Valor: banco menor ganha espaço com a crise

Nick Timiraos e Ruth Simon, The Wall Street Journal

Agora que muitos grandes bancos americanos continuam a restringir o crédito imobiliário, algumas instituições financeiras menores vêem a atual crise financeira global como uma oportunidade para ganhar mercado. Os oito bancos que mais cederam esse tipo de empréstimo, pelo volume total nos primeiros nove meses de 2008, divulgaram queda nos pedidos de hipotecas em relação a um ano antes, segundo a Inside Mortgage Finance, uma publicação do setor.

No banco Washington Mutual Inc., de Seattle, cujas operações bancárias foram incorporadas pelo governo federal em setembro e vendidas para o J.P. Morgan Chase & Co., o volume das hipotecas caiu 72%, para US$ 33 bilhões. Outros bancos mais fortes também sofreram quedas, incluindo o Wells Fargo & Co., onde os pedidos de crédito imobiliário caíram 14%, para US$ 186,27 bilhões.

No terceiro trimestre o total de créditos imobiliários cedidos caiu para US$ 300 bilhões, uma queda de quase 50% em relação a um ano antes e de 33% em relação ao segundo trimestre deste ano.

Esses declínios refletem, em parte, uma demanda menor agora que a economia americana está desaquecida, assim como maiores exigências para o crédito por parte de bancos cautelosos. Ao mesmo tempo, as tradicionais gigantes dos empréstimos hipotecários enfrentam uma dura concorrência por parte de alguns nomes que em geral não estão entre os pesos pesados do setor.

No U.S. Bancorp, as hipotecas cedidas pela subsidiária U.S. Bank Home Mortgage, de Minneapolis, saltaram 35%, alcançando US$ 25,95 bilhões nos primeiros nove meses deste ano. Foi o maior aumento verificado em qualquer banco examinado pela Inside Mortgage Finance. “Estamos emprestando para qualquer um que tenha as qualificações necessárias”, disse Richard Davis, diretor-presidente do banco, em uma teleconferência no mês passado.

Um motivo para a crescente popularidade desse banco: o U.S. Bancorp não vem aparecendo nas manchetes dos jornais, enquanto nos últimos meses outros bancos quebraram, amargaram graves prejuízos ou foram resgatados pelo governo federal. O lucro líquido do U.S. Bancorp caiu em quase 40% no terceiro trimestre, mas os depósitos aumentaram 10% em relação a um ano antes. “Os clientes procuram estabilidade, assim como um prestador de serviços financeiros disposto a oferecer os produtos e serviços de que eles necessitam”, disse Davis a vários analistas no mês passado.

“Temos feito esforços coordenados para tentar nos beneficiar de alguns dos desafios que vemos no mercado”, diz Clarke R. Starnes, diretor de crédito da BB&T Corp. Este ano, esse banco de Salem, Carolina do Norte, já aumentou os empréstimos hipotecários em 30%, chegando a US$ 15,8 bilhões.

Essas instituições bem-sucedidas em geral evitaram exagerar nos empréstimos quando os imóveis estavam em alta, mas também ficaram muito espremidas nesse mercado ocupado por gigantes como Washington Mutual e Countrywide Financial Corp. Esta última foi adquirida este ano pelo Bank of America Corp., o segundo maior banco americano em valor de mercado, atrás do J.P. Morgan. Agora que os bancos maiores estão ocupados em reorganizar a confusa situação deixada pelo estouro da bolha imobiliária, o fato de que outras instituições estejam aumentando os empréstimos pode ajudar os clientes que têm tido dificuldades para encontrar uma linha de crédito.

Jay Brinkmann, economista-chefe da Associação dos Bancos Hipotecários, diz que muitos bancos de tamanho médio estão em boa posição no atual ambiente de turbulência graças à sua especialização em empréstimos vendidos a agências governamentais. Tais empréstimos dominam o atual mercado hipotecário, em parte porque a securitização está basicamente inativa no momento.

Os bancos menores também precisam manter menos capital de reserva do que os concorrentes maiores. Isso lhes permite “agir com melhores reservas de capital na atual época de baixa”, diz Brinkmann.

Alguns bancos que conservam empréstimos em seus balanços também estão fazendo mais negócios, apesar da atual crise. No ING Direct, divisão do holandês ING Groep NV, o volume de hipotecas aumentou 2,5%, para US$ 17,54 bilhões nos primeiros nove meses do ano, segundo a Inside Mortgage Finance. A ING Direct é mais conhecida pelos seus serviços bancários via internet, tendo apenas oito agências convencionais nos EUA. Os executivos do U.S. Bank preferiram não ceder empréstimos de alto risco, mesmo quando os preços dos imóveis estavam subindo, e também não venderam hipotecas a investidores. Com isso, fica mais fácil para o banco se adaptar às atuais condições do mercado.

“Enquanto todos os outros estavam tentando remanejar suas ofertas de produtos, nós não tivemos que fazer isso”, diz Bill Higgins, diretor de crédito da ING Direct, com sede em Wilmington, Estado de Delaware. Recentemente essa firma endureceu as exigências para ceder créditos imobiliários, inclusive uma entrada mais gorda, num reflexo da queda nos valores das propriedades.

“Não estamos tentando fazer com que o crédito seja inatingível, mas o que dizemos é que o que hoje é um empréstimo de 70% do valor do imóvel provavelmente será de 80% no ano que vem”, diz Higgins.

Alguns grandes bancos insistem em defender seu terreno, embora o volume de hipotecas tenha caído. “Estamos concedendo todos os empréstimos que podemos conceder, ao longo de todo o espectro (de clientes)”, diz Barbara Desoer, que dirige a divisão de hipotecas do Bank of America.

O volume nos primeiros nove meses deste ano caiu 7,3% na divisão de hipotecas do banco. O Bank of America está tentando agressivamente conquistar clientes que se qualifiquem para empréstimos garantidos pelo governo. Ao mesmo tempo, oferece mais empréstimos, jumbo na esperança de atrair novos clientes, em especial os mais abastados.

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