Valor: bancos rejeitam limites para o setor financeiro

Valor Econômico
Ricardo Balthazar, de Washington

Uma associação que representa os maiores bancos do mundo pediu ontem aos países que fazem parte do G-20 que coordenem melhor as várias iniciativas lançadas para aperfeiçoar a regulação do sistema financeiro e evitem tomar medidas isoladas que possam afetar a capacidade do setor de voltar a crescer no futuro. Numa carta endereçada aos líderes do G-20, o Instituto de Finanças Internacionais (IIF) admite que a confiança depositada nos bancos foi “profundamente abalada” pela crise, mas pede que as autoridades reconheçam os esforços que o setor tem feito para mudar antes de impor novos limites à sua atuação.

“Práticas mais saudáveis nasceram da crise e mostram que a indústria está comprometida com a necessidade de mudar seu comportamento”, disse o diretor-gerente do IIF, Charles Dallara, numa entrevista a jornalistas em Washington. “A reforma regulatória deve buscar meios de reforçar isso.”

Na carta enviada aos líderes do G-20, que na próxima semana se reunirão para discutir a economia mundial em Pittsburgh, nos Estados Unidos, a associação diz que a crise levou os bancos a adotar modelos de negócios mais prudentes e abolir políticas de remuneração que incentivavam seus executivos a tomar riscos excessivos.

Mas autoridades de vários países têm demonstrado insatisfação com o setor. A França propôs limites para os bônus pagos aos banqueiros. Num discurso ontem em Wall Street, o presidente dos EUA, Barack Obama, advertiu para os riscos criados pelo excesso de otimismo de investidores que parecem “ignorar” as lições da crise.

Há uma semana, os ministros das finanças dos países avançados e em desenvolvimento que fazem parte do G-20 concordaram em exigir que os bancos mantenham reservas de capital maiores e de melhor qualidade e defenderam mudanças na maneira como os banqueiros são remunerados, mas deixaram para mais tarde a definição dos detalhes. Dallara rejeitou a imposição de limites rígidos como os sugeridos pela França para as políticas de remuneração dos bancos, mas reconheceu a necessidade de mudanças. “Essa não é uma área que a indústria possa corrigir sozinha, porque as pressões competitivas são muito fortes”, disse.

Os grandes bancos internacionais estão preocupados com o andamento das discussões em fóruns como o G-20, porque temem que a criação de novas restrições prejudique sua capacidade de recrutar profissionais talentosos e explorar as oportunidades lucrativas que começam a surgir com a recuperação da economia global.

Como o IIF lembrou na carta aos líderes do G-20, bancos americanos e europeus captaram no mercado mais de US$ 650 bilhões desde o fim de 2007 para reforçar suas reservas de capital. Mas grandes instituições continuam muito dependentes das garantias asseguradas pelos governos no auge da crise para se manter capitalizadas.

Uma das ideias em discussão no Banco de Compensações Internacionais (BIS) e em outros organismos que preparam propostas sobre o tema prevê a criação de um limite para a alavancagem dos bancos, que ficariam proibidos de emprestar mais do que 25 vezes o valor dos seus ativos, além de manter reservas de capital maiores que as atuais.

Dallara disse que a indústria aceita conversar sobre o assunto mas discorda da imposição de limites rígidos como esse.

A carta do IIF pede que os novos limites regulatórios sejam “calibrados” de acordo com os diferentes modelos de negócios e os riscos tomados por cada instituição financeira.

A associação também defende a criação de um novo sistema para solução de crises bancárias em que diferentes governos dividiriam os custos necessários para sanear organizações complexas com negócios em vários países, como os grandes bancos que tiveram problemas na crise atual.

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