A notícia abaixo saiu na edição desta sexta-feira do jornal Valor Econômico:
Grupo Bertin também quer abrir banco
Maria Christina Carvalho, de São Paulo
13/06/2008
Mais um frigorífico quer entrar no mercado financeiro: o grupo Bertin divulgou ao mercado nesta semana a declaração de propósito de constituição de um banco, cuja razão social será BHB S.A. Banco Múltiplo. Nos próximos dias, deverá ser encaminhado ao Banco Central o plano de negócio da instituição.
Anteriormente, iniciaram o processo de abertura de um banco a Sadia e o JBS. Por trás dessas iniciativas está a tentativa de tirar proveito do relacionamento que grandes empresas como os grupos Bertin, Sadia e JBS (Friboi) tem com cadeias extensas de fornecedores, nas áreas de laticínios e pecuária.
O crescente movimento de concentração bancária observado nos últimos anos no mercado financeiro abre espaço para iniciativas desse tipo. Como disse um experiente banqueiro, movimentos como a compra do Real pelo Santander e a provável incorporação da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil (BB) concentra poder de fogo mas também abre espaço para instituições menores e especializadas operarem. Quando há uma fusão, os limites de crédito dos clientes não são simplesmente somados e acaba havendo alguma redução de exposição.
No passado, vários grupos industriais e comerciais que tinham bancos acabaram fechando as instituições após a estabilização econômica. Em 1995, existiam pelo menos uma dezena de bancos ligados a grande grupos econômicos como o Gerdau, Iochpe, Varig e Mappin.
Naquele momento, muitas instituições existiam para se apropriar do ganho das receitas inflacionárias. Com a perda do floating e as crescentes exigências do Banco Central passou a ser desinteressante manter o banco em vários casos. Agora, o número de bancos ligados a grandes grupos industriais ou comerciais não passa de meia dúzia – excluindo naturalmente os ligados a montadoras.
Mas foram mantidas instituições que ganharam vida própria, como é o caso do Banco Votorantim, que era o 41º do mercado em 1995 e agora o nono maior. A lista atual inclui vários bancos ligados a empresas de varejo, essencialmente pela dependência das vendas da disponibilidade de financiamento. É o caso dos bancos Carrefour e Renner.
Da declaração de propósito divulgada pela Bertin, consta as informações de que o banco vai nascer com capital inicial de R$ 59 milhões e terá as carteiras comercial e de investimentos.
O BHB Banco será controlado diretamente pela Veneti (80% das ações), que reúne membros da família Bertin; e terá participação direta da Vincere Participações Ltda., que deterá o restante.
O novo banco contratou executivos bem conhecidos no mercado. Será presidido por Cristiano Queiroz Belfort, que trabalhou no Bradesco; participarão da direção, Paulo Henrique de Medeiros Arruda, que também foi do Bradesco; Marta Alves, que trabalhou no Itaú e no ING; e Walter Kuroda.
A autorização para funcionamento do banco da Sadia ainda está pendente no Banco Central. Mas já se sabe que o banco será presidido por João Ayres Rabêllo Filho, ex-presidente do Fibra. O banco será múltiplo e controlado pela Concórdia Holding Financeira. Seu objetivo é também financiar seus parceiros na cadeia produtiva, para torná-los mais competitivos. A expectativa era a de que, ao fornecer recursos para produtores rurais, transportadores e clientes, a Sadia pudesse obter ganhos de sinergia. Mas o banco da Sadia deverá oferecer crédito para clientes que não participam da cadeia produtiva da companhia.
O banco Sadia deverá ter patrimônio inicial de R$ 35 milhões e cerca de 80 funcionários. Dentro de três anos, a expectativa é ter 300 funcionários e operações de crédito no valor de R$ 1 bilhão. O controlador acredita que o banco tem um público potencial de 200 mil pessoas, entre funcionários, clientes e fornecedores.