Alex Ribeiro, de Brasília
03/12/2008
A crise internacional levou o banco sul-africano FirstRand a cancelar a sua parceria com o Banco do Brasil para atuar no segmento de financiamento de veículos, segundo comunicados divulgados ontem ao mercado financeiro pelos dois bancos. O BB recebeu bem a decisão, já que agora fica livre para avançar mais rápido nesse nicho por meio de aquisições de bancos.
Uma fonte do BB explicou que, desde a assinatura de um protocolo de intenções com o First-Rand, em fins de julho, o mundo mudou. De um lado, a crise, que nasceu no mercado bancário, afetou o lucro e a perspectiva de crescimento de instituições financeiras do exterior. De outro lado, a edição da medida provisória (MP) 443, que permite que bancos públicos comprem bancos, ampliou o leque de possibilidades para o BB, que até então só podia crescer basicamente pela expansão orgânica.
Ontem, o FirstRand, que administra US$ 130 bilhões em ativos, divulgou comunicado em que informa que seu lucro por ação no segundo semestre ficará entre 25% e 33% menor que no mesmo período de 2007. Os resultados foram afetados pelo crescimento de inadimplência em operações de varejo, especialmente financiamentos imobiliários e de veículos, e perdas no banco de investimento.
O BB havia escolhido o First-Rand, após consultar vários outros bancos, devido à sua expertise no segmento de financiamento de veículos. A carteira do banco sul-africano nesse nicho somava US$ 15 bilhões, segundo dados de seu último balanço.
O BB e FirstRand planejavam abrir juntos uma financeira e haviam, inclusive, pedido autorização formal para os órgãos reguladores no Brasil e África do Sul. A operação, porém, exigia um alto investimento e tinha maturação relativamente lenta. O investimento total era calculado em R$ 1,3 bilhão e as operações, que iriam iniciar em 2009, só passariam a dar resultados positivos a partir do ano seguinte.
Com o FirstRand, o BB pretendia montar uma operação para explorar o segmento de não-clientes, sobretudo nas concessionárias de veículos. Desde 2005, o BB vem ampliado a concessão de financiamentos para aquisição de veículos dentro de seus próprios canais de atendimento, como agências bancários e terminais eletrônicos. Graças a essa estratégia, a carteira do BB, que tinha valores pouco expressivos, chegou a R$ 5,6 bilhões em setembro de 2008. O crescimento em 12 meses foi de 171%, mas, em termos absolutos, a carteira está bem abaixo dos grandes bancos varejistas. O Itaú, por exemplo, tinha uma carteira de R$ 39,414 bilhões em setembro.
Os estudos internos do BB apontaram que, no caso da financeira, seria melhor uma associação com um parceiro privado. Na parceria com o FirstRand, o BB teria 73,5% do capital total, e portanto iria colher a maior parte do resultado financeiro, e o banco sul-africano ficaria com 53% das ações ordinárias, controlando o negócio. Com esse modelo, o BB iria ganhar flexibilidade para contratar agentes de crédito que atuam nas concessionárias e recebem remuneração variável. Se o BB fosse controlador, esses agentes de crédito poderiam reivindicar direitos iguais aos demais funcionários do BB, que são selecionados por concurso.
Mais recentemente, o BB acelerou a expansão dos negócios com a compra de R$ 1,5 bilhão em carteiras de crédito de veículos de oito instituições que enfrentavam problemas de caixa. A MP 443 mudou a equação para o BB porque, com ela, a instituição poderá comprar participações relevantes em instituições privadas que já atuam no segmento de veículos.
O BB vem negociando a compra de participação relevante no Banco Votorantim, que, no balanço de junho, informou ter carteira de R$ 17,9 bilhões em financiamentos de veículos. A idéia é que o controle continue em mãos privadas, mas o BB quer um acordo de acionistas que garanta seu poder de influência sobre os rumos do negócio. A venda ainda não foi fechado porque os bancos não chegaram a um consenso sobre quem irá dar a palavra final na gestão do banco nem sobre o preço do Votorantim.