Taxa Selic em baixa afetará resultados dos bancos brasileiros

Valor Econômico
Carolina Mandl e Aline Lima |

O processo de redução da taxa de juro da economia, que tende a levar a Selic a um dígito neste ano, segundo sinalizou o Banco Central (BC), afetará o resultado dos bancos brasileiros. Bradesco, Itaú Unibanco, Caixa Econômica e Santander já alertaram que não passarão incólumes pelo chamado “cenário Dilma”. A previsão dos bancos é que, com a redução da Selic, seus ganhos financeiros fiquem sob pressão ao longo deste ano.

O Bradesco já projeta uma redução dos ganhos com juros – ao menos em termos relativos. Isso ficou claro quando o banco anunciou que, embora sua carteira de crédito deva se expandir de 18% a 22% neste ano, sua margem financeira (ganho com juro) subirá menos, entre 10% e 14%.

A queda de juro afeta o balanço dos bancos principalmente pelo lado da gestão do seu caixa. Títulos com rentabilidade prefixada levam o banco a registrar um ganho em cenário de queda dos juros. Por outro lado, ativos que são remunerados pela Selic – e que, em geral, são a maior parte – perdem com a redução do juro. O mesmo impacto se dá na gestão das reservas técnicas das seguradoras dos conglomerados – o que deve afetar o Bradesco em especial.

Nas operações de crédito, a redução ou a alta do juro em si não traz impacto, desde que o banco mantenha os mesmos spreads (diferença entre custo de captação e taxa cobrada do cliente). São fatores como a concorrência entre os bancos ou a migração para modalidades de crédito mais ou menos arriscadas que tendem a ter mais efeito. É por isso que, com maiores volumes de empréstimos, os bancos podem compensar eventuais perdas no médio e longo prazos.

“Temos mais oportunidades de trabalhar o crédito e, obviamente, com taxas de juro menores, as provisões para devedores também seriam menores”, explicou Domingos Figueiredo de Abreu, vice-presidente do Bradesco.

Não é só a Selic, porém, que afetará o ganho financeiro dos bancos neste ano. De olho no risco de inadimplência, os bancos estão preferindo conceder aos clientes empréstimos em modalidades tidas como mais seguras, como o crédito imobiliário – que tem a casa como garantia – e o consignado – que é descontado diretamente do salário dos trabalhadores.

Diante disso, a questão que os analistas tentam desvendar é o que acontecerá com o lucro das instituições financeiras ao longo deste ano. “O mais determinante nos resultados serão as margens, que nós esperamos que sofrerão uma contração, uma vez que a taxa básica mais baixa tem um impacto negativo nos balanços, que possuem ativos sensíveis a juros”, escreveu em relatório a equipe de análise do Goldman Sachs.

O Itaú já sentiu o efeito do juro menor no balanço do ano passado. Os ganhos com as operações de tesouraria declinaram 9,8% do terceiro para o quarto trimestre de 2011. Durante a divulgação dos resultados do banco, Roberto Setubal, presidente do Itaú, explicou que parte do movimento se deveu à redução da Selic ao longo deste período. “Esperamos que as margens cresçam abaixo do crédito em 2012”, disse o executivo.

A Caixa Econômica Federal, que já tem um spread menor que o dos concorrentes por conta do peso do financiamento imobiliário no estoque, trabalha com um cenário de margens ainda mais apertadas. Em 2011, a diferença entre o custo de captação do banco e o juro cobrado foi de, em média, 3,27%. “Estamos nos reposicionando para um futuro [de Selic de um dígito] que está próximo”, afirma Jorge Hereda, presidente da Caixa. “Para compensar, vamos aumentar o volume de operações.”

O desempenho do spread em 2012 vai depender muito das condições de captação no mercado, segundo Hereda. No que tange às taxas de juro praticadas nos empréstimos, o banco vai seguir as orientações do governo, seu controlador – ou seja, buscar ter as menores taxas do mercado.

O resultado de intermediação financeira da Caixa em 2011 foi de R$ 14,227 milhões, 14,7% superior ao de 2010. Não só a receita de R$ 27,9 bilhões com operações de crédito subiu (42,9%) mas também o resultado de tesouraria – R$ 10,9 bilhões, crescimento de 21% na comparação com 2010. Nos dois casos, os aumentos estiveram ligados a volumes maiores de empréstimos e de caixa. Para 2012, a expectativa de Márcio Percival, vice-presidente de finanças da Caixa, é que o resultado de tesouraria fique entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões.

Em teleconferência com analistas, Carlos Galán, vice-presidente de finanças do Santander, afirmou que os spreads ficarão “resilientes” neste ano. O banco projeta para 2012 uma expansão da carteira de crédito entre 15% e 17%, enquanto a receita com operações de juro se expandirá num ritmo levemente mais baixo, entre 14% e 15%.

“No longo prazo, isso [a Selic mais baixa] é superpositivo. Se me perguntar o que prefiro, vou dizer que é juro baixo, porque o banco vai poder emprestar mais e com menor inadimplência”, disse Abreu, do Bradesco.

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