Valor Econômico
Mônica Izaguirre, de Brasília
Dona de 73% da receita oriunda de apólices vinculadas ao crédito imobiliário, a Caixa Seguros avalia estar “bem preparada” para enfrentar o cenário de maior concorrência esperado com a regulamentação do artigo 79 da Lei 9.177/2009. “Não estamos preocupados. Nosso produto já é, de longe, o mais barato e o melhor “, disse, em entrevista ao Valor, o diretor de seguros de crédito da companhia, Ricardo Talamine. Ele acredita que, com as novas regras, a seguradora terá inclusive chance de ganhar em vez de perder fatia de mercado.
A competitividade da empresa aumentou especialmente após a redução de preços anunciada em agosto. Enquanto o governo ainda discutia como regulamentar a lei, a seguradora da Caixa Econômica Federal promoveu cortes de até 40% no valor das duas modalidades de seguro exigidas na contratação de financiamentos habitacionais – o MIP, que paga a dívida em caso de morte ou invalidez permanente do mutuário, e o DFI, que cobre danos físicos ao imóvel financiado.
Para operação envolvendo imóvel de R$ 100 mil e financiamento de 80%, o prêmio pago por uma pessoa de 51 a 55 anos de idade caiu de R$ 123,92 para R$ 76,40 por mês.
Conforme Talamine, embora tenha vindo em boa hora, a decisão de reduzir preços seria tomada independentemente do futuro novo cenário concorrencial. Tanto é que esse não foi o primeiro corte. “Contando com esse último movimento, nossos preços, nesse ramo, já caíram perto de 60% nos últimos dois anos”, diz.
As reduções são decididas em função do comportamento de diversos indicadores que influenciam a receita de prêmios e a taxa de sinistralidade, como mudanças de expectativa de vida da população (MIP), melhor qualidade das construções (caso do DFI) e aumento de operações seguradas (ambos).
O diretor reconhece que, combinado com as regras atuais, o fato de ter como acionista e parceiro o maior banco de crédito imobiliário do país pesou para a supremacia conquistada pela Caixa Seguros nesse ramo.
Com a mudança normativa em estudo, assim como os demais agentes financeiros da habitação, a Caixa (banco) também terá que oferecer apólice de outra seguradora que não a Caixa Seguros (empresa da qual detém 48,21% do capital, em sociedade com a francesa CNP, a controladora, com 51,74% das ações). Talamine concorda que isso tende a abrir espaço para surgimento e expansão de seguradoras independentes.
Na sua opinião, porém, o que mais tem potencial para afetar a concorrência é outra medida prevista na lei: a possibilidade de o próprio financiado buscar um seguro alternativo no mercado, rejeitando as propostas do banco financiador. É também em razão dessa alteração, especificamente, que a Caixa Seguros pode ganhar em vez de perder mercado.
A expectativa se baseia em razões que vão além da tradição e da confiabilidade do grupo Caixa perante o público. Mesmo com preços mais baixos, a Caixa Seguros tem, segundo o diretor, a melhor e mais ágil estrutura de atendimento a sinistros do mercado.