As ações afirmativas para a população negra não são apoiadas no Congresso Nacional porque os negros não têm representatividade política. A afirmação é da assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Eliana Graça. Segundo ela, os parlamentares brasileiros reconhecem que existe uma falha no sistema de representação, porém acham que é algo natural para a sociedade.
“Os congressistas não concordam com nenhuma proposta de ação afirmativa para que essa população negra, que está subrepresentada, possa alcançar uma representatividade mais condizente. E não é só na questão do negro, é na questão dos indígenas e das mulheres”, disse Eliana, nesta quinta-feira (31), durante o seminário Racismo, Igualdade e Políticas Públicas, em Brasília.
Uma pesquisa da União dos Negros pela Igualdade (Unegro), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), revelou que a representação negra na nova composição do Congresso Nacional aumentou. O número de deputados que se autodeclaram negros passou de 25 (5%), em 2007, para 43 (8,5%) na atual legislatura. No Senado, a bancada continua reduzida a apenas dois senadores, Paulo Paim (PT-RS) e Magno Malta (PR-ES).
Segundo Eliana, a representação política no Brasil foi construída sobre uma sociedade diversificada, porém elitista. “Por isso, você tem um Parlamento que não reflete essa diversidade da sociedade. O perfil do Parlamento é masculino, branco, heterosexual. A maioria é empresário e tem muito poder econômico.”
A assessora afirmou ainda que a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) não teve espaço no governo. “No governo do presidente Lula, surgiu a Seppir. É uma organização que ainda não conseguiu se colocar no cenário político. Inclusive, porque não há no Parlamento uma força política que banque as políticas públicas”.
Segundo o professor do Departamento de Ciência Política e Estudos Africanos da Wayne State University, nos Estados Unidos, Ollie Johnson, o Brasil está caminhando para a superação das desigualdades raciais com a implementação de ações afirmativas e do sistema de cotas.
Desde ontem (30), o seminário do Inesc discute a questão do racismo e as políticas públicas para a população negra no Brasil.