Luciana Marinelli
Valor Econômico
São quase 9 horas da manhã de 6 de dezembro, quinto dia útil do mês, e 110 carros-forte amarelos com logotipo da Prosegur se enfileiram para deixar a base operacional da empresa no bairro da Barra Funda, em São Paulo. A data é a mais movimentada do ano para a companhia, que lidera o transporte de valores no Brasil, e o efetivo, tanto de carros, quanto de homens armados para levar o dinheiro até 2,7 mil caixas eletrônicos, chega a ser 40% maior do que em um dia comum. Além do pagamento do salário, há poucos dias havia entrado na conta dos brasileiros com carteira assinada a primeira parcela do décimo terceiro (que as empresas depositam até 20 de novembro) e um enorme volume de saques é esperado.
Quando os portões são abertos para a saída dos carros, a concentração é total, mas alguns minutos antes, o clima dentro da base era outro. Logo na entrada, um vigilante sorridente cumprimentava quem chegava – e recebia um cumprimento amistoso de volta. O ambiente descontraído contrasta com a cara de poucos amigos que se vê do lado de fora, quando esses homens estão vigiando bancos e empresas, abastecendo ou retirando dinheiro dos carros-forte.
O funcionário que acompanha a visita do jornal Valor Econômico à Prosegur, na quente manhã de dezembro, comenta que a surpresa com o contraste é comum. Lá fora, eles são treinados para se manter sérios e alertas todo o tempo – os bandidos aproveitam momentos de desatenção para agir.
Dos 52 mil funcionários no país, 39 mil são vigilantes, que trabalham a partir de 100 bases de operação em 25 Estados, mais o Distrito Federal. Com uma estratégia agressiva de aquisições que culminou na compra do grupo Nordeste e da Transbank por R$ 825,5 milhões em 2012, a filial brasileira tornou-se a maior do grupo Prosegur em faturamento, superando a matriz na Espanha. Ao todo, foram oito compras no mercado brasileiro desde 2009, que fizeram com que a companhia triplicasse de tamanho. Este ano, segundo seu diretor-geral no Brasil, Alberto Minazzoli, a receita líquida deve chegar a R$ 3,1 bilhões – um crescimento de 15% sobre 2012.
A aquisição da Nordeste impulsionou esse avanço, segundo Minazzoli. Sem novas compras em vista até o momento, para 2014 a perspectiva é mais modesta. “Vamos crescer junto com o PIB, mais a inflação”, afirma. Considerando projeções do mercado financeiro compiladas pelo Banco Central, isso significará uma expansão próxima de 8% (2% de aumento do PIB, mais 5,95% de inflação). Com 6,6 mil clientes – incluindo 32 bancos e grandes redes de varejo -, a companhia é líder no mercado brasileiro de segurança e tem entre seus concorrentes grandes companhias como a Protege e a Brinks.
Além de elevar a posição do Brasil entre as operações da Prosegur, a compra da Nordeste, bastante focada em segurança eletrônica, está abrindo caminho para expandir a venda de alarmes e serviços de monitoramento por câmera para comércios e residências.
“É uma área em que estamos apostando bastante, vamos lançar produtos em 2014”, afirma o executivo, citando como exemplo um serviço de “videoaveriguação”, capaz de mostrar a imagem suspeita na sala de monitoramento no instante em que o alarme toca – hoje, o modelo mais comum de vigilância por câmeras grava todas as imagens, que podem ser vistas depois.
As companhias de menor porte também estão no radar da Prosegur para fazer crescer seu principal negócio no país: a logística de valores. Para isso, pretende mudar a imagem de que o serviço custa muito caro e só serve a grandes empresas. “Quando você acha que custa uma parada do carro-forte?”, costuma perguntar Minazzoli, referindo-se ao trajeto que inclui a retirada do dinheiro numa loja até a base da companhia, onde será guardado em um cofre ou encaminhado para depósito bancário. Invariavelmente, diz, os interlocutores arriscam valores maiores do que se cobra: cerca de R$ 200.
A estratégia é apresentar soluções integradas de segurança, adequadas ao perfil do cliente, utilizando as várias áreas de atuação da Prosegur, como a empresa já faz para grandes companhias. Um varejista de pequeno porte, por exemplo, poderia ter um pacote que incluísse a ronda de um vigilante nos arredores da loja, um sistema de câmeras para monitoramento eletrônico e a logística de valores, que inclui a instalação de um cofre, onde o cliente guarda o dinheiro do caixa até que seja retirado em dias predeterminados pelo carro forte. “Há no país milhares de pequenas e médias empresas, há muitas oportunidades de negócios nesse segmento”, diz Minazzoli.
A companhia está montando uma equipe especial de vendas para essa clientela. O projeto começou há pouco mais de um mês, em praças específicas no Norte, Nordeste e Sul do país. “A abordagem tem de ser um pouco diferente [do que é para grandes empresas]. Vamos testar em alguns lugares para ver a reação”, afirma o executivo. Outros nichos em que a empresa está de olho são o monitoramento de perdas do varejo, por sistemas eletrônicos; vigilância e segurança de portos e aeroportos; e grandes eventos. O grupo foi responsável pela logística de valores e segurança do Rock in Rio, em setembro.