São Paulo: há 30 anos, uma vitória que ajudou a mudar o sindicalismo e o Brasil

No final dos anos de 1970, a ditadura militar não conseguia mais segurar a luta pela liberdade que tomava conta do Brasil. As greves que explodiam principalmente no ABC paulista criavam um novo sindicalismo, que lutava pela redemocratização do país e contra a estrutura sindical autoritária imposta pela ditadura. Foi neste contexto que os bancários de São Paulo fizeram história há exatos 30 anos, quando, em 2 de fevereiro de 1979, um grupo de jovens funcionários dos bancos – entre eles Augusto Campos, Luiz Gushiken, Gilmar Carneiro e João Vaccari Neto, que assumiriam a presidência do Sindicato posteriormente – conseguiu o que parecia impossível: vencer uma eleição que recolocou o Sindicato na luta pelos direitos da categoria e por uma sociedade mais justa e democrática. A posse foi no dia 12 de março daquele ano.

A eleição acabou sendo um marco na história dos trabalhadores brasileiros e foi fundamental, por exemplo, para a criação da Central Única dos Trabalhadores, a CUT, quatro anos mais tarde. As muitas vitórias conquistadas pela categoria de lá para cá não apagam aquele difícil começo, por conta da forte repressão dos militares e da falta de estrutura de mobilização do Sindicato, que contava apenas com uma máquina offset pequena para rodar boletins e um megafone.

Nesses trinta anos, o Sindicato cresceu e se estruturou. Criou subsedes regionais que se espalharam pela cidade e aproximaram ainda mais a entidade dos bancários. A pequena e arcaica máquina offset deu lugar a uma das mais modernas e importantes gráficas do país, a Bangraf. Já em seu primeiro mandato, o número de sindicalizados saltou de 26 mil, em 1979, para 46 mil em 1981. Os bancários também ganharam um centro de formação que investe na educação dos profissionais. Além disso, a partir de 79, o Sindicato passou a atuar mais voltado para a sociedade, investindo em políticas públicas que favorecem todo o Brasil.

Repressão e recessão – “Não havia liberdade nenhuma, a repressão era extremamente violenta”, lembra o diretor do Sindicato à época, Gilmar Carneiro, que foi preso por quinze vezes e alvo de dossiês com mais de mil páginas no Arquivo Nacional e na Delegacia Especializada de Ordem Política e Social de São Paulo, a Deops. “A falta de liberdade era grave, mas nem acho que seja o maior dos problemas. O país passava por uma grave crise econômica, havia um forte arrocho salarial, o desemprego era alto e a inflação descontrolada. Essa combinação era pior que a falta de liberdade e dos direitos humanos do ponto de vista da mobilização. A economia era o maior empecilho”, conta.

Mas a conjuntura política era extremamente favorável, afirma Deli Soares que, em 79, trabalhava no Banco do Brasil. “A categoria estava repleta de pessoas que também integravam o movimento estudantil e que queria uma direção que enfrentasse a ditadura e os banqueiros, que brigasse pela anistia, pela volta das eleições diretas”, diz.

O início e a consolidação – A primeira greve comandada pela nova diretoria, em 1979, consolidou a nova proposta de sindicalismo, mas também acirrou as perseguições por parte do governo, resultando no afastamento de quatro dirigentes e no enquadramento de outros dezesseis na Lei de Greve e um na Lei de Segurança Nacional. O novo sindicalismo pautava a luta da categoria por melhores salários e condições dignas de trabalho, aliada ao movimento constante de reivindicações gerais da sociedade: anistia, eleições diretas, constituinte. Um ano antes, em 1978, os bancários já haviam encampado uma greve, que permitiu a vitória nas eleições da entidade. Essas duas greves serviram de aprendizado para consolidar uma organização no local de trabalho que permitiu a histórica greve nacional de 1985 – movimento de massa que foi resgatado na greve da categoria do ano passado.

A relação com os bancos – “A ditadura estimula as pessoas a serem grosseiras. E os bancos, aliados do Estado e dos militares, endureciam nas relações com os bancários e com o Sindicato. O Itaú contratava espiões profissionais para infiltrá-los em nossas reuniões. O banco chegou a contratar funcionários da polícia de repressão portuguesa. O Bradesco fazia o que queria com as leis. Era muito complicado, mas o fato de os bancários serem uma grande categoria, mais de 1 milhão na época, a mobilização era mais fácil. Hoje temos 600 mil bancários a menos, 600 mil empregos que foram precarizados pelos bancos”, comenta Gilmar.

Muita coisa mudou, outras nem tanto – Para Gilmar, muita coisa mudou de lá para cá. Outras nem tanto. “Por exemplo, em 1979 formamos uma comissão para pedir o apoio do presidente do Senado. Quem era? José Sarney, que também era presidente da Arena, o partido da ditadura. Engraçado como muita coisa não muda. Mas as próprias pessoas mudam, hoje o Sarney transita tranqüilamente pela esquerda.

Outras pessoas, como o atual vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman, foram para a direita. Ele lutou lado a lado com os bancários na época, inclusive o comitê eleitoral da nossa chapa de oposição ficava no prédio de propriedade dele”, conta.

A vitória da oposição nas eleições que ocorreram entre 29 de janeiro e 2 de fevereiro de 1979 e as primeiras greves que os bancários encamparam em plena ditadura militar foram os embriões que formaram o que o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região é hoje, uma das maiores e mais fortes entidades representativas dos trabalhadores do mundo. Todas as conquistas que a categoria garantiu nas últimas décadas só foram possíveis graças à luta daqueles que, em plena ditadura, decidiram desafiar os militares e construir um novo país.

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