(São Paulo) Uma bela história. Na noite do dia 16 de abril de 1923, uma reunião da qual participaram 84 bancários fundou a Associação dos Funcionários de Bancos de São Paulo. É pouco provável que eles imaginassem estar lançando a semente daquela que seria uma das maiores entidades de representação de trabalhadores da América Latina.
A primeira grande vitória veio em novembro de 1933, greve e redução da jornada de trabalho para seis horas. A Associação passou a chamar-se Sindicato dos Bancários de São Paulo. Em outra greve histórica, a de 1951, São Paulo rejeitou contraproposta inaceitável dos banqueiros. “Eu trabalhava no cambio do Banco Mercantil e todos paramos. Foram 69 dias de greve sem receber, não foi fácil. Mas era bonito, os grevistas andavam na rua com uma bandeira do Brasil arrecadando dinheiro que era contabilizado pelo Sindicato e distribuído por igual para os bancários casados”, lembra o bancário aposentado Hélio Sávio Aquino. Reajuste de 31%, concedido pela Justiça, pôs fim à paralisação.
Em 1961, a terceira paralisação nacional da categoria. A chamada “greve da dignidade” conquistou 60% de reajuste e reforçou a luta pelo fim do trabalho aos sábados, abonos semestrais e anuênio, e pela aprovação da lei que instituiu o 13º salário. “O Sindicato ficava no sétimo andar do edifício Martinelli. Vinha a chamada força pública, com cavalos e espadas, e nós ficávamos lá de cima jogando tampinhas de garrafa e rolhas para que os cavalos deslizassem. Os policiais subiram para tirar a gente de lá”, diz Arnaldo Muchon, ex-funcionário da agência paulistana do Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais. “Esta greve paralisou o sistema bancário. Primeiro a gente parava a compensação e depois todo resto vinha atrás”.
Reconstrução
O golpe militar de 1964 iniciou um período de perseguição aos movimentos sociais. O movimento sindical só voltou a se rearticular na segunda metade da década de 1970. Em 1979, uma nova direção assume o Sindicato para reconstruir o movimento.
Em 1983, nasce a Central Única dos Trabalhadores, a CUT, com ativa participação dos bancários – um ano antes, a categoria unificara sua data-base nacionalmente. A maior greve de bancários do Brasil mobilizou, em 1985, cerca de 500 mil trabalhadores.
“Eu tinha poucos meses de banco, mas fiquei impressionado com a adesão do pessoal no Banco do Brasil. Não precisava de faixa nem de diretor do Sindicato para parar, era espontâneo e improvisado. A lei primeira que a gente aprendia era que decisão de assembléia devia ser respeitada”, lembra o hoje diretor do Sindicato Ernesto Izumi.
O Sindicato também marcou presença na campanha Diretas Já, em 1984 e pela convocação da Assembléia Constituinte, em 1985. Como não poderia deixar de ser, a luta contra os desmandos do presidente Fernando Collor, já no inicio dos anos 1990, contou com o reforço dos bancários. Uma greve de sete dias neste período também conquistou os tíquetes refeição e alimentação.
Em 1993, o Sindicato ganhou nova sede, no tradicional Edifício Martinelli. No mesmo período foi inaugurada a Bangraf, Gráfica dos Bancários, uma das mais bem equipadas de São Paulo e importante ponto de apoio à luta da categoria. A Participação nos Lucros e Resultados veio em 95. A cláusula sobre igualdade de oportunidades entrou na convenção em 2001. Conquistas num contexto em que o governo FHC teimava tentar retirar direitos dos trabalhadores.
O século 21 está aí com grandes desafios para os bancários que têm muita história para contar e para viver. “O segredo é a mobilização e a parceria que nos fez grandes nesses 84 anos”, ressalta o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino.
Fonte: Cláudia Motta e Danilo Pretti Di Giorgi – Seeb SP