Em negociação ocorrida com o Santander nesta terça-feira, dia 23, em São Paulo, a Contraf-CUT, os sindicatos e as federações cobraram um modelo de Programa de Participação nos Resultados (PPR) com pagamento linear para todos os trabalhadores, a ser negociado com as entidades sindicais. Os representantes do banco espanhol propuseram um programa global para o Santander Brasil e garantiram o processo negocial, o que é um avanço, na medida que o PPR do Real era discutido desde 2001 por um comissão nomeada pelo banco, sem a participação do movimento sindical. Não houve discussão de valores.
Os dirigentes sindicais defenderam também que o novo formato não vincule o valor do PPR ao índice de satisfação de clientes, usado até hoje pelo Santander, mas fora da governabilidade dos bancários. “Precisamos de uma forma de valorizar a satisfação dos funcionários, a fim de melhorar o clima organizacional e diminuir a resistência da sociedade brasileira em relação ao banco. Não adianta gastar fortunas em marketing, se os trabalhadores não são felizes no Santander”, afirmou a coordenadora da mesa de negociações, a diretora do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Rita Berlofa.
“Queremos construir um novo formato que resulte num valor que dê satisfação aos funcionários, ao contrário do que aconteceu com valor de R$ 700 do PPR do Santander em 2008 e do recente adicional de PLR de R$ 500. Os trabalhadores merecem muito mais”, destacou o coordenador da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander, Mário Raia.
Os bancários pediram ainda não-desconto dos programas próprios de remuneração variável do Real na PLR, a exemplo do que já vem ocorrendo no Santander. Os dirigentes sindicais salientaram que, em relação à renda variável, o banco deveria buscar um novo modelo, a partir da experiência do Real, com programas coletivos, e que sejam menos agressivos na cobrança de metas, pois trazem melhores resultados.
As entidades sindicais e o banco ficaram de analisar as premissas e os conceitos discutidos, ficando de aprofundar o debate para depois retomar as negociações.
Novo HolandaPrevi é retrocesso
Os bancários reivindicaram o cancelamento imediato do novo plano de previdência complementar do HolandaPrevi, implantado no último dia 1º de junho, sem qualquer negociação com as entidades sindicais. “Se, por um lado, o novo HolandaPrevi garante contribuições da patrocinadora para os chamados sem-prev, o que é positivo, por outro lado traz a redução unilateral das contribuições do banco para os cerca de 32 mil participantes do plano antigo do HolandaPrevi, o que é inaceitável”, apontou o coordenador da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Real, Marcelo Gonçalves.
“A implantação desse novo plano é um retrocesso nas relações sindicais, contrariando a orientação do presidente mundial do Santander, Emílio Botín, durante a assembléia dos acionistas, ocorrida na última sexta-feira, dia 19, na Espanha”, disse Rita, que participou do evento na condição de acionista minoritária e usou o microfone para defender a suspensão do novo HolandaPrevi, dentre outras questões. Na ocasião, Botín respondeu que “a relação com os sindicatos se baseia no diálogo e compromisso”. Mas no Brasil não é isso que ocorre. “Nem sempre os compromissos são respeitados”, destacou Rita.
Os dirigentes sindicais voltaram a pedir cópias dos documentos das últimas eleições no HolandaPrevi, que os funcionários desconhecem, mas o banco garante que ocorreram, ficando novamente de enviar o material solicitado anteriormente. “O Santander publicou na página 101 da cartilha que parte dos membros do Conselho Deliberativo e do Conselho Fiscal é de representantes eleitos pelos próprios participantes, mas ninguém ficou sabendo dessas eleições”, salientou o secretário de imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr.
O diretor da Contraf-CUT, Camilo Fernandes, reivindicou a contribuição da patrocinadora para os participantes do plano IV do Banesprev, hoje o 7º maior fundo de pensão do País e com patrimônio acima de R$ 9 bilhões, bem como aos participantes do Sanprev. O banco ficou de analisar o pedido e adiantou que vai instalar o grupo de trabalho do Banesprev, conforme solicitação feita pelas entidades sindicais.
Novos planos de saúde
As entidades sindicais também solicitaram cópia dos planos de assistência médica e odontológica, mas o banco negou, alegando questões legais. “Nós somos contribuintes e a legislação dos planos de saúde nos garante o acesso aos nossos direitos”, defendeu o diretor do Sindicato dos Bancários do ABC, Orlando Puccetti.
Os bancários pediram ainda informações sobre as mudanças nos convênios. O banco ficou de agendar uma apresentação dos novos planos de saúde para os dirigentes sindicais, em data a ser marcada.
Novo Plano de Cargos e Salários
Os dirigentes sindicais voltaram a cobrar esclarecimentos acerca do novo plano de cargos e salários, também implantado sem qualquer processo de negociação. O banco se comprometeu a agendar uma apresentação, em data a ser definida.
Adesões ao pijama e abono indenizatório
O banco atendeu a solicitação das entidades sindicais e apresentou um balanço das adesões aos programas de incentivo à aposentadoria, previstos nos aditivos do Santander e Real à Convenção Coletiva de Trabalho 2008/2009. Segundo os dados do banco, houve 974 pedidos atendidos à licença remunerada pré-aposentadoria (pijama) e ao abono indenizatório, sendo 79% no Santander e 21% no Real.
Desse total, 70% são adesões ao pijama, dos quais 84% no Santander e 16% no Real, e 30% se referem ao abono, sendo 67% no Santander e 33% no Real. Existe ainda a previsão de cerca de 300 novos pedidos ao pijama até o final de março de 2010. O banco revelou que o público-alvo era de 1.340 funcionários, mas houve funcionários que perderam os prazos.
As entidades sindicais reivindicaram a reabertura do prazo de adesões ao pijama, uma vez que o programa era desconhecido no Real e havia até empregados que duvidaram das suas condições, na medida em que é o único banco privado que até hoje firmou esse tipo de acordo no Brasil. O Santander ficou de avaliar a proposta.
Centro de Recoloção Profissional
O banco também apresentou os números do programa Venha Trabalhar na Rede, outra iniciativa negociada pelas entidades sindicais que visa abrir vagas e evitar demissões. Segundo os dados do banco, 510 funcionários se inscreveram com 480 movimentações, dos quais 57% eram provenientes do Real e 43% do Santander.
Os dirigentes sindicais solicitaram a continuidade das inscrições. “Há enorme carência de funcionários na rede de agências, com sobrecarga de trabalho, prejudicando o atendimento aos clientes. Não é à toa que o Santander é quase sempre um dos primeiros no ranking de reclamações do Banco Central”, disse Ademir. O banco ficou de analisar a reivindicação.
Férias vendidas nos últimos cinco anos
Diante da possibilidade de restituição da Receita Federal do imposto de renda retido sobre a venda dos dez dias de férias nos últimos cinco anos, através de declarações retificadoras, as entidades sindicais reiteraram o pedido de fornecimento de informações para cada funcionário. O banco ficou de verificar a possibilidade de disponibilizar os meses de férias nesse período no portal da intranet para cada funcionário.
Seguro de vida em grupo
Os dirigentes sindicais questionaram o Santander por que os funcionários oriundos do Banespa não são elegíveis ao novo segurao de vida em grupo. O banco também ficou de verificar.
Problemas na Aymoré Financeira
Ao final, os dirigentes sindicais denunciaram as péssimas condições de trabalho na Aymoré Financeira, em todo o País. “Falta pagamento de horas extras, não há vale-alimentação nem remuneração para trabalho no fim de semana, existem salários desiguais para a mesma função, metas abusivas, dentre outras irregularidades”, frisou Marcelo. “O funcionário, que antes usava o carro da empresa, agora precisa comprar um veículo para trabalhar, caso contrário é ameaçado de demissão”, acrescentou. O banco ficou de verificar os problemas.
Os dirigentes sindicais reivindicaram ainda a extensão do adicional da PLR de R$ 500, conforme demanda dos trabalhadores. O banco, porém, não aceitou, justificando que essa conquista não se aplica aos financiários que possuem outra convenção coletiva.