Caixas eletrônicos atacados em Porangaba, Paranapanema e Ribeirão Preto
Na madrugada de 12 de janeiro deste ano, criminosos munidos de explosivos aproveitaram a calmaria no Centro de Tuiuti, no interior de São Paulo, para arrombar um caixa eletrônico e levar cerca de R$ 15 mil. Ataques como esse no estado de São Paulo aumentaram 50% nos três primeiros meses em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo apuração do G1. A maior novidade é que, dessa vez, os alvos preferenciais das quadrilhas são pequenos municípios do interior.
De acordo com levantamento feito pelo G1, 77% dos casos ocorreram no interior. No caso de Tuiuti, cidade próxima a Bragança Paulista, os cerca de 5,5 mil moradores ficaram um mês sem o único posto de atendimento avançado da cidade.
Após o assalto no começo do ano, as operações financeiras, como pagamento de contas e saques, tiveram que ser realizadas em uma papelaria no Centro, que foi transformada em posto de atendimento correspondente do Bradesco.
Segundo o coronel Wagner Cesar Gomes Oliveira, coordenador operacional da Polícia Militar, houve um aumento significativo dos ataques no estado se comparado ao primeiro trimestre de 2011. Na capital, esse tipo de crime diminuiu.
O levantamento indica que dos 91 casos ocorridos de 1º de janeiro a 22 de março em todo o estado, 18 aconteceram na mesorregião metropolitana (que abrange a Grande São Paulo, o ABC e a Baixada Santista) e três no Litoral Norte (em São Sebastião). O balanço exclui casos em que ocorreram apenas tentativa de furto ou de roubo aos caixas.
Migração
Essa migração da metrópole para cidades menores ocorre porque os criminosos se sentem mais seguros em fazer ataques em municípios em que o acesso às rodovias é simples – o que facilita na hora da fuga – e onde a PM tem um contingente menor. “Assim não tem muito risco de confronto e a probabilidade de sucesso é maior”, diz o coronel Oliveira.
É o caso das cidades na região de Ribeirão Preto. Dos 14 casos de arrombamentos a caixas eletrônicos neste ano, metade foi praticada em 7 municípios em um raio de até 130 km e com média de 30 mil habitantes. “A distância e a variedade de rotas de fuga tornam essas cidades vulneráveis às ações de criminosos”, diz o delegado-seccional interino Luiz Geraldo Dias.
“Esses locais ficam 24 horas expostos, vigiados apenas por sistema eletrônico. Quando o alarme dispara, uma central de monitoramento que fica em São Paulo, ou até no Rio, é que chama a polícia. A viatura chega 10 minutos depois que os bandidos fugiram”, explica.
De acordo com o delegado, mesmo em cidades maiores como Ribeirão e Franca, com 600 mil e 318 mil habitantes, respectivamente, a ausência de equipes particulares de segurança facilita a ação dos criminosos. “Câmeras são importantes, mas falta o recurso humano. Os bancos deveriam investir nisso”.
A fragilidade dos municípios menores é comprovada pelo número de ocorrências. Taquaritinga, Terra Roxa, Pedregulho, Jaboticabal, Orlândia, Guará e Guatapará, que juntas somam 216 mil habitantes, sofreram 7 arrombamentos de caixas em 2012, de acordo com levantamento do G1. Franca, que teve 1 caso, e Ribeirão Preto concentraram as demais ocorrências.
Além de Campinas e de Ribeirão, as áreas mais críticas, de acordo com o coronel Oliveira, são as de Piracicaba e Sorocaba. Apenas na região de Campinas ocorreram 24 ataques a caixas eletrônicos neste ano, segundo levantamento feito pelo G1. Na cidade de Campinas foram sete — os demais casos foram em municípios menores do entorno.
Em Salto de Pirapora, cidade da região de Sorocaba, por exemplo, oito caixas eletrônicos foram explodidos na madrugada desta quinta (22). De acordo com a polícia, uma denúncia de furto levou os policiais até a agência, no Centro da cidade. Ao chegarem, eles foram recebidos a tiros pelos 13 criminosos, que estavam armados e encapuzados. Oito caixas ficaram danificados -três deles tiveram todo o dinheiro levado. Onze dos ladrões foram presos, segundo a polícia.
O oficial disse que a PM passou a enviar equipes da Força Tática e das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) para as cidades afetadas. Segundo ele, as ações começam a surtir efeito. “Já prendemos 36 pessoas neste ano por crimes em caixas eletrônicos e em bancos. No ano passado, no mesmo período, foram 10 presos.”
Explosivos
Além do aumento de ataques a caixas eletrônicos, cresceu o número de roubos de explosivos no estado. O SPTV teve acesso aos dados da Polícia Civil sobre esse tipo de crime, que demonstra que no último trimestre de 2011 ocorreram 20 roubos – contra 22 neste ano. Só em fevereiro aconteceram 10 casos.
O Exército fiscaliza a fabricação e a armazenagem dos explosivos, mas não controla o caminho que fazem até chegar aos compradores, como as pedreiras. “Explosivos no Brasil ninguém toma conta”, disse o coronel. Caminhões carregados de dinamite percorrem as estradas paulistas sem escolta – o que facilita a ação dos ladrões. “Nós nem sequer sabemos quando um caminhão está circulando com uma carga de explosivos.”
A Polícia Civil acredita que esse material roubado seja usado por ladrões de caixas eletrônicos e teme novos ataques. “Nós temos a ideia de fazer um documento sugerindo mudanças para todos os envolvidos: fabricantes, compradores, transportadores e os agentes do estado que têm que fiscalizar”, afirmou em entrevista ao SPTV, em 16 de março, o delegado-geral de São Paulo, Marcos Carneiro Lima. Segundo ele, além da escolta, “a questão de limitar o total de peso a ser transportado” pode facilitar o trabalho da polícia.
Segurança
Para evitar esse tipo de ação e outros crimes, as instituições financeiras investem cerca de R$ 10 bilhões em segurança por ano no Brasil, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Em nota, a federação informou que as instituições acompanham permanentemente as ocorrências com os caixas eletrônicos e acrescentou que se reúne constantemente com autoridades governamentais na busca de soluções.
“O serviço disponibilizado através de caixas eletrônicos é indispensável aos clientes em suas necessidades em face a proximidade e facilidade de uso, contribuindo para as atividades econômicas”, disse, em nota, a Febraban.