(São Paulo) Os agravos crescentes à saúde dos bancários fez com que o tema estivesse presente em praticamente todas as mesas do 7º Congresso da FETEC/CUT-SP, realizado entre os dias 23 e 25 de novembro, em Nazaré Paulista (SP).
Com a participação de 208 delegados, o evento reforçou a defesa da saúde como prioridade da gestão que ora principia, durante a qual a FETEC SP deverá reunir esforços no sentido de conscientizar o trabalhador de que saúde não tem preço e, principalmente, de pressionar o setor patronal a realizar mudanças nos ambientes de trabalho, cujas condições são as grandes responsáveis pelo elevado índice de adoecimento, sobretudo de casos de LER/Dort e de distúrbios mentais.
“Os problemas nos locais de trabalho no setor financeiro vão muito além de mobiliário inadequado. As causas para os adoecimentos são o desrespeito constante da jornada, ritmo intenso e as inúmeras formas de violência organizacional”, explica a diretora de Saúde da FETEC SP, Crislaine Bertazzi.
De acordo com a exposição da especialista em psicologia do trabalho da UFPR, Lis Andréa P. Soboll, durante o 7º Congresso da FETEC SP, a violência organizacional engloba as pressões exageradas para cumprimento de metas, supervisão constante e rígida sobre os subordinados, uso de estratégias de exposição constrangedora de resultados e comparação entre membros do mesmo grupo, competitividade para além da ética, avaliação de desempenho somente pelos resultados e não pelos processos, ameaça de demissão constante, humilhações direcionadas para o grupo de trabalhadores diante de resultados abaixo do esperado, entre outras.
Segundo a psicóloga, o assédio moral é uma forma extrema de violência psicológica no ambiente de trabalho, cuja prática persiste no tempo e com o intuito de provocar a exclusão do indivíduo. Em outras palavras, são esses os elementos – repetitividade e intencionalidade – o que diferenciam o assédio moral das agressões psicológicas e dos conflitos nas relações interpessoais.
“O assédio moral não é um fenômeno novo, mas as novas configurações do trabalho decorrentes das políticas neoliberais, da reestruturação produtiva, da precarização do trabalho, do desemprego estrutural e novas formas de gestão de pessoas criam ambientes organizacionais propícios para a ocorrência de situações de violência psicológica no trabalho”, explica a especialista.
Na avaliação de Lis, os trabalhadores e o movimento sindical devem ter a ousadia de denunciar o assédio moral e exigir as devidas punições. “No entanto, devemos atentar também para os comportamentos de violência psicológica menores, muito mais freqüentes. Por serem percebidos como inerentes ao trabalho no capitalismo globalizado e competitivo, tornam-se invisíveis e pouco discutidos. Mas temos de ter em mente que esses comportamentos são as sementes geradoras de situações extremas de violência psicológica, como o assédio moral, além de implicarem em prejuízos à saúde do trabalhador”, alerta a psicóloga ao indicar que a prevenção contra esses males está na socialização. “Integrar a coletividade fortalece o indivíduo”, complementa.
Para a diretora de Saúde e Condições de Trabalho da FETEC SP, as explicações da especialista durante o congresso motivaram os delegados a exporem suas dúvidas sobre se estão ou não tendo a conduta correta na condução dos problemas. "Podemos perceber que a violência organizacional tem uma dimensão muito maior. Esse subsídio irá contribuir com o GT recém-instalado na Fenaban, bem como no dia-a-dia dos sindicatos", avalia Bertazzi.
Fonte: Lucimar Cruz Beraldo – Fetec SP