Queda da Selic ajuda, mas precisa chegar aos clientes e à sociedade

A Contraf-CUT avaliou positivamente o corte de mais 0,5% na taxa básica de juros, conforme decisão do Copom nesta quarta-feira (11), continuando a trajetória descendente da Selic, que atingiu o menor patamar da sua história (8% ao ano).

“Mas é preciso ousar e reduzir ainda mais a Selic, buscando aproximá-la dos níveis internacionais, bem como é fundamental pressionar os bancos públicos e privados a baixar de verdade as altas taxas de juros, o spread e as tarifas, a fim de estimular a economia para alavancar o crescimento e fomentar o desenvolvimento”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.

“Juros mais baixos são essenciais para ampliar o crédito, incentivar a produção e o consumo e levantar as projeções do PIB, como forma de gerar mais empregos, distribuir renda, combater a miséria e garantir inclusão social”, salienta o dirigente sindical. “A redução dos juros é também o melhor remédio para enfrentar o endividamento e a inadimplência e proteger a economia”, destaca.

O sindicalista cobra a responsabilidade social dos bancos. “O que vimos até agora é que todos os grandes bancos, apesar da queda da Selic e da pressão do governo, anunciaram pequenas reduções de juros, atingindo somente em determinadas linhas de crédito, algumas parecendo meramente perfumaria, fazendo com que a maioria dos clientes siga pagando como antes os mais altos juros e spreads do mundo. O pior é que alguns bancos aproveitaram esse cenário para aumentar ainda mais as tarifas cobradas dos clientes, sob a alegação de compensar a queda dos juros”, critica o dirigente sindical.

“Os bancos estão travando a redução de juros nas modalidades mais utilizadas pelos clientes, como o cheque especial e o cartão de crédito, pois estão focados somente no lucro fácil de curto prazo, deixando de lado a oportunidade de ganhar no volume do crédito e expandir a rede de agências e postos de serviços para incluir milhões de brasileiros que continuam sem conta corrente e sem atendimento decente, com bancários, vigilantes e sigilo protegido”, propõe Cordeiro.

O presidente da Contraf-CUT reitera também que continua faltando transparência por parte dos bancos. “As reduções de juros, que ocorrem em apenas algumas linhas de crédito, até com pacotes de tarifas e várias condicionantes impostas, excluem a grande maioria dos clientes. Além disso, cada instituição financeira usa nomenclaturas diferentes para seus produtos e serviços, dificultando comparações e a competição. Ou seja, os bancos estão enganando a população, que ainda não sentiu no bolso a redução da Selic”, alerta.

Conferência Nacional do Sistema Financeiro

Cordeiro defende que o governo e as autoridades monetárias tomem medidas mais eficazes para que o barateamento do crédito chegue de fato à produção e ao consumo. Ele também defende a participação da sociedade nessa discussão.

“O crédito é estratégico para o desenvolvimento econômico e social do país e os bancos são concessões públicas. É urgente que o governo convoque uma conferência nacional do sistema financeiro, para que seja discutido qual o papel dos bancos públicos e privados na economia e como eles deveriam atuar para atender de fato os interesses da sociedade”, sustenta.

“Temos uma enorme concentração bancária no Brasil, onde mais de 80% dos ativos e das operações de crédito estão nas mãos apenas dos cinco maiores bancos. Isso é prejudicial à economia brasileira, pois essa concentração impede a redução de fato das taxas de juros e da concorrência”, aponta o presidente da Contraf-CUT.

“Queremos que tudo isso seja discutido amplamente pela sociedade, numa conferência nacional, a exemplo das já realizadas sobre saúde, educação, segurança pública e comunicação, dentre outras. O sistema financeiro não pode continuar funcionando de costas para a sociedade brasileira”, conclui Cordeiro.

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