O Itaú Unibanco divulgou nesta terça-feira, 1º de março, anúncio milionário de quatro páginas nos principais jornais do país, potencializando os bons resultados alcançados pelo banco após a fusão, iniciada há dois anos, que teria mostrado que “1 + 1 pode ser bem mais que 2”. Nos textos, o banco exalta sua equipe de funcionários, tratada como “o maior capital da empresa”, e a opção do banco pela sustentabilidade e o respeito aos clientes. São frases que, como é comum na publicidade, ignoram a realidade do dia a dia das agências e deixam de lado as grandes insatisfações dos trabalhadores.
No mundo real, os bancários enfrentam condições precárias de trabalho, falta de segurança e pressão pelo cumprimento de metas abusivas. O resultado são filas, problemas no atendimento aos clientes e, principalmente, aumento nos casos de adoecimento entre os bancários. “Se o banco realmente considera os funcionários como o maior capital, já está mais do que na hora de investir e valorizar esse ativo”, afirma Jair Alves, um dos coordenadores da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Itaú Unibanco.
Os bancários sofrem com a sobrecarga de trabalho causada pela carência de funcionários nas agências e departamentos, o que aumenta o stress e as doenças profissionais, além de diminuir a qualidade do atendimento aos clientes. Para piorar, os trabalhadores ainda têm que cumprir as metas absurdas do programa Agir, determinadas pela direção do banco sem qualquer consideração pela realidade financeira da região em que está localizada a agência.
“Hoje, as doenças psíquicas, como depressão e síndrome do pânico, estão aumentando rapidamente entre os funcionários do banco”, salienta Jair. “Queremos discutir o Agir com o banco, especialmente o sistema de definição das metas. O trabalho não pode continuar sendo fonte de sofrimento para os bancários”, defende.
A pressão constante por vendas de produtos também prejudica os clientes, fazendo com que os bancários deixem de ter o papel de conselheiros de investimentos para o de meros vendedores. “Isso vai totalmente contra o programa que o banco diz ter sobre ‘Uso Consciente do Dinheiro’. O modelo organizacional do banco aumenta e muito o stress e os casos de adoecimento de bancários e piora a relação deles com os clientes. Se o banco quer falar de sustentabilidade, precisa modificar essa relação”, defende.
Nas agências reformadas, apresentadas pelo banco como “mais espaçosas, confortáveis e transparentes como a forma do Itaú de se relacionar”, a fantasiosa propaganda da empresa se esqueceu de alguns detalhes. “Em muitas destas agências, os bancários sofrem com problemas gerados pela reforma feita a toque de caixa, como a falta de ar condicionado, teto caindo e outras questões que afetam o dia a dia dos bancários”, afirma Jair.
Ainda mais grave é a ausência de portas de segurança no novo modelo de agência. “Pelo jeito o ‘a forma Itaú de se relacionar’ não leva em conta o respeito à vida de bancários e clientes, que ficam expostos à ação de criminosos, enquanto o banco economiza parte de seus lucros exorbitantes”, ressalta.
“Os mais de 100 mil funcionários do Itaú Unibanco realmente gostariam de trabalhar ‘com paixão e brilho nos olhos’, nas palavras do banco, mas é difícil manter entusiasmo, com sobrecarga de trabalho, más condições, adoecimento e falta de valorização. É preciso que o banco traga para o mundo real essas agências imaginárias que seus publicitários descreveram”, conclui Jair.