Em editorial publicado nesta quinta-feira (15), o jornal “O Estado de S. Paulo” afirma que salário alto causa desemprego. Para chegar a essa conclusão, o jornal recorre a dados captados por recente pesquisa do IBGE que apontam que a indústria brasileira, desde agosto do ano passado, cortou o nível de emprego em 1,2%. E como a indústria alega, de maneira cândida, que fez isso para conter o avanço da massa salarial, o Estadão conclui que salário alto provoca desemprego.
Na entrevista, a seguir, o presidente da CUT ironiza o raciocínio do jornal, critica a posição da indústria e, a sério, coloca a questão em perspectiva histórica.
Além disso, comenta também as propostas de desoneração da folha e a notícia de que os bancos públicos serão mais agressivos para derrubar o spread bancário.
Artur, em editorial, o jornal Estado de S. Paulo afirma que salário alto causa desemprego. O que você acha?
Artur: Que absurdo, né? (risos). Quer dizer então que se o trabalhador tiver mais dinheiro para comprar produtos industrializados e a indústria vender mais, terá de demitir? A verdade é: salário baixo causa crise internacional no capitalismo. Nos Estados Unidos, por exemplo, um ciclo de rebaixamento constante de salários e combate às atividades sindicais, iniciado nos anos Reagan, levou com o tempo os trabalhadores a enfrentar o empobrecimento através da falsa promessa de crédito abundante e deu no que deu. Aliás, o próprio Estadão, há alguns meses, publicou um texto de um economista estadunidense que detalha esse fenômeno.
(Artur refere-se a artigo do professor Robert B. Reich, ex-secretário do Trabalho entre 1993 e 1997, que o Estadão reproduziu em setembro do ano passado).
É lamentável que o setor industrial brasileiro endosse uma tese absurda dessas, de que salário provoca desemprego.
Outra notícia em evidência hoje diz respeito a intenção do governo de estudar a ampliação das desonerações sobre a folha. O que a CUT pensa disso?
Há um ano, quando o governo Dilma apresentou o chamado programa Brasil Maior, e nele incorporou a proposta de passar a cobrar, para alguns setores, a contribuição previdenciária sobre o faturamento, e não mais sobreo número de trabalhadores contratados, a CUT disse claramente que era preciso criar um grupo de trabalho que monitorasse mensalmente os resultados da medida.
É preciso checar, na ponta do lápis, se a Previdência ganharia ou perderia recursos com isso. Se perdesse, quantos reais o Tesouro teria de desembolsar para cobrir a lacuna. Do jeito que é hoje, esses números são um segredo guardado a sete chaves, indecifrável até mesmo para o mais hábil economista ou contador.
Até agora, o governo federal, que havia dito concordar com nossa demanda, nada fez a respeito.
Outra coisa. É preciso também haver o monitoramento de quantos novos empregos foram criados, ou não, a partir da mudança. Sim, porque o eterno motivo alegado para a desoneração é a geração de mais empregos.
Se, por outro lado, a mudança for sendo implementada do modo como está acontecendo agora, vamos saber só lá adiante se deu certo ou não.
O governo está dizendo que vai colocar os bancos públicos, Caixa e Banco do Brasil, especialmente, para forçar a queda no spread bancário e puxar os bancos públicos na mesma direção. Isso é bom?
É um bom começo. E reflete, em parte, imagino, a pressão que a CUT e suas entidades do ramo financeiro têm feito sobre o governo e os bancos nesse sentido. Repito que precisamos convocar uma Conferência Nacional do Sistema Financeiro para debater a fundo o papel dos bancos nesse país. Todo mundo dá sua cota de sacrifício para o crescimento do País, menos os bancos