Valor Econômico
Cristiane Perini Lucchesi, de São Paulo
O Barclays aproveitou oportunidades com a crise financeira e levou talentos para dentro de casa quando todos os concorrentes estavam demitindo. Agora que o mercado está mais concorrido no país, o banco de capital inglês, no entanto, não pretende parar sua expansão. “A crise financeira nos permitiu crescer de forma mais rápida, pois ficou fácil contratar executivos seniores”, disse Archibald Cox, Jr., chairman do Barclays Americas, em visita ao Brasil.
Foi a mesma estratégia oportunista que levou o banco inglês a comprar a franquia da Lehman Brothers na América do Norte, no final de 2008, por US$ 1,75 bilhão, depois de o banco americano falir, em setembro. “Hoje nos tornamos um dos cinco maiores bancos de investimento do mundo”, diz Cox. O mercado parece reconhecer o novo papel do Barclays e suas ações na Bolsa de Londres sobem mais do que dos concorrentes.
Cox foi contratado há cerca de um ano e meio pelo Barclays justamente para expandir a atuação nas Américas. Sugeriu ao conselho a aquisição da Lehman, por causa da complementaridade entre os bancos. O Barclays tinha presença mais forte na Europa e agora é um dos mais fortes nos Estados Unidos. Era líder em renda fixa, derivativos e commodities. A Lehman atuava também na assessoria em fusões e aquisições e em emissões de ações. “Com o pessoal da Lehman, conseguimos potencializar e alavancar nossa atuação”, diz Cox.
Segundo ele, ainda em março de 2008, quando o Bear Stearns quase quebrou antes de ser vendido para o J.P.Morgan, o time dirigente do Barclays logo percebeu que o pior estava por vir. “Foi aí que resolvemos aproveitar a fraqueza da concorrência para ganhar mercado.” Cox se orgulha de o banco ter conseguido fechar no azul em 2008. Neste ano, deve ter mais de 6 bilhões de libras esterlinas (aproximadamente US$ 9,8 bilhões) de lucros antes dos impostos no mundo, segundo a “The Economist”.
“Dispensamos a ajuda do governo britânico”, lembra Cox. Mas, em outubro de 2008, o Barclays obteve 7 bilhões de libras esterlinas (cerca de US$ 11,4 bilhões) de um grupo de investidores do Oriente Médio em troca de 30% de seu capital, em uma transação polêmica, considerada por muitos com termos mais onerosos para os acionistas minoritários do que a própria ajuda do governo. Em troca dos recursos, o Barclays teve de aceitar a venda de uma de suas “joias”, segundo a “The Economist”, a gestora de recursos Barclays Global Investors (BGI), que lhe rendia receitas de 500 milhões de libras esterlinas (por volta de US$ 800 milhões). A compradora foi a BlackRock Global Investors, da qual o Barclays possui agora 19,9% do capital.
Agora completo em sua atuação internacional como banco de investimento, o Barclays resolveu ampliar os produtos oferecidos aos clientes no mercado brasileiro. “Vamos participar de todas as áreas, inclusive as mais rentáveis”, diz o presidente do Barclays no país, Alceu Amoroso Lima Neto. Isso, segundo ele, justifica a contratação de “bankers”, os responsáveis pelo relacionamento com os clientes.
Forte na venda de títulos de renda fixa do governo brasileiro para o investidor externo, quer sejam os papéis indexados à inflação emitidos no mercado interno, quer sejam os eurobônus emitidos no exterior, o Barclays quer agora liderar transações também para corporações. Quer ampliar sua atuação no mercado de fusões e aquisições e de emissões iniciais públicas de ações (IPOs), bem mais rentáveis para os bancos de investimento do que os títulos de renda fixa. O banco, que iniciou 2009 com 85 funcionários, tem hoje 120. E isso mesmo considerando-se que cerca de 15 pessoas do time da gestora de recursos BGI no Brasil foram integrar a BlackRock.
Os planos do Barclays para 2010 são de contratação de mais 40 a 50 funcionários para a área de vendas, além de operadores, analistas para a área de pesquisa e “bankers”. O capital do banco no Brasil, hoje de R$ 600 milhões, também deverá ser ampliado para fazer frente à expansão. Segundo Lima Neto, o banco tem como foco, principalmente, emissões que envolvem distribuição no exterior, além de fusões e aquisições entre empresas brasileiras e parceiras no mercado internacional.
Hoje, depois que o pior da crise “ficou para trás”, o mercado brasileiro se mantém prioridade para o Barclays, segundo Cox. Ele, no entanto, descarta aquisições no país. “Nossa ideia é manter um crescimento orgânico”, revela.
O Barclays já pediu autorização para o Banco Central para ter uma corretora de ações no país, cujo responsável será Ricardo Lanfranchi, ex-Merrill Lynch, um dos talentos que o Barclays atraiu no início do ano. Outro nome conhecido no mercado que o banco contratou foi Marcelo Salomon, ex-Unibanco, que hoje é diretor do Barclays Capital e seu economista-chefe. A área de pesquisa de mercado de capitais para América Latina também foi montada neste ano, inicialmente com a contratação de Roberto Attuch Jr., o responsável pela área, que já montou parte de seu time na instituição financeira.
A atuação em commodities e derivativos vai continuar firme e forte, diz Lima. O banco pretende também oferecer crédito externo para grandes fusões – foi um dos principais a financiar a compra da Anheuser-Busch, dona da marca Budweiser, pela InBev, em 2008, entrando com US$ 6 bilhões do crédito total. E não descarta passar a atuar no mercado interno de renda fixa para corporações e também na securitização de recebíveis à brasileira, os fundos de investimento em direitos creditórios.
Lima Neto está no Barclays desde 2001. Seu avô foi o escritor, jornalista e pensador Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde. Há 36 anos no Brasil, o Barclays atuou a maior parte do tempo em sociedade, por meio do BCN Barclays. Comprou 100% do capital do banco brasileiro em 2001, mas, com a crise argentina e a crise eleitoral brasileira, em 2002, acompanhou o movimento da maioria dos bancos estrangeiros e enxugou atividades. Desde 2006, sua expansão não para.