Aconteceu nesta terça (19) reunião da Comissão de Organização dos Empregados dos Itaú da Contraf/CUT (COE Itaú) para discutir a saúde e condições de trabalho do bancário, com a participação da médica do trabalho e pesquisadora da Fundacentro, Maria Maeno, e do secretário de Saúde da Contraf/CUT, Plínio Pavão. Em destaque as conseqüências do afastamento em razão de doenças ocupacionais, o processo de reabilitação e as condições estabelecidas por INSS e banco para o retorno do trabalhador.
Os debates começaram com a apresenta de Maria Maeno, que explicou que o trabalhador bancário lesionado precisa adaptar-se a um novo convívio, tanto na esfera familiar, quanto a social próxima. Da mesma forma, os membros da família também precisam se adaptar a essas condições e que ocorra uma conquista e manutenção da solidariedade. Também ocorrem mudanças na esfera social próxima em virtude da doença, que gera um isolamento dos colegas do trabalho e amigos de um modo geral. No meio ambiente Maeno cita o caso dos adoecidos por LER/Dort que enfrentam dificuldades de locomoção, nos ônibus etc. “São cuidados de responsabilidade da área de saúde. A antecipação da doença não permite que o trabalhador esteja preparado, como naturalmente ocorre com o envelhecimento”, enfatiza a médica.
Quanto à reabilitação profissional com vínculo empregatício, Maeno considera necessário levar em consideração a necessidade de um trabalho real e compatível, a re-qualificação do trabalhador, o acolhimento e respeito às condições do bancário, e a possibilidade de manter o tratamento e o vínculo.
No caso da re-qualificação, a pesquisadora considera importante a busca de parcerias com entidades como Senac e Sesi, o que, segundo ela, não tem sido feito pela previdência.
A pesquisador lembra que muitos adoecidos não conseguem manter o tratamento e param pelo meio do caminho porque não há abertura do banco em horários adequados para realizá-lo, tornando impossível o acompanhamento de psicoterapeutra, acupuntura etc. Além disso, ela ressalta a importância de que a manutenção do vínculo não seja restrita a um ano de estabilidade após o retorno. “O adoecido fica temeroso com o retorno, sabe que depois da estabilidade será demitido e o mercado não acolhe um trabalhador que apresente limitações físicas ou mentais”, ilustra Maeno.
Outro problema é enfrentado com a reabilitação do trabalhador, que só leva em consideração a doença e não o meio que o adoecido está inserido. “Uma tentativa foi o programa Reabilita, que tem a intenção de fazer parcerias com a empresa. Porém, neste caso, a responsabilidade integral é delegada à empresa. O INSS como entidade regulamentadora deveria verificar se está dentro das normas, mas se desincumbe da função da reabilitação”, complementa.
Legitimação
Plínio Pavão, secretário de saúde da Contraf/CUT, defende que o problema do programa Reabilita é que o banco interfere no afastamento do trabalhador e o convênio que o banco possui com o INSS legitima as barbaridades feitas pelas instituições. “Há o direito legitimado pelo INSS de que seja feita uma avaliação sobre as condições de saúde do trabalho. Com isto envia-se uma carta ao INSS solicitando a alta”, enfatiza Plínio.
Plínio também defende uma nova concepção do termo readaptação e que a reabilitação profissional não seja exclusividade da Previdência. “A readaptação pressupõe uma revisão da organização do trabalho no ambiente e não nas pessoas”, afirma. Ele complementa afirmando que a responsabilidade na reabilitação é responsabilidade do Estado, mas não exclusiva. “A proposta apresentada à Fenaban demonstra que a empresa também tem essa responsabilidade. Receber o reabilitado e apresentar uma nova condição do local de trabalho são responsabilidades da empresa, com o devido acompanhamento do INSS”, concluiu.
Na parte da tarde, os membros da COE Itaú assistiram a uma apresentação de Adma Gomes, dirigente do Sindicato dos Bancários do ABC, sobre o programa de gestão do banco chamado Cultura de Performance. Os bancários debateram o tema e definiram alguns encaminhamentos.
Os dirigentes decidiram intensificar o combate ao Cultura de Performance, considerado prejudicial aos bancários. “Ele aumenta o ritmo de trabalho, expõe os bancários a situações constrangedoras, como no caso do ‘sombra’ – funcionário que observa e anota as ações do outro”, explica Adma. Nesse sentido, foi definido um indicativo para que os sindicatos façam matéria sobre pontos do Cultura de Performance em seus veículos de comunicação.