Mais de uma tonelada de explosivos foi parar nas mãos de criminosos em 2010, segundo levantamento realizado pelo Exército a pedido do G1.
Conforme o relatório, no total, 1,06 tonelada de emulsão de nitrato de amônia e de dinamite foi roubada ou furtada de pedreiras e obras em sete estados brasileiros no ano passado, e não foi recuperada. São estes explosivos, segundo delegados da Polícia Civil, que estão sendo usados para explodir caixas eletrônicos em todo o país.
A quantidade de emulsão e dinamite levada pelos criminosos em 2010 é 170% maior do que a de 2009, quando foram furtados ou roubados 392 quilos, segundo o Exército. Os dados, segundo o Centro de Comunicação Social da instituição, são da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados, órgão subordinado ao Comando de Logística do Exército Brasileiro.
Conforme o relatório do Exército, além da tonelada de emulsão e dinamite, outros 11,7 quilômetros de cordel detonante também foram furtados em 2010, além de 568 espoletas ou detonadores. Para se ter uma ideia do que representa a quantidade de explosivos em poder dos criminosos, para implodir em 2002 o prédio que abrigava a penitenciária do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo, o governo divulgou ter usado 250 quilos de emulsão.
As maiores quantidades foram furtadas nos estados de Rio Grande do Sul (373 kg de emulsão) e Alagoas (300 kg). O levantamento não inclui as duas toneladas de emulsão roubadas em uma rodovia da capital paulista em setembro do ano passado, pois a carga foi recuperada pela polícia.
O delegado Antônio Barros, gestor do Departamento de Repressão a Crimes Patrimoniais de Pernambuco, e que investiga a série de ataques a caixas eletrônicos no estado, qualifica o uso de explosivos para arrombar caixas eletrônicos como “uma nova modalidade criminosa que vem se instalando pelo país, principalmente no Nordeste”.
Desde o início do ano, já foram 14 casos em Pernambuco, segundo ele. A Polícia Civil de Alagoas computou outros 15 casos. Na Paraíba, foram mais dez. Na região de Campinas, no interior de São Paulo, a Polícia Civil investiga pelo menos seis casos em várias cidades. Rio Grande do Norte, Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul também registraram ataques a caixas eletrônicos com explosivos em 2010.
“Estes explosivos são roubados normalmente de pedreiras ou obras em estradas. Alguns criminosos usam os explosivos sem terem conhecimento e acabam destruindo as agências. Outros pesquisam na internet e vão testando a quantidade até acertar”, afirmou o delegado ao G1.
“É um crime que está estourando em todo o Brasil. Recebi um relatório do Banco do Brasil em que consta que foram registrados 52 arrombamentos de caixas eletrônicos por todo o país com o uso de explosivos em 2010. Em 2009, foram apenas três ocorrências”, disse ele. Nos três primeiros meses de 2011, só no Nordeste, já foram mais de 40 casos.
Em Pernambuco, a polícia prendeu neste mês quatro suspeitos dos assaltos escondidos em um sítio de Limoeiro, onde também foi localizada uma carga de explosivos. A Polícia Federal diz ter detido na semana passada o suspeito de comandar a série de ataques em Alagoas e Pernambuco: José de Arimatéia Rodrigues de Lima, conhecido como Ari Soldado, de 29 anos, é apontado como o chefe da quadrilha.
Segundo a PF, ele era responsável por aliciar funcionários de pedreiras, de onde os explosivos eram desviados ou roubados, e também fixar as cargas detonadoras nos caixas eletrônicos.
A PF informou que Lima serviu por um ano no Exército, onde teria aprendido com colegas a manusear explosivos com perícia. “Pela numeração e a marca dos explosivos apreendidos junto aos caixas eletrônicos explodidos, o Exército consegue rastrear a procedência”, afirmou Barros. Isso porque, no Brasil, é responsabilidade do Exército controlar a armazenagem e o transporte de explosivos.
“Estamos em contato com o Exército e as polícias dos estados para combater este tipo de crime, que tem causado aos bancos muitas preocupações. São ações agressivas em que muitas vezes os bandidos nem conseguem levar o dinheiro, mas destroem o caixa eletrônico e toda a estrutura em volta, que tem que ser reconstruída pelo banco”, diz Pedro Oscar Viotto, diretor de segurança da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
“Estes assaltos com explosivos começaram a ocorrer muito no Nordeste do país desde o final do ano passado, em que as quadrilhas agem fortemente armadas, principalmente em cidades pequenas. São ações que só se combatem com melhoria na segurança pública”, acrescentou Viotto.
Explosão até de cofre de banco
No Rio Grande do Sul, ao invés de explodir os caixas eletrônicos, os criminosos costumam detonar o próprio cofre dos bancos, segundo o delegado Juliano Ferreira, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
“Em 2010 tivemos 12 casos com uso de explosivos para roubo de banco, mas apenas em quatro os ladrões conseguiram levar o dinheiro, porque nem sempre acertam a quantidade de emulsão que deve ser colocada, às vezes colocam a mais, outras menos que o necessário”, afirma Ferreira.
“Aqui, os ataques são realizados por ladrões de banco que resolveram se especializar no uso de explosivos. Alguns tinham conhecimentos militares de manejo de explosivos. As cargas são desviadas de muitas pedreiras da região serrana do Rio Grande do Sul, que é uma área montanhosa, e até mesmo usadas depois por quadrilhas em outros estados”, diz o delegado.
Ex-comandante do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), Diógenes Viegas Dalle Lucca explica que, para ser realizada a explosão, além da emulsão, são necessários outros componentes. “Só o pessoal especializado sabe a quantidade certa de emulsão que deve ser colocada, mas muitos principiantes vão tentando e aprendendo”, diz ele.
O Exército informou em nota que “controla as atividades com explosivos que envolvem a fabricação, importação, exportação, utilização, desembaraço alfandegário, comércio e tráfego.
Desta forma, qualquer empresa que realiza alguma destas atividades é submetida ao controle e fiscalização do Exército”. Segundo o texto, cabe ao Exército a concessão do registro e autorização do uso do material e qualquer desvio ou furto de material deve ser comunicado aos órgãos de segurança pública.
Segundo o Exército, “a empresa, devidamente registrada e autorizada, que possuir este tipo de material é responsável pela sua fiscalização e guarda”.