A crise de dimensão global instalada a partir de 2008 nos países capitalistas avançados terminou por rebaixar a capacidade de crescimento do conjunto das economias no mundo. E, com isso, as consequências sociais não deixaram de se manifestar, como o aprofundamento das desigualdades entre pobres e ricos, pobreza, desemprego e redução da qualidade de vida, inclusive da classe média.
O mundo se prepara para algo inédito. Segundo estimativas existentes, possivelmente o conjunto de pessoas que compreendem o 1% mais rico do mundo deverá deter mais riqueza que a soma dos 99% da população do planeta.
Se comparar os períodos anterior (2000-2008) e posterior (2009-2014) à crise de dimensão global de 2008, percebe-se claramente como houve queda importante no patamar de expansão das economias no mundo. No período pré-crise, por exemplo, a economia mundial crescia 4,1% como média anual, ao passo que no período posterior à crise reduziu para 2,9% ao ano, em média. Com isso, a taxa média de crescimento no período após o ano de 2008 passou a ser cerca de 70% do que vinha registrando até a crise.
Nos países ricos, o retrocesso no ritmo de expansão apresenta-se ainda mais evidente. A partir de 2009, o ritmo médio de expansão anual do conjunto de países representados pelos Estados Unidos, Japão e da União Europeia passou a ser de apenas 38% do observado na fase anterior à crise de dimensão global.
A situação mais grave ocorre no conjunto dos países constitutivos da chamada zona do euro, que em 2014 ainda não conseguiu retornar ao nível da produção estabelecido em 2008. Os Estados Unidos, por exemplo, registram crescimento médio anual de menos da metade do apresentado até 2008, enquanto o Japão apontou para apenas 33% do que se contabilizou no período anterior à crise.
Mesmo nos países que constituem os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), houve também influência negativa da crise de dimensão global. Antes de 2008, o crescimento médio anual era de quase 8%, ao passou que decaiu para quase 5% a partir de 2009. Isto é, 60% da taxa de expansão verificada no pré-crise.
O melhor desempenho dos Brics entre os períodos considerados ocorreu na Índia, que registra após 2009 o crescimento médio anual equivalente a 89% da taxa de expansão da produção verificada até o ano de 2008. Na sequência, constata-se o caso da China, com variação média anual de 8,6% entre 2009 e 2004 ante 10,4% registrada no período de 2000 – 2008. Ou seja, 17% menor na fase pós 2008 do que o período imediatamente anterior.
O pior desempenho desde o ano de 2009 foi verificado na Rússia, que apresenta ritmo de crescimento médio anual de somente 16% do verificado entre 2000 e 2008. Na sequência da Rússia, observa-se a África do Sul, cujo crescimento médio anual foi 60% inferior desde 2009 se comparado ao estabelecido entre os anos de 2000 e 2008.
Por fim, a situação brasileira, que se apresenta numa posição intermediária à Índia e China e à Rússia e África do Sul. Entre os anos de 2009 e 2014, o Brasil registra taxa de expansão média anual do Produto Interno Bruto (PIB) equivalente a 59% do verificado no período pré-crise de dimensão global.
Isso, considerando que em 2014, a variação do PIB tenha sido de 0,1%, o que significaria taxa média anual de expansão econômica de 2,2% desde 2009. Entre os anos de 2000 e 2008, a taxa média anual de crescimento foi de 3,7%.
Diante disso, percebe-se que nos seis anos após a instauração da crise de dimensão global, em 2008, a economia do mundo segue fragilizada, com baixo potencial de crescimento e piora nos indicadores sociais. Para países considerados “baleia”, que possuem extenso território e grande população, como no caso do Brasil, a defesa do mercado interno se transforma no principal ativo, capaz de permitir maior grau de autonomia para a ativação e sustentação do ritmo de expansão econômica com menores consequências sociais.
Márcio Pochmann é economista e presidente da Fundação Perseu Abramo.