Valor Econômico
Fernando Travaglini, de São Paulo
O crédito deve apresentar desaceleração em relação ao forte crescimento registrado no ano passado, mas os bancos não esperam uma queda muito acentuada. O saldo do empréstimo de 2008, mesmo com o agravamento da crise no último trimestre, deve encerrar o ano com avanço próximo a 30%. Para 2009, as previsões mais otimistas falam em 18%, mas os bancos já esperam recuperação da economia no segundo semestre.
Na visão do Banco Central há espaço para um aumento da ordem de 16% do saldo do crédito, o que garantiria a continuação do atual ciclo de expansão. Mas em pesquisa realizada no fim do ano pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) com os maiores bancos do país, no entanto, as instituições se mostram mais otimista e esperam avanço de 18,2%.
“Houve um recuo em relação a previsões anteriores que já era esperado, mas 18% é um crescimento razoável e compatível com avanço do PIB na casa de 2,5%”, afirma Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban.
A maior expansão (20,6%) será no segmento de pessoa jurídica por conta da substituição da captação de recursos externa por interna por parte das grandes companhias e que deve se manter.
Segundo ele, há uma desaceleração dos empréstimos na ponta do cliente, especialmente para pessoas físicas, mas o panorama é de que a economia brasileira sofre menos em relação ao que ocorre lá fora. “A expectativa é de que o governo Obama vai evitar uma depressão da economia americana. Por conta disso, o Brasil tem condições de ter uma trajetória de crescimento no crédito”.
Outro ponto que pode favorecer é a expectativa de redução da Selic na próxima reunião do Copom, no dia 21. A mediana das previsões dos bancos aponta queda de 175 pontos básicos para Selic ao longo de 2009, fechando o ano em 12%.
Além disso, já há um certo otimismo entre as 33 instituições financeiras ouvidas de que a situação possa melhorar no segundo semestre. A grande maioria (96%) aponta que a atividade econômica no Brasil deve apresentar contração nos primeiros seis meses, mas com recuperação a partir da metade do ano. “Se houve melhora no cenário internacional, a economia brasileira estaria pronta até para um crescimento mais robusto da oferta de crédito”.
O Banco do Brasil quer expandir carteira de crédito em 20% neste ano. A Caixa Econômica Federal trabalha com expansão ainda maior, na casa dos 40% para pessoas físicas. “Os cenários desenhados não apontam que a crise seja um impeditivo para os patamares que estamos prevendo no crédito”, avalia Milton Kruger, superintendente nacional de cliente renda básica da Caixa.
Um das apostas é crescer no setor de financiamento do varejo, onde a Caixa ainda tem penetração muito pequena. “Iniciamos um piloto no ano passado e nossa meta é fazer mais parcerias com lojistas e atingir R$ 2 bilhões em concessões”. As linhas contam com financiamento de até 24 meses e valor máximo de R$ 10 mil para os segmentos de móveis, eletrônicos, eletrodomésticos e material de construção. O setor de turismo deve entrar a partir de fevereiro.
A situação, no entanto, é diferente entre os bancos menores. A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) fala em menos de 10% de aumento do saldo, devido à dificuldade que se mantém para obter recursos (funding).
“Quando o governo trabalha dizendo que quer PIB de 4% está certo. Tem de almejar isso. Ele é o principal ator nesse filme. Quando o BC fala que o crédito pode crescer 16% é a mesma coisa. É importante falar isso. E ele está avaliando que o governo vai atuar, que os ministérios vão atuar. Nós não temos esse conhecimento e é natural que nossa previsão seja diferente, pouco inferior a 10%”, explica Renato Oliva, presidente da ABBC.
O período mais complicado serão os primeiros meses de 2009, mas ele também mostra otimismo em relação ao restante do ano. “Esse trimestre vai ser o mais prejudicado por estar mais próximo dos impactos da crise e porque tradicionalmente são de redução do processo econômico. Mas a crise tende a diminuir ao longo dos meses”.
Para a Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), a grande questão é saber como a crise irá se refletir no emprego no Brasil, cujas conseqüência são diretas para o credito devido à perda de renda da população.
Outra preocupação é saber como será resolvido o problema das empresas automobilísticas americanas, já que o setor responde por 80% do volume de crédito da associadas da Acrefi. “Em outubro ou novembro teremos uma visão mais clara se as medidas do governo Obama serão sustentáveis ou não”, avalia Istvan Kaznar, economista-chefe da associação.
Outro segmento que depende do setor automotivo é o de consórcios. O ano de 2008 apresentou crescimento de 10% no volume de vendas, mas para o próximo ano é esperada uma desaceleração. “É difícil saber se vai ter efeito no emprego. Nosso publico alvo é o assalariado e isso pode afetar as previsões. Esperamos aumento entre 6% e 8% volume de negócios”, conta Rodolfo Montosa, presidente da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).