Sara Schaefer Muñoz e David Enrich
The Wall Street Journal, de Londres
Botín afirma que banco trabalha com subsidiárias autônomas em captação de recursos e capital, mas bilhões de euros têm sido transferidos nos últimos anos.
O Banco Santander SA afirma frequentemente que não fica circulando dinheiro entre suas subsidiárias, uma declaração com objetivo de tranquilizar investidores de que o banco espanhol não vai rastrear suas subsidiárias em busca de dinheiro numa emergência.
O banco tem “um modelo de subsidiárias que são autônomas em captação de recursos e capital”, disse o presidente do conselho, Emilio Botín, num discurso nesta cidade no mês passado. No mesmo dia, o diretor-presidente do Santander fez uma apresentação de slides que dizia: “Cada subsidiária é responsável por suas próprias necessidades de capitalização e captação de recursos… os recursos não cruzam fronteiras.”
Mas um exame do relacionamento financeiro entre o Santander e sua subsidiária britânica, Santander U.K. PLC, mostra que bilhões de euros foram transferidos entre a controladora e sua subsidiária nos últimos anos. Boa parte da atividade foi canalizada por meio de uma unidade pouco conhecida do Santander U.K., a Abbey National Treasury Services PLC.
Informes às autoridades mostram que a subsidiária britânica fornece atualmente um total de mais de 2 bilhões de libras (US$ 3,15 bilhões) em fundos para a empresa controladora em Madri. A controladora abriga o negócio do banco na Espanha, que sofreu prejuízos associados à crise econômica do país.
Também há arranjos de captação de recursos entre o banco controlador e suas subsidiárias no Brasil e nos Estados Unidos. Em 2009, depois que a subsidiária brasileira do Santander emitiu ações ao público, a controladora espanhola usou US$ 1,49 bilhão da receita para reforçar suas reservas gerais para cobrir, entre outras coisas, prejuízos com ativos espanhóis, de acordo com informes públicos.
Os montantes são pequenos para um banco como o Santander, que tem um balanço de US$ 1,23 trilhão. E também não é incomum que um banco global transfira fundos entre suas unidades, desde que os colchões de capital continuem adequados e que haja transparência.
Ainda assim, quando informados sobre as transações, alguns analistas disseram que elas aparentam contradizer as frequentes declarações do Santander sobre a independência de suas unidades. E os analistas dizem que as transações levantam questões sobre como o Santander será afetado por regulamentações propostas na Grã-Bretanha que restringirão o movimento de fundos entre empresas diferentes.
“Tem havido uma quantia significativa de livre movimento de fundos dentro do grupo Santander no passado recente”, disse Alastair Ryan, um analista do UBS AG., quando informado das transações. Como resultado desse movimento, as futuras regulamentações britânicas “seriam uma questão significativa” para o banco, disse.
A mobilidade dos fundos bancários está assumindo uma importância maior em meio à crescente crise financeira da Europa. Muitos investidores e autoridades estão ansiosos quanto à capacidade dos bancos na Espanha e outros países de captar os fundos de que precisam para financiar suas operações cotidianas. Autoridades temem que bancos possam tirar fundos de subsidiárias estrangeiras, deixando-as com dificuldades de caixa.
No Reino Unido, a Autoridade dos Serviços Financeiros (FSA na sigla em inglês) manifestaram preocupação ao Santander U.K. sobre seu relacionamento em termos de captações com a controladora, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. As autoridades querem assegurar que, se a controladora espanhola enfrentar dificuldades, não irá arrastar junto com ela a subsidiária britânica, dizem essas pessoas.
Parcialmente como resultado dessas preocupações, a autoridade reguladora britânica exigiu nos últimos 18 meses que o Santander U.K. reforce seu colchão de liquidez e ponha em ação os planos de transformar o Santander U.K. numa empresa totalmente independente, com ações em bolsa, dizem essas pessoas.
Executivos do Santander dizem que todos os bancos britânicos estão sendo forçados a aumentar seu estoque de liquidez e que as autoridades da FSA não confrontaram a empresa sobre suas atividades de captação de recursos. “Autoridades britânicas não manifestaram a nós preocupações sobre isso”, disse o diretor financeiro do banco, José Antonio Álvarez. Uma porta-foz da FSA não quis comentar.