São Paulo – “Ainda não existia computador, eu usava máquina de escrever e já sentia as dores nos dedos, no punho e depois ela foi se alastrando por todo o braço. Demorou para eu procurar um médico. Quando fui, ninguém sabia exatamente o que era. Em 1997, casos como o meu começaram a aumentar, os médicos passaram a solicitar exames mais detalhados e aí fiquei sabendo que o que eu tinha era LER/Dort.”
O depoimento é de uma funcionária do Unibanco, afastada por doenças contraídas em anos de trabalho por esforço repetitivo, agravadas por desvio e acúmulo de funções. A bancária se encaixa nos números absurdos revelados todos os anos pela Previdência Social. 28 de fevereiro, sábado, é reservado para lembrar de vítimas do descaso dos patrões, e da falta de prevenção: Dia Internacional de Prevenção às Lesões por Esforços Repetitivos (LER).
Dor e descaso – Por volta das 9h da manhã da quinta-feira, 26, dia chuvoso em São Paulo, a bancária Maria Aparecida (nome fictício) saiu de casa para ir até uma agência do INSS. Às 19h30, enquanto concedeu entrevista ao Sindicato, ainda estava na rua, sem almoço, em uma verdadeira via sacra atrás de seus direitos, desprezados pelo banco onde trabalhou por mais de 15 anos. “O banco quer causar esse cansaço. É proposital, só pode ser. O Sindicato me apóia para eu saber quais são meus direitos. E eu, luto pela justiça”, diz revoltada a bancária.
O último anuário estatístico da Previdência Social divulgado aponta que somente em 2007 foram 653.090 acidentes de trabalho ocorridos no Brasil. Destes, 232.364 registrados em São Paulo. As LER/Dort´s aumentaram de 9 mil casos em 2006 para 22 mil em 2007. “Estamos falando de uma questão social. Não é admissível que instituições financeiras lucrem tanto a cada ano e ao mesmo tempo não ofereçam contrapartidas aos trabalhadores, deixando funcionários adoecerem sem assumir a responsabilidade da falta de programas de prevenção à saúde”, diz o secretário de Saúde do Sindicato, Walcir Previtale.
Pesadelo documentado – O sofrimento da categoria bancária com LER/Dort foi documentado no vídeo denúncia produzido pelo Sindicato em parceria com a Pulso Filmes. A produção fala do sofrimento e também da prevenção, para que trabalhadores não passem pelos mesmos problemas enfrentados por quem já adoeceu e teve sua vida transformada em um verdadeiro terror. Veja o trailer do vídeo pelo link – http://www.spbancarios.com.br/videogaleria.asp?ID=Trailer_Video_Saúde.wmv.
Este também é o recado do secretário de Saúde e da bancária entrevistada. Que os trabalhadores procurem um médico quando sentirem as primeiras dores. “Não existe assédio moral, medo de chefia ou qualquer outra coisa que deva intimidar o bancário a se preocupar com sua própria saúde”, diz Walcir.
“Os funcionários mais novos ficam sempre com medo de procurar o Sindicato. Não há porque ter medo. Quando eles não estiverem em condições de digitar, de exercer suas atividades, não são os banqueiros que se preocuparão com eles. E é aí que o pesadelo começa. Não podemos desistir”, completa Maria Aparecida.