Manifestações contra desrespeitos no Santander são constantes no Rio
As dez agências do Santander em Copacabana, no Rio de Janeiro, só abriram ao meio-dia na quinta-feira, dia 17. O protesto foi contra o Projeto Verão, que envolve a contratação de terceirizados para operar os guichês de caixa e auxiliar os clientes no autoatendimento. Estes trabalhadores estão atuando na atividade-fim do banco, mas não têm os mesmos direitos dos bancários, como piso salarial, plano de saúde, cesta alimentação e outros.
Os trabalhadores que foram contratados estão tensos com o término dos contratos se aproximando. “Meu último dia está chegando e eu já estou desesperada. A partir do dia 1º de março eu estou desempregada. Não tenho nenhuma perspectiva de efetivação, eles disseram que não vão contratar ninguém por causa da integração”, relata uma temporária.
A contratação por tempo determinado está dentro da lei, mas a legislação exige que o temporário tenha os mesmos direitos do efetivo; que haja necessidade específica de substituição ou de acréscimo extraordinário de serviço; e que os temporários ocupem novos postos de trabalho, não substituindo empregados demitidos.
A paralisação contou com total apoio dos bancários e também dos clientes. “Durante a atividade, um senhor me disse que era cliente do Real há mais de trinta anos e que não estava gostando da mudança para o Santander, estava pensando em fechar sua conta. Quando explicamos a ele o motivo da paralisação, ele achou absurdo e decidiu encerrar seu relacionamento com o banco”, relata Adriano Garcia, funcionário do banco e diretor do Sindicato dos Bancários do Rio.
O projeto de terceirização não foi divulgado amplamente entre os bancários e há muitos que sequer sabem que aquele novo colega no guichê ao lado não é contratado regularmente. “A maioria das agências tem carência de pessoal e ainda há os afastamentos por problemas de saúde. Com esta situação, é normal chegar um trabalhador novo e ninguém pensa que ele é terceirizado”, avalia Adriano.
O dirigente ressalta, ainda, que a contratação de temporários que não são vinculados ao banco traz riscos à segurança das informações. “Todo bancário, quando é contratado, assina um documento em que se compromete a respeitar o sigilo bancário. Este trabalhador terceirizado não assina nada, não tem esse compromisso”, destaca o sindicalista.
Integração desastrosa
Nesta que foi a primeira atividade em agências do banco depois da integração, realizada no domingo, dia 13, os sindicalistas puderam constatar a situação caótica das unidades do extinto Banco Real. Os funcionários não conhecem bem o sistema e têm encontrado dificuldades em operá-lo.
Os clientes estão confusos e insatisfeitos com o novo banco e reclamam muito. Mas as metas continuam as mesmas. “O problema foi que não tivemos o treinamento adequado. Havia madrinhas, padrinhos e monitores, funcionários do Santander nas agências do Real, para ensinar o serviço, e um manual na intranet. Mas isso não é suficiente. Mesmo assim, temos que bater as metas”, argumenta Adriano Garcia.
“Ainda por cima, tem agências que não têm monitor ou padrinho, o pessoal fica batendo cabeça, tentando trabalhar, liga para outras unidades para perguntar como as coisas funcionam”, relata o sindicalista.
Os dirigentes sindicais também constataram a insatisfação dos correntistas. “Eu sou cliente do Real desde a época de universitária e estou achando o Santander horrível. Há algumas semanas eu pedi ao meu gerente para ampliar o meu limite e ele me atendeu. Dias depois, fui informada de que o sistema do Santander bloqueou a ampliação. Esse banco é muito ruim, o Real era bem mais flexível”, reclamou uma cliente.
A dificuldade com o sistema e o choque entre as culturas das duas empresas, somados à pressão dos clientes e à cobrança pelas metas, tem levado muitos bancários ao esgotamento emocional. Depois da atividade de quinta-feira, quando puderam conversar com os bancários, os sindicalistas relataram que a tensão nas agências chega a níveis inaceitáveis.
“Ouvi mais de um relato de trabalhador que chegou às lágrimas, porque o estresse está altíssimo”, informa o diretor Marcos Vicente. No call center, antes chamado Disque Real, a situação é ainda mais grave. “Uma funcionária ficou tão nervosa que chegou a vomitar, ainda no Posto de Atendimento. E olha que nós, que trabalhamos neste setor, recebemos algum treinamento”, informa Fátima Guimarães, funcionária do teleatendimento e sindicalista.
“Os clientes estão reclamando muito, porque estranham o novo sistema e, principalmente, por causa da demora no atendimento. Depois de ficar na espera tanto tempo, quando o cliente é atendido já está furioso e destrata o atendente.”, relata a dirigente. “Tudo está funcionando mal no call center. Até a internet está oscilando”, acrescenta Fátima.
A pressão no call center tem levado à desobediência da legislação, já que os empregados estão proibidos de fazer as pausas de dez minutos a cada hora trabalhada. “A fila está muito grande, tem cliente que espera mais de quarenta minutos. Por isso, os supervisores não deixam ninguém sair do PA. Quem precisa ir ao banheiro tem que esperar autorização do supervisor”, relata a Fátima. Como se não bastasse a pressão local, há a pressão remota.
“Estamos sendo monitorados pelo pessoal em São Paulo. Se alguém ficar mais de dez minutos fora de seu posto, eles ligam e mandam o supervisor ir procurar pelo funcionário. Na troca de turno também há abuso, o pessoal que está encerrando seu horário só pode sair depois que os funcinários do turno que está começando estiverem logados”, completa a dirigente.
Mais tarifas, menos remuneração
Uma novidade que está irritando os clientes PJ é a cobrança pelo processamento de documentos dos malotes. No Real, o serviço era gratuito, mas, depois da fusão, o cliente que quiser a comodidade de deixar material para evitar as filas tem que pagar uma tarifa de R$ 25.
“O cliente já paga tantas tarifas, ainda vai ter que pagar mais por um serviço que era gratuito. O banco tem é que contratar mais bancários para reduzir o a espera por atendimento, assim ninguém vai precisar usar o malote para ganhar tempo”, pondera Adriano Garcia.
O dirigente destaca que estes malotes, que, antes, iam para a Central Operacional, são agora processados na própria agência, já que a CO foi gradualmente extinta a partir da compra do Real pelo Santander. “Em algumas agências, até a contagem de dinheiro tem que ser feita manualmente, porque não há maquinas em todas. Com isso, os bancários têm que ficar além do horário para processar este material. Só que o Santander suspendeu o pagamento de horas extras. Se um funcionário tem necessidade de ficar mais tempo, o banco paga, mas isso impacta na remuneração variável”, relata o sindicalista.
Com tantos problemas, o nível de adoecimento dos trabalhadores deve aumentar e a base de clientes tende a diminuir. Mesmo com a realização de várias simulações, a migração dos sistemas e a integração das duas empresas tem sido um processo muito difícil.
A perspectiva não é animadora, já que, ainda por cima, pode haver demissões à medida que os executivos identificarem redundâncias, principalmente nos departamentos. Sem mencionar os pedidos de desligamento de bancários que não estão suportando a pressão, o que já vem acontecendo.
“Algumas pessoas não estão agüentando, tem gente saindo em licença médica. E já houve também pedidos de demissão. Esta integração está sendo desastrosa”, conclui Fátima Guimarães.