Assis Moreira
Valor Econômico | De Genebra
A zona do euro continuará em recessão na primeira parte de 2013 e provavelmente só sairá dessa situação no fim do ano, pesando sobre a economia global por um bom tempo ainda.
A avaliação é do economista-chefe da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Pier Carlo Paduan, em entrevista ao Valor. A entidade projeta contração do PIB de 0,1% em 2013 na união monetária.
Certos analistas consideram, em todo caso, a OCDE otimista com sua baixa taxa na zona do euro. Alguns projetam queda de até 2% no PIB do ano que vem, notando que a fragilidade se propaga por toda a região. Após crescimento anual acima de 10% em 2010 e 2011, o setor industrial da Alemanha, motor da expansão europeia, sofre agora contração de quase 4% no ano.
Mais consensual é a previsão de que a zona do euro vai continuar sendo o maior freio da economia global em 2013 e sua mais importante fonte de riscos, com a persistente gravidade da dívida soberana de vários países, recessão e desemprego, que vai aumentar mais.
Para Paduan, da OCDE, diante da recessão europeia, a demanda global será sustentada sobretudo pelos emergentes e pelos EUA.
Nos EUA, muito depende da solução política ao “abismo fiscal” para evitar US$ 600 bilhões de alta de impostos e corte de gastos a partir de janeiro. “Se isso for evitado, podemos esperar uma aceleração no investimento privado. Além disso, o mercado imobiliário está melhorando, as famílias tendem a consumir mais, o desemprego está caindo”, afirma.
Para o economista-chefe da OCDE, um desafio é continuar a tentar sair finalmente da crise global. “Esperamos o fim da grande recessão pelo menos duas vezes, primeiro em 2009 e a segunda agora, mas tivemos recuperação fraca. Agora, esperamos algum sinal positivo na Europa no fim de 2013, e daí a saída final da crise”, afirma.
Outro desafio, na avaliação da OCDE, é a implementação de novas regras para controlar o setor financeiro global. Persiste a necessidade de reforço de balanço dos bancos. “É preciso aumentar o capital dos bancos em vários países, sobretudo na Europa”, diz Paduan. “Nos EUA, a situação dos bancos é mais robusta”.
Paduan alerta para outro risco no médio prazo: a possibilidade de que a continuação de políticas monetárias muito expansionistas em países desenvolvidos criem possíveis bolhas especulativas nos mercados financeiro e imobiliário. O economista-chefe da OCDE nota que há muita liquidez global e “vemos que os bancos centrais dos países avançados anunciaram que vão continuar essa política porque não saíram ainda da recessão”.
Quanto aos emergentes, nota que a China terá expansão robusta, sobretudo em consequência de aumento da demanda interna. “O consumo poderá ser mais importante do que os investimentos. Há muito, talvez exagerado, investimento e um problema da China é mudar a estrutura da demanda interna sem riscos de insustentabilidade”, afirma.
No cenário da OCDE, em todo caso, as notícias são boas para o Brasil. “Se é verdade que os EUA vão crescer mais rapidamente e a China vai continuar com expansão robusta, a demanda por commodities continuará boa”, diz.
Para Paduan, quando a economia global voltar a crescer mais, os desequilíbrios globais voltarão a acelerar. Mas com uma ligeira mudança. O superávit da China será menor. Já os excedentes dos países produtores de petróleo vão ser cada vez maiores, em razão da manutenção do preço do barril, que analistas projetam em torno de US$ 110. “Aí haverá problema de distribuição de poupança, alguns com poupança exagerada e que serão canalizadas para onde?”, indaga.