Bancos dos Estados Unidos como o J.P. Morgan Chase e Bank of America (BofA) poderão divulgar receitas mais fracas para o primeiro trimestre, depois que os empréstimos pelo setor caíram em quase todas as categorias. Os empréstimos e arrendamentos bancários caíram US$ 87,4 bilhões, para US$ 6,97 trilhões, do fim de 2010 até 30 de março.
Os dados são do Federal Reserve (Fed), o banco central americano. Os depósitos dos bancos americanos cresceram no mesmo porcentual para US$ 7,97 trilhões, mostrando que os lares e empresas dos EUA ainda estão acumulando dinheiro, em vez de tomar empréstimos, afirmam analistas.
“O crescimento dos empréstimos tende a ser sazonalmente fraco no primeiro trimestre, mas este trimestre está se saindo pior que o que se poderia imaginar com a sazonalidade”, disseram analistas do Barclays Capital, liderados por Jason Goldberg, em um relatório publicado em 8 de abril.
Os investidores terão uma primeira impressão sobre os resultados do trimestre hoje, quando o J.P. Morgan, o segundo maior banco americano em ativos, deve divulgar o balancete do primeiro trimestre. O maior banco americano, o Bank of America, anuncia seus números nesta sexta-feira, seguido, na semana que vem, pelo Citigroup e o Wells Fargo & Co. de San Francisco, terceiro e quarto maiores bancos americanos em ativos.
Os lucros podem ter aumentado mesmo com a queda das receitas, uma vez que os bancos separaram recursos menores para cobrir perdas com empréstimos e, em alguns casos, liberaram reservas já formadas, afirma Matt Burnell, analista bancário do Wells Fargo. As reduções de custos também poderão ajudar os resultados finais, mas em menor grau, segundo Burnell.
A falta de demanda por empréstimos é apenas uma das restrições às receitas que os bancos estão enfrentando, uma vez que novas regulamentações estão limitando os negócios com carteiras próprias de títulos e as comissões obtidas com retiradas excessivas de dinheiro e cartões de débito. Este ano as ações do setor bancário estão atrás do desempenho acumulado pelo índice Standard & Poor’s 500 (alta de 5,3%), com o índice KBW Bank Index, formado por ações de 24 instituições bancárias, estagnado.
Embora as receitas com negociações de títulos tenha sido creditada pelos lucros vigorosos do ano passado, os bancos ainda dependem da receita líquida de juros, que é o dinheiro ganho com empréstimos e investimentos em títulos. Esta respondeu por 46% da receita do BofA em 2010 e 53% da receita do Wells Fargo. O número foi de 50% no J.P. Morgan e de 63% no Citigroup.
O J.P. Morgan, liderado por Jamie Dimon, 55 anos, poderá divulgar um crescimento de 41% no lucro líquido ajustado sobre o primeiro trimestre de 2010, para US$ 4,68 bilhões, segundo a estimativa média de 14 analistas consultados pela Bloomberg. A receita provavelmente caiu 9,5% para US$ 25 bilhões, segundo os analistas.
O Bank of America, comandado por Brian T. Moynihan, 51, poderá mostrar uma queda de 2,8% no lucro líquido, para US$ 3,09 bilhões, sobre uma queda de 19% da receita, para US$ 26,5 bilhões, segundo 14 analistas ouvidos pela Bloomberg. O banco disse a investidores em janeiro que a receita líquida de juros iria cair no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, e então se estabilizar “em algum momento do segundo trimestre”.
A receita poderá ter uma queda de 20% no Citigroup, liderado por Vikram Pandit, 54, e de 1,3% no Wells Fargo, comandado por John Stumpf, 57, segundo a pesquisa da Bloomberg. O lucro líquido do primeiro trimestre poderá aumentar 41%, para US$ 3,56 bilhões no Wells Fargo, e cair 36% no Citigroup, para US$ 2,84 bilhões, segundo a pesquisa da Bloomberg. Nenhum dos quatro bancos quis fazer comentários ontem.
Chris Kotowski, analista da Oppenheimer & Co., estima que os bancos que ele cobre, que incluem os quatro maiores, dirão que os empréstimos vencidos e não pagos caíram cerca de 1,5%, segundo um relatório de 24 de março.
Os pontos fracos incluem os consumidores americanos, que estão reduzindo o uso dos cartões de crédito e adquirindo menos moradias. Os financiamentos imobiliários fechados caíram para cerca de 54% do total de empréstimos bancários definidos, segundo dados do Fed.
Alguns dos maiores bancos ainda estão sendo afetados pelos balanços fracos ou não estão substituindo empréstimos por concessões novas quando eles vencem, escreveram analistas da CreditSights liderados por David Hendler, numa nota a investidores divulgada em 10 de abril. Por exemplo, o J.P; Morgan poderá reduzir sua carteira de cartões de crédito em até US$ 10 bilhões no primeiro trimestre e disse que sua carteira imobiliária residencial poderá encolher até 15% ao ano, escreveu Hendler.
Desta vez, os bancos poderão não receber tanta ajuda das receitas de banco de investimento e negociação de títulos, que segundo analistas poderão cair pelo quarto trimestre consecutivo na comparação ano a ano. Guy Moszkowski, do Bank of America, reduziu no mês passado suas estimativas de lucro para o primeiro trimestre para o Citigroup e o J.P. Morgan, além do Goldman Sachs e do Morgan Stanley, afirmando que a receita de negociação de títulos não reagiu o quanto ele esperava em relação ao fraco quarto trimestre de 2010.
Uma área forte poderá ser a de empréstimos comerciais e industriais, usados por empresas para adquirir estoques ou melhorias tecnológicas, além de suprir outras partes de seus negócios que exigem bastante capital. Os empréstimos comerciais e industriais aumentaram para US$ 1,25 trilhão na semana encerrada em 30 de março, a sétima semana de crescimento entre as nove últimas, segundo dados do Fed. O saldo médio de empréstimos do Wells Fargo avançou 1% no primeiro trimestre, alimentado pelos empréstimos comerciais e industriais, segundo prevê Jason Goldberg.
“Isso deverá continuar; o setor empresarial no geral está se saindo bem”, diz Stephen Stanley, economista-chefe da Pierpont Securities de Stamford, Connecticut, e ex-economista do Fed. A demanda não está forte porque o acúmulo de dinheiro pelas corporações americanas “limite o apetite” pelos empréstimos bancários, afirma Stanley. As corporações não financeiras baseadas nos EUA tinham US$ 1,89 trilhão em ativos líquidos no fim de dezembro, segundo o Internal Revenue Service (IRS), o fisco americano. “Esse parece ser um ponto promissor”, diz Burnell do Wells Fargo. Para tudo o mais, “você estará olhando para um crescimento negativo dos empréstimos”.