(Rio) O Seminário sobre Segurança Bancária que a Federação do RJ/ES promoveu na última terça-feira teve dois momentos distintos: pela manhã, Neide Fonseca e Carlos Cordeiro, da Contraf, destacaram o que vem sendo feito pela Confederação, detalharam a estrutura do movimento sindical para tratar do tema e informaram os procedimentos que devem ser adotados em caso de necessidade de denúncias. À tarde, a antropóloga Ana Paula Mendes de Miranda, presidente do Instituto de Segurança Pública, apresentou dados sobre roubos e furtos a bancos, clientes e caixas automáticos no estado.
Neide e Carlão foram enfáticos num ponto: o movimento sindical bancário precisa fazer acompanhamento minucioso das ocorrências de assalto, seqüestro de bancários, saidinhas e outros crimes envolvendo os bancos. Somente de posse destes dados poderemos pressionar a Fenaban a discutir o assunto e incluir cláusulas referentes à segurança na Convenção Coletiva. Este ano, como em outros, o argumento dos patrões para não negociar o tema foi que nós não temos – tampouco eles – competência técnica para tratar do assunto.
Os banqueiros entendem que a segurança bancária é da alçada da segurança pública, portanto, do Estado. Por este motivo, entendem que somente a Polícia Federal pode tratar do problema. Mas, em sua fala, Neide destacou a conceituação de cada segmento. “Segurança pública se refere aos direitos humanos fundamentais e, portanto, não abrange proteção de patrimônio. Como o patrimônio é privado, é a segurança privada que se encarrega de protegê-lo”, esclareceu a dirigente.
Destacar a diferença entre uma e outra é importante para derrubar o argumento dos patrões de que o Estado é quem deve se encarregar do problema. Ter conhecimento dos números dos assaltos, seqüestros e furtos é a forma de forçá-los a negociar, já que não poderão alegar a incompetência do Movimento Sindical diante de informações precisas. Carlão ressaltou, ainda, que, no que diz respeito aos clientes e usuários, os bancos também ficam responsáveis pelo bem estar e proteção destes cidadãos, já que o código de Defesa do Consumidor é claro em determinar que todo produto ou serviço deve ser oferecido com segurança.
Carlão mostrou aos presentes como são configuradas a Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada – CCASP e a Delegacia de Controle de Segurança Privada – Delesp. Com o conhecimento destas instituições, o movimento sindical pode saber a quem procurar caso precise denunciar irregularidades na segurança das instituições financeiras. O dirigente também esmiuçou o funcionamento da estrutura da Contraf para tratar do tema e destacou a importância da divisão de tarefas entre todas as entidades para agilizar as ações.
Fora das estatísticas
Na parte da tarde, a fala da Dra Ana Paula, do ISP, trouxe dados tranqüilizadores e outros alarmantes. As estatísticas mostram que o roubo e furto a banco vem diminuindo significativamente nos últimos anos. Já as saidinhas de banco cresceram muito neste ano – e devem ser objeto de um estudo específico do instituto nos próximos meses.
Os seqüestros-relâmpagos caíram um pouco, mas ainda preocupam. Mas o dado mais alarmante foi que o seqüestro de bancários e seus familiares por assaltantes de banco, crime que tem assustado os bancários, vem crescendo muito, mas não aparece nas estatísticas. “Este ano, somente em dois registros de roubo a banco esta situação foi claramente detalhada no Boletim de Ocorrência”, informou a Dra. Ana Paula. Ela mesma não sabia que este crime é tão comum.
A antropóloga destacou que, como o instituto trabalha com informações consolidadas de registros de ocorrência feitos nas delegacias, não há como analisar a ocorrência de crimes que não são denunciados.
Neide Fonseca destacou que este problema pode ser minimizado se o advogado do sindicato acompanhar o bancário à delegacia para o registro da ocorrência. Para isto, é preciso que a entidade seja informada rapidamente do assalto para que possa enviar dirigentes para o local a tempo de fazer o acompanhamento.
Outro problema referente à subnotificação do seqüestro de bancários é que, quando o assalto não acontece, o banco não registra ocorrência nenhuma, mesmo que tenha havido um seqüestro. Como os banqueiros se preocupam com o patrimônio e não com a vida, isto não chega a ser uma surpresa. Mas não relatar a ocorrência de um crime dificulta o combate.
Uma das soluções para diminuir este problema é acabar de vez com a prática de muitos bancos de designar um bancário para ficar com as chaves da agência. O correto é que a guarda das chaves e a abertura das unidades seja feita por empresas de segurança, nunca por funcionários, que se tornam alvos dos assaltantes.
Todas as idéias que surgiram durante o Seminário só podem ser implementadas com o empenho dos dirigentes. Mas a orientação especializada também é fundamental. Por esta razão, este evento foi apenas o primeiro de uma série que vai tratar do problema da Segurança Bancária. Ao longo de 2008, a Federação vai promover outros seminários, com a participação de representantes das polícias Federal, Civil e Militar e especialistas em segurança para ajudar a entidade e seus sindicatos filiados no enfrentamento do problema.
Relato da angústia
O Sindicato de Campos convidou um bancário que sofreu seqüestro, juntamente com dois colegas e suas famílias, para dar um depoimento durante o seminário. O relato de Jocelino, funcionário do Bradesco, sensibilizou os presentes. O crime aconteceu em 2004, mas as seqüelas emocionais do bancário e de sua família ainda não foram superadas.
Os assaltantes foram à noite até a casa de praia do trabalhador, onde estavam sua mulher, filhos e um casal de amigos, em visita. Todos foram retirados da casa, amarrados, enquanto o bancário ficou, na companhia de assaltantes, esperando amanhecer para irem até a agência.
Lá chegando, Jocelino encontrou dois colegas que também haviam sido seqüestrados e cujas famílias estavam em poder dos bandidos. O gerente da unidade, recém-transferido de outro local, obedeceu às ordens de seus superiores de não pagar o resgate. Durante todo o dia os três bancários sofreram a angústia de não saber o que aconteceria com seus familiares. O banco acionou a polícia e o assalto foi frustrado.
Com o fim da ação, os reféns foram libertados sem nenhum ferimento, mas todos ficaram muito abalados. Durante o relato, Jocelino demonstrou claramente que, três anos depois, ainda não superou o trauma. Mas as seqüelas mais graves foram sentidas pelas crianças.
Fonte: Feeb RJ/ES