Cidadania: bancários contribuem para levar água ao sertão
Uma vila de mulheres e crianças, na beira da estrada, entre os municípios de Buíque e Pedra, no Agreste Pernambucano. Os homens foram trabalhar em outras freguesias para garantir o sustento de suas famílias. A água que mata a sede, e é usada para cozinhar, lavar louças e roupa, também pode matar, ou no mínimo adoecer, quem a bebe; é barrenta e contaminada, pois é colhida do que sobrou do rio mais próximo, que não resistiu à falta de chuvas. Quando o governo socorre com carros-pipa, não há onde armazenar a água potável.
Não havia. Foi nessa comunidade que o Cáritas e o Comitê Betinho da Cidadania inaugurou mais uma cisterna de placa, no último domingo, dia 10. O Sindicato dos Bancários de Pernambuco é parceiro nesta ação. É a 99ª do projeto 100 Cisternas no Centenário de Dom Hélder Câmara.
A centésima será construída em regime de mutirão, nesta terça, dia 12, na comunidade quilombola de Guaximi, no município de Cacimbinhas, em Alagoas, para celebrar o centenário de Dom Hélder. Todas as cisternas, entretanto, são batizadas com nome triplo: além de Dom Hélder Câmara, o geógrafo Josué de Castro e o sociólogo Hebert de Souza – Betinho.
Cajazeiras é o nome da comunidade pernambucana que acaba de receber a cisterna. “Como ela fica na beira da estrada, entre Buíque e Pedra, nenhum dos dois municípios assume responsabilidade sobre serviços mínimos. As casas em sua maioria são de taipa, há algumas de alvenaria. A água que bebem é saloba e contaminada. Água potável só de carro-pipa, e ele não tinham como armazenar. Então, a cisterna é fundamental para minorar o sofrimento dessas pessoas, gente muito simples, excluída dos benefícios básicos. Foi recebida como muita alegria, mesmo que tenham que se cotizar para comprar água, enquanto a chuva não vem”, relata Suzineide Rodrigues, secretária de Finanças do Sindicato.
Ela representou entidade no ato, junto com os também diretores Francisco de Assis, o Chico, e Flávio Coelho. Anteciparam o roteiro de viagem para o Sertão para fazê-lo. A acolhida se deu com a hospitalidade própria do povo simples da região: “Prepararam lanche e almoço para nós, com galinha pega no próprio quintal, servida com xerém. Foi um festa”, conta Suzineide.
É a décima primeira cisterna que o Sindicato ajuda a construir dentro do projeto. As 10 primeiras foram assentadas na comunidade de Jurema, em Arcoverde, ano passado.
O Comitê Betinho – Ação da Cidadania é formado por funcionários do antigo Banespa, e atua desde 1998. Desde então, com ajuda de parceiros diversos, ajudou a implantar 400 cisternas no Nordeste do país. “O Sindicato tem tradição em ações de solidariedade e ficamos muito felizes em poder contribuir”, reforça a presidenta Jaqueline Mello.
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A cisterna é um reservatório que armazena 16 mil litros de água das chuvas por meio de calhas colocadas nos telhados das casas. Cada uma atende a uma família com cinco pessoas por oito meses e custa R$ 1.600 a unidade.
“A água da cisterna promove o bem-estar, é potável, evita a transmissão de doenças e a mortalidade infantil, além de impedir que o sertanejo ande muitos quilômetros para, via de regra, obter água suja e contaminada dos açudes, ferindo os direitos do ser humano”, explica José Roberto Vieira Barboza, presidente do Comitê Betinho.
O papel do Comitê é repassar recursos próprios e de parceiros para as ONGs – além do Cáritas – que atuam no Nordeste do Brasil e são responsáveis pelo treinamento dos executores das cisternas, por ensinar a comunidade a manter as águas purificadas e por fazer a manutenção dos equipamentos, explica.
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Para a Cáritas Brasileira – ONG com atuação nacional há 57 anos, completados dia 12 deste mês, a parceria com o Comitê Betinho “é fundamental para mostrar que a solidariedade das pessoas de todo país precisa ser manifestada na forma de apoio às famílias que lutam por seus direitos e que são sujeitos ativos na construção do desenvolvimento desta região”, explicita o sítio da organização.
Enfatiza, também, a diferença entre ajuda humanitária e caridade, pura e simples: “Estas famílias não são meras recebedoras de doações pontuais. Elas buscam uma convivência harmoniosa com o clima e querem viver com dignidade em seu pedaço de chão, tirando da terra e do suor do trabalho o seu sustento”.