Sem ter o que comemorar, negros protestam nesta segunda

(São Paulo) Para quem acha que a discriminação racial no Brasil não é um dos problemas mais graves do país, uma simples pesquisa pela internet mostra o imenso abismo que ainda separa negros e brancos em nossa sociedade.

 

Os estudos mais recentes revelam que a renda média do negro no país equivale a menos da metade do trabalhador branco: R$ 162,75 contra R$ 406,53. Se a comparação for entre a mulher negra e o homem branco, a diferença é a ainda mais gritante pois elas recebem 30% do salário deles. Ao todo, 21% das negras são trabalhadoras domésticas.

 

Mais grave ainda são quando os dados são colocados em perspectiva histórica. Os números revelam que a diferença entre negros e brancos não caiu nada nos anos 90, pelo contrário, aumentou o abismo. O total de brasileiros que viviam abaixo da linha de pobreza recuou em 5 milhões de 1992 a 2001. Entre negros, houve aumento de 500 mil.

 

A diferença de rendimentos gera novas perspectivas negativas. O risco de morte para negros é 87% maior do que para brancos, por exemplo. Os jovens negros morrem duas vezes mais de homicídio do que os brancos. Também são mortos em número bem maior pela polícia.


Outro problema é em relação ao acesso à saúde pública. As jovens negras morrem 32% a mais do que as brancas por problemas no parto ou complicações da gravidez.

Nem quando os negros conseguem algum tipo de ascensão social estão livres da discriminação. Mesmo com condições financeiras, eles são praticamente expulsos dos bairros mais nobres. Pelo menos em sete capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Salvador e Porto Alegre) os distritos com menor proporção de pobres são também os que têm menor percentual de negros. Isto revela que apesar de terem condições de morar em um distrito de classe media alta, optam por viver em áreas onde o padrão de renda é inferior.

 

Os dados acima foram coletados em estudos e pesquisas da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, Observatório Social e do Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2005 — Racismo, pobreza e violência.

 

Dia Consciência Negra

Diante deste cenário de discriminação, racismo e preconceito, o Dia da Consciência Negra – celebrado nesta segunda-feira, dia 20 – será marcado por protestos e manifestações em todo o Brasil. A data, que lembra a morte de Zumbi dos Palmares, já é feriado em 224 cidades do Brasil.

 

“Há exatos 311 anos, o Estado brasileiro destruía a primeira e única possibilidade de uma sociedade socialista que já tivemos por aqui. Era Palmares. Para as elites dominantes da época, um lugar onde todos e todas eram livres, tudo que se produzia era repartido igualmente; negros, índios e brancos pobres viviam pacificamente. O único inimigo era a sociedade escravocrata”, conta Neide Fonseca, diretora da Contraf-CUT e presidenta do Inspir (Instituto Sindical Interamericano de Igualdade Racial).

Há 35 anos, no dia 20 de novembro de 1971, os movimentos sociais do Brasil começaram a celebrar a data como o símbolo da resistência negra. As manifestações visavam mudar o referencial da liberdade dos negros escravizados. “Com muita luta, conseguimos enterrar o 13 de maio. Tivesse o Brasil, ao invés, de destruído Palmares, seguido seu modelo de organização política e social, hoje com certeza teríamos outra realidade”, comenta.

 

Neide destaca que a discriminação racial no Brasil também é reproduzida nos bancos. “O número de negros que ocupam cargos de chefia nos bancos é praticamente nulo. A possibilidade de um negro ou uma negra fazer carreira nos bancos é muito menor que a dos brancos”.

 

Segundo ela, as desigualdades, principalmente a racial, se perpetuam no tempo, como uma marca indelével que envergonha quem anseia por um Brasil melhor.  “O movimento sindical deve fazer deste mês da Consciência Negra um mês de reflexão e debates sobre o significado da nossa atuação. É impossível não pensar estratégias para mudar a vida de metade da população que está excluída”.

 

Fonte: Contraf-CUT

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram