Valor Econômico
Fernando Travaglini, de São Paulo
O Santander aproveitou a folga nos índices de capitalização, depois da bilionária oferta de ações feita no ano passado, e resolveu antecipar o resgate de um CDB de R$ 1,507 bilhão. O fato inusitado é que o credor desse título é a própria matriz espanhola, que havia colocado o dinheiro na filial brasileira em março do ano passado, em meio à crise.
Segundo nota oficial, o objetivo da instituição é “melhorar a estrutura de passivos”. Na época do IPO já se especulava sobre a possibilidade de o banco reduzir parte de sua dívida subordinada, proporcionalmente superior a seus concorrentes diretos. Mas muita gente também se perguntava se a matriz espanhola não estaria aproveitando as melhores condições do mercado brasileiro para fazer uma captação mais barata por aqui do que conseguiria fazer na Europa.
O certificado de depósito bancário em questão consta como dívida subordinada, por conta do prazo de 10 anos do papel. Dessa forma, integra o chamado capital de referência, para efeito de cálculo do índice de alavancagem. “O efeito imediato é a redução da capacidade de empréstimo do banco, mas como ele está muito capitalizado depois do IPO, o impacto será muito pequeno”, avalia Pérsio Nogueira Junior, analista de bancos da Planner Corretora.
Depois de captar R$ 13,2 bilhões com a oferta de ações, em agosto, o índice de Basileia do banco deve ter fechado o ano em patamar entre 22% e 24%, distante do mínimo exigido pelo Banco Central, que é de 11%. Com o resgate do CDB, o índice deve sofrer uma queda pequena, entre 0,5 e 1 ponto percentual, mantendo-se acima de 20%.
“Era um dinheiro que o Santander teria até certa dificuldade em rentabilizar por aqui, pelo excesso de capital, mas que pode ser alocado de maneira mais eficiente em outras unidades”, completa Nogueira. Segundo dados do balanço, o CDB paga uma taxa de juros de 13,9% ano.
No início deste mês a matriz realizou operação semelhante na Espanha, ao anunciar a recompra de ? 4,8 bilhões em dívida subordinada como forma de “reforçar o balanço”. No dia 22, foram fechadas as compras de ? 693,3 milhões de bônus subordinado do Abbey National e ? 141,8 milhões do Santander Central Hispano Issuances Limites. A matriz também anunciou no fim do ano que está em processo de constituição de reservas para cobrir a alta da inadimplência, que atingiu 3,03% no terceiro trimestre, saindo de 1,71% um ano antes.
A notícia foi bem recebida pelo mercado. Em dia de Bovespa em queda de 1,05%, as “units” do Santander fecharam em forte alta de 3,23%. Os grandes bancos derraparam ao longo do dia, seguindo o mercado externo, mas Bradesco e Itaú fecharam o dia em alta de 0,5% e 0,25%, respectivamente, enquanto Banco do Brasil perdeu 2,7%. Os médios terminaram o pregão com desvalorização entre 0,4% e 4,2%.
Procurado, o Santander disse que não poderia comentar a operação pois está no período de silêncio que antecede a divulgação do balanço, no dia 4 de fevereiro. A transação foi autorizada pelo Banco Central no início do ano.