(Brasília) O Sindicato dos Bancários de Brasília está completando 45 anos. É uma história de lutas e de vitórias, mas também de reveses e de resistência contra o arbítrio e contra os inimigos de classe — como tem sido a história dos trabalhadores em todo o mundo.
O Sindicato foi fundado oficialmente no dia 23 de novembro de 1961, apenas um ano e meio após a inauguração da nova Capital Federal. Era um período de grande efervescência política e social, no Brasil e no mundo. A Guerra Fria entre as duas superportências (Estados Unidos e União Soviética) tornava-se cada vez mais incandescente e espraiava-se pela América Latina. Sete meses antes, em abril, a CIA havia organizado a invasão da Baía dos Porcos em Cuba, rechaçada pelas forças do regime revolucionário recém-instalado em Havana.
O Brasil vivia uma crise política após a renúncia do presidente Jânio Quadros, em agosto daquele ano, enquanto o movimento sindical e os movimentos populares se fortaleciam em todo o país. Na campanha salarial de 1961, os bancários de Brasília — que não tinham ainda um sindicato, mas uma Associação — aderiram à greve nacional da categoria, que conquistou 60% de reajuste e o 13º salário. Entrou para a história como a “greve da dignidade”.
E aqui é importante fazer um parênteses para homenagear os dirigentes que organizaram aquela campanha e os bancários que chegavam a Brasília de todos os cantos do país, fundaram a Associação e logo em seguida o Sindicato. Ninguém merece mais essa homenagem do que Adelino Cassis, um dos fundadores e primeiro presidente da entidade.
Nos dois anos seguintes, sob o comando de Adelino Cassis o Sindicato de Brasília participa ativamente de novas campanhas nacionais da categoria, conquistando direitos como o fim do trabalho aos sábados, abonos semestrais nos salários e o anuênio.
Mas chegam março de 1964 e o golpe militar, submergindo o Brasil numa longa noite de trevas. Acabam-se as liberdades e instalam-se o arbítrio e a truculência. Os sindicatos sofrem intervenção, os partidos são proscritos e as lideranças de esquerda são perseguidas, presas, torturadas e mortas. Adelino Cassis e seus companheiros são destituídos, presos e demitidos. Mas mesmo enfrentando dificuldades financeiras, resistem com coragem e lucidez durante os anos de chumbo.
O movimento sindical volta a se rearticular apenas na segunda metade da década de 70. Foi a organização dos trabalhadores que jogou um papel fundamental para a abertura política e o fim da ditadura militar. Primeiro os metalúrgicos do ABC, com as greves históricas a partir de 1978, depois os bancários e uma a uma todas as categorias profissionais.
Os bancários de Brasília retomam o Sindicato e participam ativamente de todos os movimentos pela democratização do país: pela anistia aos cassados, perseguidos e exilados; por eleições diretas para presidente; por uma nova Constituinte. Essa nova organização dos trabalhadores, combativa e de classe, resulta na construção da Central Única dos Trabalhadores, a maior central sindical da América Latina.
Em 1985 os bancários fazem a primeira greve nacional pós-64, talvez a maior da história da categoria, e conquistam reposição de perdas salariais. No ano seguinte, os empregados da Caixa fazem uma paralisação nacional, são reconhecidos como bancários e conquistam a jornada de 6 horas. O Sindicato de Brasília desempenha papel importante nesses avanços. Com sucessivas paralisações, os bancários voltam a obter novas conquistas e se transformam na primeira categoria do país com data-base e unidade nacionais.
O movimento sindical trava uma dura luta de resistência na década de 90 contra as políticas neoliberais impostas primeiro por Collor e aprofundadas pelos dois governos FHC. Abertura comercial desenfreada, privatizações, desregulamentação selvagem dos direitos sociais, trabalhistas e sindicais. Os bancários dos bancos públicos ficam sete anos sem reajuste e os postos de trabalho são reduzidos drasticamente.
Mas os trabalhadores resistem e exercem papel fundamental, seja nos movimentos sindical e social seja nos partidos políticos, para derrotar o neoliberalismo. Os bancários e os trabalhadores brasileiros entram no século 21, já sob um governo popular e democrático que ajudaram a eleger, retomando a ofensiva e a luta por novas conquistas.
O Sindicato comemora os 45 anos ao final da terceira campanha salarial consecutiva em que conquistamos aumento real de salário e novos direitos.
Foi assim, com muita luta e determinação, que os bancários de Brasília construíram um dos mais importantes sindicatos do país. Com essa mesma combatividade e consciência de classe, com certeza continuará sendo um instrumento fundamental para novas conquistas da categoria no futuro.
Fonte: Seeb Brasília