Luis Nassif
Jornalista
Implantado no início dos anos 2000 , o sistema de metas inflacionárias – adotado pelo Banco Central – fez parte do aparato institucional global destinado a colocar a política econômica sob controle estrito do mercado.
O modelo funciona assim:
BC e mercado trabalham em torno de um mesmo modelo econômico de previsão da inflação.
Nesse modelo, o fator expectativa é dominante. Define-se uma meta de inflação. Se o mercado acha que a inflação futura pode subir, a resposta do BC é aumentar a taxa básica de juros da economia. Com isso, interfere em todo o sistema de taxas, derrubando a demanda agregada e o emprego, até que as expectativas convirjam para a meta.
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O sistema despertou críticas em muitos países, por subordinar a política monetária exclusivamente às metas de inflação, deixando de lado outras preocupações, com emprego, crescimento etc. E deixando de lado ferramentas clássicas de controle da demanda, como compulsório (percentual dos depósitos bancários em poder do BC) e atuações diretas sobre o crédito.
No caso brasileiro, as distorções foram muito piores. Tem-se um mercado de opiniões cartelizado – dominado por poucas consultorias e departamentos econômicos atuando em dobradinha com a imprensa financeira – que passaram a deter um controle absurdo sobre as expectativas..
Durante anos de juros, a inflação poderia aumentar, não pelo efeito inócuo da Selic, mas devido ao terrorismo exarado por essa aliança. Criou-se uma resistência enorme a qualquer queda de juros.
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A partir de 2011, o BC e o Ministério da Fazenda resolveram encarar o desafio de desarmar a armadilha dos juros altos.
Esse desafio deu-se em algumas frentes. A primeira foi o fim do mito da elevação automática da Selic a qualquer soluço da inflação. Em agosto de 2011, contra a opinião maciça do mercado o BC reduziu a Selic. Mesmo assim, a inflação caiu nos meses seguintes.
A segunda foi o uso dos bancos públicos para derrubar os spreads bancários e instituir a competição.
Até agora, o jogo foi vitorioso. As taxas cederam, criou-se uma competição efetiva no mercado de crédito ao consumidor e, a queda nas taxas chegou até o mercado de longo prazo dos financiamentos habitacionais, graças ao recurso da portabilidade – a possibilidade do cliente trocar de banco levando seu financiamento.
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Ao lado de Sérgio Werlang, o atual presidente do BC Alexandre Tombini foi um dos pais da implantação do sistema de “metas inflacionarias” – um trabalho de fôlego na época, antes de se entender as contraindicações.
Talvez tenha sido esse sentimento que enfrentasse o mercado em 2011, mas sem ter tido a coragem de desarmar a armadilha das metas inflacionárias.
Teve uma vitória retumbante mas não desarmou a armadilha das metas inflacionárias.
Agora tem-se a inflação sendo pressionado por um conjunto de fatores com pouca relação com excesso de demanda. Mas o terrorismo do mercado, as seguidas insinuações sobre a suposta falta de independência do BC e falta de vontade de enfrentar as pressões inflacionarias aparentemente balançaram Tombini.
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Se elevar a Selic o BC terá piscado. Haverá uma sinalização geral para o sistema bancário deixar de lado a disputa pela baixa dos juros e spread.
Nem em dois mandatos o governo Dilma conseguirá repetir a articulação que garantiu queda de juros e spread.