Sem a mídia, não haveria o golpe de 64, diz escritor Juremir aos bancários

Ele foi palestrante na 16ª Conferência Estadual, em Porto Alegre.

O autor do best-seller “Getúlio”, o jornalista e escritor Juremir Machado da Silva, participou no último sábado (31) da 16ª Conferência Estadual dos Bancários, no Hotel Embaixador, em Porto Alegre, onde fez uma palestra e destacou a sua nova obra “1964 – Golpe Midiático-Civil-Militar”. Ele prendeu a atenção dos participantes contando situações curiosas sobre a participação da imprensa.

Juremir afirmou que o golpe não teria ocorrido sem os meios de comunicação. “Todas as rádios, jornais como a Folha, O Globo, Tribuna da Imprensa, Estado de Minas e Diários Associados, e a (incipiente) TV contribuíram ativa e apaixonadamente para o golpe”, disse Juremir, que também é autor de é autor de “Vozes de Legalidade” e “Jango – A vida e a morte no exílio”.

Para o historiador, a mídia preparou todas as condições e a fundamentação para o golpe. Ele afirmou que não vê muita diferença no comportamento da mídia dos dias de hoje. “Na época a imprensa dizia que a corrupção era generalizada e atacava o presidente Jango por supostos defeitos pessoais para desqualificá-lo, como bêbado, semianalfabeto e manco. Tudo era culpa da perna esquerda defeituosa do presidente”.

Mídia golpista e reacionária

O colunista do jornal Correio do Povo considera que a imprensa na época era “golpista, conservadora, reacionária e contra qualquer reforma”. Ele leu trechos de editoriais publicados em grandes jornais, todos a favor do golpe. “Uns se arrependeram logo em seguida, outros levaram 40 anos para se arrependerem e alguns ainda não se arrependeram”, observou.

O escritor gaúcho salientou que o papel civil do golpe foi protagonizado pelos empresários e governadores como Magalhães Pinto, Carlos Lacerda, Adhemar de Barros e Ildo Meneghetti.

Ele fez questão de assinalar o processo conspiratório midiático, que, no seu entender, não se restringiu aos patrões ou às empresas donas dos veículos, mas inclusive de “jornalistas, que ainda estão por aí”. Citou a propósito dois editoriais do antigo jornal Correio da Manhã, intitulados “Basta!” e “Fora!” como decisivos na desqualificação do presidente constitucional João Goulart.

O palestrante lembrou que muitos intelectuais consagrados e respeitados também apoiaram o golpe, dando declarações e enaltecendo o governo dos militares. “Vários desses intelectuais atuaram apaixonadamente em defesa do golpe. Muitos chafurdaram na lama do golpe”. Ele citou vários editoriais da época onde os jornais demonstravam todo seu entusiasmo com a ditadura, como o Globo, que dizia: “vive a nação dias gloriosos para salvar a democracia”.

Abordando a evolução dos levantamentos militares para golpes brandos e de quarta geração, que vem abalando governos populares como os da Argentina e da Venezuela, de certa forma dispensando a atuação dos quarteis, Juremir alerta que “a mídia continua golpista e atuando em associação com parceiros de outros países, na sua perspectiva de combater os regimes de centro-esquerda”.

Ele ressaltou, porém, que agora, com o advento da internet e as mídias alternativas, além da lei da mídia argentina, as sociedades começam a ter pluralidade e a ver o contraditório.

Origens do golpe

Juremir apontou o papel decisivo dos EUA, que financiaram o golpe através do que ele chama de “o primeiro mensalão do país”. Em 1962, deputados em oposição ao governo Jango foram financiados pelos norte-americanos.

“O relator da CPI, deputado Rubens Paiva, que investigou o esquema, foi assassinado porque revelou esse financiamento. É a prova de que a organização do golpe começou naquele ano”, apontou.

O escritor rebateu a avaliação da Folha de que não houve ditadura e sim um ditabranda, citando números dos milhares de presos, torturados, cassados, perseguidos e mortos no período de repressão. Ele salientou ainda que aquele momento foi recheado de corrupção de toda ordem.

Curiosidade histórica

Juremir voltou ainda na história do Brasil até agosto de 1954 para relatar detalhes do famoso atentado da Rua Tonelero, no Rio de Janeiro, contra o jornalista e político Carlos Lacerda e que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas. Ele qualificou a operação como esdrúxula por suas inúmeras trapalhadas.

“O contratado para assassinar Lacerda era um pistoleiro amador, inexperiente, ruim de pontaria e daltônico. Então não podia dar certo, foi uma sequência de trapalhadas digna de romance ficcional”, disse salientando que nos seus livros não cria personagens, pois os da vida real são muito mais interessantes.

Entrevista

O escritor também concedeu recentemente uma entrevista ao blog Café na Política, pelo Skype, entre Brasília e Porto Alegre, a Francisco das Chagas Leite Filho, onde ele revela que sem a mídia não teria havido o golpe.

Clique aqui para ver o vídeo.

A entrevista revive diversas manifestações no país pela passagem dos 50 anos do golpe, juntamente com os 60 anos do suicídio de Getúlio Vargas, e os 10 anos da morte de Leonel Brizola.

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