Santander deve obter R$ 15,5 bi com oferta pública de ações

O Estado de São Paulo
Leandro Modé

O período de reserva para o investidor participar da oferta pública de ações do banco Santander terminou ontem com a certeza, entre analistas de mercado, de que o preço do papel ficará perto do nível máximo estabelecido no prospecto da operação, de R$ 25. O otimismo com o negócio é tamanho que ajudou a explicar mais um dia de valorização do Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) e do real ante o dólar.

O dólar caiu 0,96% por causa – entre outros fatores – da expectativa de que investidores estrangeiros serão os principais compradores das ações do Santander. A moeda americana fechou a R$ 1,761, menor cotação desde 8 de setembro de 2008. Um analista lembrou que, na abertura de capital (IPO) da empresa de tecnologia Tivit, na semana retrasada, os estrangeiros compraram cerca de 80% dos papéis oferecidos.

O Ibovespa subiu 1,96% e fechou acima de 62 mil pontos pela primeira vez desde 1º de julho do ano passado.

Se o valor de R$ 25 for confirmado, a oferta total do Santander ficará acima de R$ 15,5 bilhões. Será a maior da história do Brasil e a maior do mundo em 2009, batendo os US$ 7,34 bilhões (R$ 13,1 bilhões) do China State Construction Corp. Segundo o prospecto, o banco divulgará hoje o valor do papel.

Um analista explicou que os R$ 25 tomam por base a cotação dos papéis do Santander na BM&FBovespa. Ontem, tanto a ação ordinária (ON) quanto a preferencial (PN) valiam R$ 0,24. O título oferecido pelo banco na oferta pública é chamado de unit. Cada unit é composta por 55 ações ON e 50 ações PN. Multiplicando-se R$ 0,24 por 105 papéis (55 ONs e 50 PNs) chega-se a R$ 25,20.

“A demanda está muito forte. Tem até propaganda na TV da operação”, disse um especialista. Outro analista observou que o interesse é tamanho que deve levar o Santander a vender também um lote suplementar. Outra provável consequência é a adoção de rateio, que ocorre quando a procura é intensa.

No caso do Santander, as pessoas físicas podiam reservar no mínimo R$ 3 mil e no máximo R$ 300 mil. Como não deve haver units suficientes para todos, é provável que seja estabelecido um teto.

Quando a BM&F abriu o capital (antes da fusão com a Bovespa), as pessoas físicas podiam reservar entre R$ 5 mil e R$ 300 mil. Como a procura foi expressiva, determinou-se um valor único de R$ 1.820.

Apesar do otimismo, um analista chama a atenção para alguns riscos da operação. Em primeiro lugar, ele afirma que o Santander tem tido um desempenho inferior ao de seus principais concorrentes brasileiros, Itaú Unibanco, Banco do Brasil e Bradesco. “No entanto, a unit a R$ 25 implica um valor relativo maior que os três bancos brasileiros”, explicou. “O que o Santander tem de melhor que os brasileiros que justifique um preço mais elevado?”, indagou.

Segundo ele, a relação preço/lucro (usada para medir o valor relativo de uma ação) do Santander (levando-se em conta as units a R$ 25) é de 20. Ou seja, são necessários 20 anos de lucro para pagar o investimento no papel. No Itaú Unibanco e no Bradesco, esse múltiplo estaria ao redor de 16 e no BB, em 11.

O analista de instituições financeiras da Lopes Filho, João Augusto Frota Salles, concorda com o colega quanto ao fato de o Santander, hoje, apresentar números inferiores aos da concorrência.

“Hoje, o Santander tem uma inadimplência maior que a dos concorrentes e um custo operacional maior, porque ainda está digerindo o Banco Real. Mas, daqui a pouco, ele vai se igualar aos pares”, disse. “Além disso, o banco quer fazer uma mudança estatutária que definirá que os dividendos aos acionistas devem chegar a 50% do lucro. No Bradesco, são 30%, no Itaú Unibanco e no BB, 25%.” Ele escreveu um relatório recomendando a compra das units.

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