Uma viagem ao Rio de Janeiro pode se transformar em transtorno para o turista já no Aeroporto Internacional Tom Jobim, uma das principais portas de entrada do país. E não só pelas filas do check-in e a falta de elevadores e de ar-condicionado.
Quadrilhas especializadas em clonar cartões de crédito transformaram os 14 caixas-eletrônicos do aeroporto numa arapuca, com a instalação de equipamento conhecido como “chupa-cabra”. O golpe vem sendo relatado em sites especializados em turismo, principalmente por americanos. Segundo funcionários do aeroporto, gangues de clonagem de cartão atuam nesses caixas há pelo menos seis anos.
– O último “chupa-cabra” foi retirado há duas semanas. Mas eles voltam e colocam outro no mesmo lugar. Tem a gangue dos caixas do HSBC e também a do Bradesco. Eles dividiram o território – ironizou um dos seguranças do aeroporto, que pediu para não ser identificado.
Outro segurança, que trabalha há dois anos no Terminal 2, conta que, nesse período, pelo menos dez “chupa-cabras” foram recolhidos pela delegacia local.
– Os grupos são rivais e costumam jogar cola Super Bonder no teclado dos caixas dominados pela outra gangue, só para ninguém usá-los – explicou.
Os bandidos normalmente agem em grupo. Enquanto um homem bem vestido instala o “chupa-cabra” no local onde se insere o cartão, além de uma câmera acima da tela, que filma o teclado da senha, uma mulher encobre o parceiro. Não raro, ao menos outras três pessoas se espalham pelo terminal, observando a movimentação de seguranças e agentes.
A partir daí, os donos de cartões sem chip – mais comuns no exterior, onde em alguns países, como Estados Unidos e França, essa tecnologia não é tão usada – tornam-se presas fáceis e têm seus dados clonados.
– Isso aconteceu com um amigo meu há três semanas – contou o francês Norbert Panerai, que acabara de sacar em um dos caixas do Terminal 1 na semana passada. – Tentaram realizar dois saques, no Chile e nos Estados Unidos, sendo que ele já estava na França. Os bancos franceses estão com medo da Copa do Mundo por causa disso – disse.
Casos assim são relatados desde 2008 no site de turismo TripAdvisor. O último aconteceu há poucos dias.
– Fui a uma conferência no Rio e as três pessoas que estavam comigo retiraram dinheiro em um caixa do Galeão. Os três tiveram os cartões clonados. Em poucas horas, foram feitos vários saques de R$ 700, e agora estão lutando para recuperar o dinheiro – conta, no TripAdvisor, Nancy B., de Nova Jersey.
O inglês Tom Phillips, que trabalhou como correspondente do jornal “The Guardian” no Brasil até 2012, só descobriu que seu cartão havia sido clonado três semanas depois de sacar dinheiro no Galeão.
– Tive que viajar para áreas remotas da Amazônia. Retirei uma quantia e só quando voltei a Manaus percebi que grandes somas de dinheiro foram tiradas da minha conta no Ceará! Perdi umas duas mil libras – diz.
O produtor cultural Jarbas de Sousa, de 31 anos, arrependeu-se de sacar dinheiro no Galeão assim que soube dos cartões clonados:
– Deve ter alguém no aeroporto que participe desse esquema. Não é possível isso se repetir há tantos anos sem que nada tenha sido feito.
Segundo seguranças do Galeão, o número de casos subiu nos últimos meses.
– Com a privatização, diminuiu o número de seguranças. Antes, eram 37 apenas no Terminal 1. Hoje são 12 – diz um.
A Polícia Civil afirmou que uma investigação está em andamento e que, por isso, não pode fornecer estatísticas. Disse também que hoje a clonagem de cartão é o principal golpe aplicado contra visitantes no Rio. A Delegacia de Atendimento ao Turista não quis se pronunciar.