Valor Econômico
Angelo Pavini, de São Paulo
O Banco Rendimento, comandado por Abramo Douek, ex-diretor do antigo Banco Cidade, fechou a compra do Banco Concórdia, segundo fontes do mercado que pediram para não ser identificadas. A negociação será ainda submetida à aprovação do Banco Central.
Criado em meados de 2008 pela Sadia para servir de braço financeiro para vender produtos e serviços aos fornecedores da empresa, inclusive crédito, o Banco Concórdia mal chegou a entrar em operação.
Pouco depois de sua criação, a Sadia foi engolfada pela crise financeira provocada por perdas bilionárias com operações de derivativos cambiais no fim do ano passado. A crise culminou com a compra da empresa pela concorrente Perdigão.
Nem o banco, nem a corretora Concórdia, porém, entraram nas negociações, que deram origem à Brazil Foods, ou BRF. As duas instituições ficaram com os antigos controladores da Sadia, as famílias Furlan e Fontana. Agora, com a venda do banco, o ex-ministro da Indústria e Comércio e ex-presidente do Conselho da Sadia, Luiz Fernando Furlan, deverá cuidar da corretora, uma das mais tradicionais da Bovespa.
Já o Banco Rendimento deverá dar um saldo em suas operações, hoje concentradas em câmbio, principalmente na área de turismo e serviços, remessas de recursos e pagamentos de serviços no exterior, onde é líder do mercado. Por meio das corretoras Cotação e Action, o banco presta serviços de câmbio de varejo, atendendo diversas agências de turismo. Tem também forte atuação no segmento de cartões eletrônicos para viagens.
Criado em 1992, o banco tinha inicialmente como sócia a fabricante de aparelhos eletrônicos CCE, que deixou o negócio em 2001. Entraram então os irmãos Abramo e Edwin Douek, a convite do amigo e também sócio do Rendimento, César Ades.
A instituição ampliou então seu perfil, de um banco de crédito para médias empresas apenas, para uma instituição de câmbio e de cartões. O grande atrativo para o Banco Rendimento no Banco Concórdia é o fato de a instituição ter autorização para participação estrangeira, dizem fontes do mercado que acompanharam a negociação. Isso permitiria a associação no futuro com um grupo internacional.
A ideia original dos donos do Concórdia era vender o banco e a corretora juntos. Mas o formato dependeria do interesse do comprador. No caso, o Banco Rendimento não opera no segmento de bolsa de valores.
Inicialmente, a Sadia tinha um projeto ambicioso para o Banco Concórdia. Para isso, trouxe para comandá-lo João Ayres Rabello Filho, que foi presidente do Banco Fibra e trabalhou ainda nos extintos bancos Excel e Econômico, e hoje comanda a BB DTVM, braço de gestão do Banco do Brasil. Com larga experiência em mercados financeiros, Rabello acabou sendo deslocado informalmente para a diretoria financeira da Sadia depois que o então responsável, Adriano Ferreira, foi demitido.
Rabello foi ajudar a tentar apagar o incêndio provocado pelas perdas com derivativos cambiais, que praticamente quebraram a empresa depois que o dólar disparou no fim do ano passado com a crise nos mercados internacionais. A estimativa é de que os prejuízos chegaram a R$ 2,6 bilhões.
A corretora Concórdia terá agora de recuperar o desgaste provocado pela crise na Sadia, e que levou à saída de alguns de seus executivos mais antigos, como Marcelo Canguçu, e reduziu sua participação no mercado. O comando da empresa está hoje com o genro do ex-ministro Furlan, Caio Villares.
O Valor procurou representantes da Concórdia e do Rendimento, que não comentaram as informações.