Spread no Brasil só é menor que Zimbábue, diz pesquisa com 137 países

O spread (diferença entre o que o banco paga para captar dinheiro de investidores e o que cobra de juros dos tomadores de empréstimos) no Brasil só é menor do que o do Zimbábue, de acordo com ranking elaborado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) com 137 países. O levantamento foi apresentado na quinta-feira (12) pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, quando subiu o tom contra os bancos e cobrou a redução dos juros.

Outro ranking do FMI, feito em julho de 2011 com 138 países, aponta o Brasil em posição semelhante, com spread de 31,1% ficando somente abaixo de Madagascar (38,5%). A pesquisa aponta um abismo em relação aos números dos países da América Latina: Argentina (1,4%), Chile (3,0%), Venezuela (3,5%), México (4,1%) e Colômbia (5,7%).

Clique aqui para conferir o ranking de julho de 2011.

Há muito tempo, os bancários vêm chamando a atenção da sociedade para o alto spread dos bancos. “É uma jabuticaba, só existe no Brasil”, compara o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro. “Não se justifica agora a resistência dos bancos privados para reduzir o spread e foi mesmo lamentável a pressão exercida nesta semana pela Febraban sobre o governo para baixar impostos e diminuir ainda mais depósito compulsório”, avalia.

Spread trava desenvolvimento

“Os cinco maiores bancos lucraram mais de R$ 50,7 bilhões em 2011. Nenhum outro setor ganhou tanto. É hoje uma enorme trava ao desenvolvimento econômico do país, na medida em que o sistema financeiro concentra renda, encarece o crédito e não estimula a produção e o consumo para o Brasil crescer com inclusão social”, aponta o dirigente sindical.

No recente período em que a taxa Selic caiu 2,75 pontos percentuais, de 12,50% para 9,75% ao ano, o spread médio não teve nenhuma redução. Ao contrário, subiu de 27,4% em julho de 2011 para 28,1% em fevereiro deste ano, segundo dados do Banco Central (BC).

De acordo com o BC, os componentes do spread revelam que o peso do lucro superou o da inadimplência. Enquanto o lucro cresceu de 30,9% em 2007 para 32,7% em 2010, a inadimplência passou de 28,4% para 28,7% nos mesmos períodos.

Mesmo quando existe risco zero de inadimplência, como é o caso dos juros para os bancários, os bancos cobram taxas muito elevadas. O Santander, por exemplo, possui taxas de cheque especial de 5,90% ao mês e de cartão de crédito de 8,45% ao mês para os seus funcionários, o que é um absurdo.

Além disso, o presidente da Contraf-CUT aponta que os custos administrativos, que também compõem o spread, caíram muito nos últimos anos, na medida em que os bancos ampliaram a receita de tarifas. “Há casos em que a instituição financeira paga até duas folhas de pagamento somente esses ganhos”, destaca.

“Os bancos possuem muita gordura para queimar e está na hora de sair do marketing da responsabilidade social e apresentar gestos concretos, como a redução do spread, e incentivar o desenvolvimento do país”, enfatiza Cordeiro.

Hora de baixar o spread no Brasil

Para a Contraf-CUT, a estratégia de utilizar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal para forçar a redução dos juros está correta . A tática do governo é reduzir a margem de spread, aumentar o volume de crédito e diminuir a inadimplência. Os bancos públicos tiveram um papel importante em 2009, quando estourou a crise financeira mundial. Na ocasião, eles aumentaram o volume do crédito, minimizando os efeitos perversos da crise no Brasil.

Mantega salientou que os bancos públicos “têm nível de rentabilidade alto e menor inadimplência. Não têm nenhum risco. Vão ter lucro porque vão emprestar mais”. Ele aconselhou os bancos privados a fazerem o mesmo.

Para o presidente da Contraf-CUT, “há muito espaço para que bancos públicos e privados reduzam as altas taxas de juros, como forma de oferecer contrapartidas para a sociedade, de modo a forjar condições para que o país cresça mais e de forma sustentável, com desenvolvimento, distribuição de renda e inclusão social”.

Conferência Nacional do Sistema Financeiro

A Contraf-CUT defende a realização de uma Conferência Nacional do Sistema Financeiro, nos moldes de outras conferências setoriais já realizadas pelo governo federal nos últimos anos, como saúde, educação, segurança pública e comunicação.

“Mais do que nunca, queremos discutir com a sociedade o papel dos bancos. Como concessões públicas, eles têm de prestar contas, ouvir o clamor da população e atender os interesses da nação brasileira”, conclui.

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