Em resultado previsível, o vereador de Curitiba Renato Freitas (PT) teve seu mandato cassado nesta quarta-feira (22). Dos 38 parlamentares, 25 votaram pelo afastamento de Renato. “É um caso escandaloso de racismo, dentro de um parlamento municipal, com uma maioria elitista, corporativista e arrogante, que se sente atingida com a militância de Renato Freitas no movimento negro e que se incomoda com sua origem na periferia e sua postura afirmativa com relação à sua raça”, denunciou o secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Almir Aguiar.
Durante a tramitação do caso, na Câmara de Vereadores, Renato sofreu diversas ameaças com manifestações racistas. Enquanto o tema era tratado no conselho de ética da casa, por exemplo, ele recebeu um e-mail, atribuído ao relator do processo de cassação, vereador Sidnei Toaldo (Patriotas), que o chamava de “negrinho”, dizia que ele devia ir “de volta à senzala”, que “vamos branquear Curitiba e a região Sul, queira você ou não”, além de outras agressões.
Igreja foi contra cassação
Renato Freitas foi acusado de quebra de decoro parlamentar por ter participado de um protesto, em fevereiro, na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos homens Pretos, pelo fim da violência contra pessoas negras. Porém, a própria Arquidiocese de Curitiba enviou uma carta à Câmara, solicitando que Renato não perdesse o mandato.
A entidade religiosa disse que ele “cometeu certos excessos ao ocupar um local sagrado”, mas não interrompeu a missa. Por isso, pediu “punição proporcional aos fatos”. A carta dizia que a “manifestação contra o racismo é legítima, fundamenta-se no Evangelho e sempre encontrará o respaldo da Igreja”. A arquidiocese também declarou reconhecer “no vereador o anseio por justiça em favor daqueles que historicamente sofrem discriminação em nosso país. A causa é nobre e merece respeito”.
Renato declarou várias vezes não ter esperanças de não ser cassado, como em entrevista aos portais A Pública e Ponte. Na avaliação de Almir Aguiar, essa possibilidade era de fato remota. “O processo na Câmara foi todo de cartas marcadas, sem chances reais de defesa por parte de Renato. Não foi razoável para um parlamento, foi um insulto racista. Eles usurparam o mandato legítimo, mas não conseguirão sufocar sua militância pelos direitos da população negra, das comunidades pobres e de outros injustiçados”, disse Almir.
“Na última eleição para prefeitos e vereadores, muitos negros e negras foram eleitos, na contramão do que pensam grupos fascistas, autoritários, racistas, sexistas e homofóbicos. Vamos avançar nessa política de eleger muito mais. Mesmo em cidades conservadoras como Curitiba, a luta contra o racismo deve ser fortalecida”, completou o secretário.
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