prosseguem, mas num clima muito menos favorável do que em meados de novembro, enquanto o BB ainda negociava em paralelo a aquisição da Nossa Caixa. Naquela época, o banco estatal chegou a concordar com um cálculo que atribuiu valor de R$ 14 bilhões ao banco da família Ermírio de Moraes. Faltava apenas um importante passo: fechar o acordo de acionistas. E foi aí que as coisas começaram a dar errado.

A idéia é que o BB não assuma o controle do Votorantim, mas fique com praticamente metade do banco. Dado o grande investimento em jogo – algo em torno de R$ 7 bilhões pelos cálculos anteriores – o BB queria um acordo de acionistas que lhe assegurasse um controle compartilhado. Gostaria, por exemplo, de ter o direito de indicar o mesmo número de representantes do conselho que o grupo Votorantim. A família, entretanto, quer ter o voto de desempate. Outras condições do banco estatal que dificultam um entendimento é o direito de indicar alguns membros da diretoria executiva e um rodízio na presidência do conselho.

O problema é que, enquanto as discussões sobre governança não deslanchavam, o cenário de preço de instituições financeiras continuou a se deteriorar. O valor de R$ 14 bilhões atribuído ao Votorantim representaria um múltiplo de 2,2 vezes o seu patrimônio líquido (PL) de junho. Para analistas, esse é um índice considerado fora dos padrões de mercado atuais. Para se ter uma idéia, apenas os grandes bancos privados brasileiros são negociados a pouco mais de 2 vezes o seu PL (Itaú e Bradesco). O próprio BB é negociado a 1,3 vez o seu PL. Quando se passa para os bancos menores, há índices inferiores a uma vez o patrimônio líquido.

Depois que anunciou a compra da Nossa Caixa por R$ 7,5 bilhões, o BB recebeu algumas críticas de analistas que consideraram o preço salgado. Isso também influenciou a instituição a revisar os parâmetros da negociação.

O Banco Votorantim sofreu um aperto de liquidez decorrente da crise. O banco vinha usando recursos de curto prazo como “funding” para financiamentos de veículos de longo prazo. A conta fechava enquanto havia abundância de dinheiro no mercado. Comenta-se entre executivos de bancos que o BB já teria comprado cerca de R$ 4 bilhões da carteira de financiamento de veículos do Votorantim para lhe dar liquidez.

Essa é a carteira de negócios que mais interessa ao BB dentro do Banco Votorantim. Frequentemente surgem rumores de que o Bradesco poderia estar competindo pelo Votorantim. Para alguns analistas, entretanto, além de o Bradesco só ter interesse numa eventual compra do controle, o negócio só faria sentido para ele a um preço bem mais baixo, já o banco da Cidade de Deus tem uma grande carteira própria de veículos na sua financeira, a Finasa.

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