Seminário internacional debate Ergonomia, Economia e Trabalho Bancário

O trabalhador não pode ser visto apenas como um organismo fisiológico. Essa foi a tônica da terceira mesa de debates do Seminário Internacional Saúde dos Bancários. O evento foi realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo,

Com o tema “Ergonomia, Economia e Trabalho Bancário”, a mesa contou com a participação do economista e ergonomista francês, professor da Université Paris 1 Atemis, François Hubault, do economista e professor da Université Paris Diderot-Paris 7, Christian Du Tertre, do engenheiro e professor de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Ouro Preto, Gilbert Cardoso Bouyer, e da psicóloga e ergonomista Júlia Issy Abrahão, professora da USP.

Hubault lembrou que hoje os bancos não estão mais restritos às atividades monetárias, oferecem também seguros e uma gama de serviços que tem tornado o trabalho bancário cada vez mais complexo. E essa complexidade resulta em sobrecarga ao bancário.

Além disso, lembrou o ergonomista, o bancário tem de lidar com o cliente. “É uma relação que joga com desafios interpessoais, de intersubjetividade, que exige uma grande doação de si mesmo, e uma demanda de escuta do outro.”

O professor ressaltou a importância dos sindicatos na luta por organizações de trabalho diferentes. “Os sindicatos têm de ser fortes na elaboração de um desenvolvimento econômico compatível com o desenvolvimento pessoal e intersubjetivo dos trabalhadores.”

O economista Christian deu Tertre ressaltou que a atividade impulsiona o indivíduo. “Ela é um meio de subjetivação, de desenvolvimento e de estar em contato com o mundo. Mas uma vez que o indivíduo se encontra em uma atividade que não lhe permite colocar suas aptidões em prática, esse indivíduo adoece.”

Somos um todo

A psicóloga e ergonomista Júlia Abrahão falou no mesmo sentido. Citou um artigo de jornal no qual as empresas reclamavam da dificuldade de encontrar profissionais capazes de prever e resolver problemas. “Isso é uma contradição porque essas mesmas empresas organizam o trabalho de tal maneira que não permitem ao trabalhador condições para que essas exigências sejam satisfeitas. Essa organização que prescreve e controla o trabalho elimina a capacidade criativa do empregado.”

O trabalho, disse, tem de ser um espaço que permita o desenvolvimento das pessoas. “Somos um todo: corpo, cabeça e coração. E funcionamos de maneira articulada. A realização de tarefas e a resolução de problemas exigem um processamento, e temos de compreender esse processo, o que ele exige, para poder transformar os ambientes de trabalho.”

O engenheiro Gilbert Bouyer ressaltou que a ergonomia tem de ser interdisciplinar para alcançar seu objeto, para compreender o trabalho e para transforma-lo. “O ataque do capital não é mais no corpo fisiológico, mas sim na subjetividade do trabalhador. Houve uma mudança na organização do trabalho, com redução de pessoal, aumento da carga do trabalho, aumento de pressão elevada pelo cumprimento de metas, e utilização de novas tecnologias que deveriam vir para ajudar, mas que servem de mecanismo de controle e vigilância. O poder é mais sutil”, disse.

Isso resulta, continuou, na vivência do sofrimento psicológico por parte dos trabalhadores. “O sujeito não pode mais ser quem é, tem de ser o que o outro deseja que ele seja, disso depende seu emprego. Por dentro, o sujeito vivencia o esgotamento psicológico. Frustração, sofrimento e medo da demissão que permeia o ambiente de trabalho.”

Alguns estudos focam no corpo biológico, nos aspectos ambientais, na ginástica laboral, na prescrição de normas, criticou. “Há livros que prescrevem posturas, gestos, tratam a mente como se fosse um computador. A ergonomia deve permitir o uso de si por si mesmo, deve permitir ao indivíduo ser ele mesmo. A análise ergonômica não pode mais se ater no aspecto físico”, concluiu.

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