Valor Econômico
Fernando Travaglini, de São Paulo
Os bancos aceleraram os cortes de juros no mês de fevereiro, seguindo as reduções da Selic feitas pelo Copom do Banco Central (BC), mas ainda não repassaram para os clientes toda a queda dos custos de captação.
No mês passado, as taxas bancárias voltaram a se aproximar do patamar próximo aos níveis de setembro, anterior à crise, conforme pesquisa da Anefac. Assim, os bancos devolveram parte da elevação de cerca de 4 pontos percentuais feita entre outubro e dezembro do ano passado, por conta das incertezas geradas pelas turbulências internacionais.
No fim de outubro, no entanto, o Copom encerrou o último ciclo de alta da política monetária e a partir de janeiro deu início a uma nova distensão da Selic, que já acumula 2,5 pontos percentuais de queda.
Além disso, em relação a outubro, as taxas do mercado de juros futuros, que servem de piso para as taxas bancários, já foram reduzidas em quase 4 pontos percentuais até o fim de fevereiro. As taxas futuras indicam as expectativas dos agentes de mercado com relação ao comportamento dos juros e são usadas como base para a definição das operações de crédito de acordo com o prazo dos contratos.
O crédito bancário, portanto, ainda está acima do piso mínimo praticado no mercado futuro. Parte dessa diferença foi incorporada no spread – diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada dos clientes -, que permanece elevado.
Muitos bancos divulgaram queda de taxas para algumas linhas logo após o anúncio do Copom. Mas, segundo a corretora Link, em relatório para clientes, apesar da redução nos juros anunciadas pelos bancos, os spreads se mantêm elevados, uma vez que os bancos estão “apenas repassando” a redução do custo de captação. “A perspectiva de piora na qualidade do crédito (com aumento da inadimplência) nos próximos meses leva os bancos a manter esses níveis altos de spread”, diz o texto.
A corretora destaca ainda que os bancos estatais, especialmente a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, “vêm sofrendo maior pressão do governo para efetuar cortes maiores, o que penalizaria sua rentabilidade”.
As linhas que estão mais defasadas são as destinadas às empresas médias e pequenas, que pagam juros prefixados. Em média, entre setembro e janeiro, houve elevação de 3,8 pontos percentuais nos juros, que subiram para 43,19% ao ano. A conta garantida, por exemplo, espécie de cheque especial de que se valem as empresas em momentos de aperto, teve alta de 7,06 pontos, para 80,53% ao ano, maior patamar desde julho de 2003.
Para pessoas físicas, as reduções foram relativamente mais aceleradas, até por conta de um spread maior, que garante maior margem de manobra. A taxa média subiu 2,07 pontos, para 55,14% ao ano, entre setembro e janeiro.
Por conta disso, as financeiras avaliam que as reduções de juros já começam a chegar à ponta do crédito e devem se reverter em uma maior oferta de linhas. “Essa queda de 1,5 ponto percentual, levando a taxa Selic ao nível de setembro de 2007, vai beneficiar o consumidor, que terá crédito em maior volume e com juros menores, uma vez que as instituições financeiras já estão anunciando a queda dos juros para seu diversos produtos”, afirmou em nota Adalberto Savioli, presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).
Mas Savioli acredita que o gradualismo seja o melhor caminho para a queda da Selic. “As taxas de juros devem cair de uma forma gradual e mais moderada nas próximas reuniões, devendo chegar a um dígito no final do segundo semestre do ano.”
As taxas devem cair, mas os spreads podem continuar altos, avalia Andre Modenesi, professor do Ibmec-RJ e pesquisador do Ipea. Segundo ele, o fato de o Brasil ter uma das maiores taxas básicas do mundo é um fator determinante para os elevados níveis dos spreads.
Modenesi explica que, apesar de existirem fatores micro que explicam essa margem – como inadimplência, impostos e o compulsório -, não se pode desprezar o peso que um título público com taxas bastante altas tem na hora de se avaliar os custos de oportunidade de um banco.
Segundo ele, o banco pode decidir entre fazer uma operação de empréstimo, que é arriscada, de médio a longo prazo e que demanda estudos do credor e avaliações periódicas, ou simplesmente comprar uma LFT, mais líquida, altamente rentável e sem risco de crédito. Assim, quanto mais alta a taxa, menor a atratividade dos empréstimos bancários.
Além disso, completa, o spread é uma forma de controlar a liberação dos recursos. “O banco diz: ‘Posso emprestar, mas vou aumentar a margem’. Acho natural que spread cresça nesse período. Os bancos estão relutantes em emprestar e a forma que o banco tem para racionar é aumentar o preço, cobrar mais caro o empréstimo.”