Teste de estresse de bancos na Europa destrava crédito interbancário

Financial Times
David Oakley

Depois de uma semana tensa para os investidores, quando um dos maiores bancos da Europa admitiu estar em dificuldades para acessar os multibilionários mercados de crédito interbancário, crescem as expectativas de que a crise da dívida da zona do euro tenha atingido um ponto de inflexão.

O anúncio de que os testes de estresse dos bancos será publicado na Europa poderá bastar para reverter o nível de confiança nesses mercados, exatamente como aconteceu com os testes dos EUA – ajudados pelo apoio do programa governamental de recuperação de ativos problemáticos de US$ 700 bilhões – no ano passado.

Os empréstimos interbancários, que são vitais para a sobrevivência das instituições financeiras, à medida em que eles oferecem recursos para períodos que vão desde o “overnight” até um ano, começaram a travar no mês passado. Bancos começaram a acumular caixa em meio a crescentes preocupações em torno de risco de contrapartes, devido à exposição deles às economias mais endividadas da periferia da zona do euro.

Na sexta-feira, porém, surgiram sinais de alívio, depois que importantes indicadores caíram com base na expectativa de que os testes de estresse possam conferir aos bancos mais confiança para recomeçarem a conceder crédito uns aos outros.

O importante diferencial do índice da taxa referencial interbancária do euro (OIS), que efetivamente mede o medo no sistema bancário, se estreitou, enquanto operadores relatavam que alguns bancos estavam mais dispostos a dispor do seu caixa.

Elisabeth Afseth, analista do Evolution, diz: “O nível de confiança melhorou devido aos testes de estresse, isso é certo. Havia um perigo de que esses mercados se fechassem totalmente para bancos em alguns países, como a Espanha”.

Realmente, o BBVA, segundo maior banco da Espanha, alertou que estava tendo problemas para refinanciar dívidas, à medida que muitas instituições impuseram limites de crédito aos bancos do país nas semanas recentes – como fizeram com a Grécia – devido a apreensões sobre o seu sistema financeiro.

Apesar de a plataforma BrokerTec, da Icap, amplamente usada por bancos para levantar caixa por meio de operações de recompra de curto prazo, continuar detectando limites de crédito impostos à Espanha, o anúncio do teste de estresse elevou o nível de confiança.

O spread do OIS, que efetivamente mede o risco das contrapartes, se estreitou de 0,314% na quinta-feira para 0,309% na sexta-feira.

Esse spread, que mede a diferença entre o custo para os bancos de emprestar em euros ao longo de três meses e as taxas do overnight “livre de risco” aumentou em um terço desde o começo de maio.

Os níveis de estresse nem chegam perto dos níveis vistos após a quebra do Lehman Brothers em setembro de 2008, quando esses spreads cresceram a 1,95%, porém sua ampliação implacável alarmou os investidores.

Grande parte dos 3 mil bancos da zona do euro – e não apenas os que estão na periferia da zona do euro – estão enfrentando dificuldades para acessar os mercados de crédito interbancário. Isso poderá vir a conduzir a fusões ou quebras, à medida em que as linhas de caixa secarem.

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