Reuniões aproximaram projeto-piloto dos representantes das agências
A Contraf-CUT e o Sindicato dos Bancários de Pernambuco deram mais um passo importante para a consolidação do projeto-piloto de segurança bancária. Em quatro reuniões realizadas nesta terça e quarta-feira, dias 21 e 22, no Hotel Golden Tulip Recife, os representantes das 209 agências da capital pernambucana, Olinda e Jaboatão dos Guararapes conheceram de perto a origem e o acordo que garantiu a instalação de uma série de equipamentos de segurança, que estão sendo testadas nessas unidades.
Eles ouviram as apresentações da Contraf-CUT e do Sindicato, bem como as da Febraban e da Secretaria de Defesa Social (SDS) de Pernambuco, através de dois delegados da Polícia Civil. Também puderam fazer perguntas, que foram respondidas pelos expositores, e receberam dicas sobre como atuar nas agências para que o projeto-piloto seja, de fato, um sucesso.
Encontros históricos
“Essas reuniões foram históricas”, avalia o diretor da Contraf-CUT e coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária, Ademir Wiederkehr. “Foi a primeira vez que reunimos num mesmo espaço, para debater a segurança, representantes do movimento sindical, da Febraban, da polícia e dos bancários de base. Vale lembrar que, até pouco tempo atrás, a Febraban não participava de nenhuma reunião para discutir segurança, nem de audiências públicas convocadas pelas assembleias legislativas dos estados e pelas câmaras municipais”, ressalta Ademir.
Os quatro encontros ocorridos foram reivindicados pelo Sindicato e pela Contraf-CUT no dia 4 de novembro, durante a primeira reunião do Grupo de Acompanhamento do Projeto-piloto. “No início, a Febraban se recusou a realizar as reuniões, que só saíram depois de muita pressão”, conta a presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello. “Agora, o próprio diretor setorial de Segurança Bancária da Febraban, Pedro Oscar Viotto, reconheceu a importância das reuniões para discutir o projeto-piloto com os bancários e até disse que esses encontros deveriam ter sido realizados há mais tempo”, destaca.
Bancários apoiam reivindicações
Segundo Jaqueline, as perguntas apresentadas pelos bancários nas reuniões mostraram que os anseios dos trabalhadores estão bem sintonizados com a luta do Sindicato e da Contraf-CUT por prevenção contra assaltos e sequestros e mais segurança nos locais de trabalho.
“Muita gente perguntou, por exemplo, sobre os perigos de o bancário levar para a casa as chaves das agências e dos cofres. E esta é uma das principais lutas do Sindicato. Queremos, inclusive, garantir na Convenção Coletiva a proibição da guarda das chaves por bancários. Isso deve ser de responsabilidade das empresas de segurança que prestam serviço para os bancos”, diz. Esses funcionários têm sido com frequência vítimas de sequestros.
Para Ademir, “não tem cabimento o bancário guardar chaves, ficar de sobreaviso em casa e, quando toca o alarme do banco no meio da noite, ter que ir até a agência para ver o que está acontecendo. Isso é brincar com a vida”. Ele enfatiza que “hoje existe tecnologia disponível para fazer monitoramento das imagens das câmeras de segurança em tempo real, o que alguns bancos já estão fazendo, e já é possível abrir agências por controle remoto. Levar chaves para casa é coisa do século passado, que não pode mais continuar”.
O projeto-piloto
Conquistado na Campanha Nacional de 2012, o projeto-piloto garantiu para as agências de Recife, Olinda e Jaboatão a instalação de vários equipamentos reivindicados pelos sindicatos: portas com detectores de metais, câmeras nas áreas internas e externas, biombos entre a bateria de caixas e as filas, cofre com dispositivo de retardo e guarda-volumes, além de vigilantes com coletes a prova de balas e armados.
O acordo foi assinado em 14 de maio do ano passado, com prazo de 90 dias para a instalação dos equipamentos, isto é, até 14 de agosto. A vigência do projeto-piloto é de um ano.
Para Jaqueline, foram anos de mobilização por segurança até a conquista deste projeto-piloto. “É uma honra que Recife, Olinda e Jaboatão tenham sido escolhidos para sediar este projeto-piloto. Mas isto não foi por acaso, foi fruto da luta do Sindicato e do Ministério Público, que mandou interditar e multar as agências inseguras da capital pernambucana dois anos atrás. Os bancários do país inteiro estão com os olhos voltados para cá e o sucesso desse projeto-piloto é fundamental para que as medidas de segurança implantadas aqui sejam levadas para o restante do Brasil”, afirma.
Ademir ressalta que, apesar dos avanços garantidos no projeto-piloto, os bancários seguem defendendo outras medidas que não foram contempladas, a fim de proteger a vida de trabalhadores e clientes.
“Queremos a instalação de vidros blindados nas fachadas das agências. Banco não é butique. Há inclusive películas, como as que são usadas nos vidros dos automóveis, que poderiam ser instaladas nos bancos, trazendo mais segurança e dificultando o acesso dos bandidos”, aponta o diretor da Contraf-CUT.
“Além disso, cobramos a isenção das tarifas de transferência de recursos (TED, DOC) para coibir o crime da saidinha de banco”, reitera Ademir. “Muitos clientes fazem saques de altas quantias de dinheiro nas agências para não pagar essas tarifas abusivas e acabam virando alvo de assaltantes”.
Polícia em sintonia
As palestras apresentadas pelos delegados Mauro Cabral e José Cláudio Nogueira mostraram que a visão de segurança da Polícia Civil também está em sintonia com a luta dos sindicatos.
Os policiais disseram que a porta giratória com detector de metais, por exemplo, é uma das melhores formas de se evitar os assaltos a bancos. Os dispositivos, no entanto, só foram instalados depois da pressão do movimento sindical e da aprovação de leis municipais em muitas cidades.
“Até dois anos atrás, os bancos estavam retirando as portas com detector de metais das agências. Agora estão recolocando aqui no Recife, Olinda e Jaboatão por conta do projeto-piloto. Mas no interior, as agências e, principalmente, os postos de atendimento estão entregues à própria sorte”, explica Jaqueline.
Ademir destacou ainda que a análise dos balanços, feita pela Dieese, revela que as despesas de segurança e vigilância representam em média 5% do lucro bilionário dos seis maiores bancos do país, “o que é muito pouco”. O delegado José Cláudio deixou claro: “os bancos que mais investem em segurança são os menos assaltados”.
Os delegados também fizeram algumas reclamações contra os bancos, como o não registro de Boletins de Ocorrências ou o atraso de semanas na abertura do documento, o que, segundo eles, atrapalha a investigação policial. “Isso também prejudica o bancário, quando adquire algum trauma, sequela ou problema de saúde em função de um assalto ou sequestro”, salienta Jaqueline.
Os policiais também citaram problemas com a qualidade das imagens e o posicionamento inadequado de parte das câmeras de segurança, além do desvio de função dos vigilantes, que, por falta de bancários, são mandados pelos bancos a dar orientações aos clientes e organizar filas, descuidando das tarefas de segurança.
“A participação dos bancários é fundamental para o sucesso do projeto-piloto. Os trabalhadores precisam fiscalizar se as câmeras estão funcionando direito, se todos os equipamentos foram instalados e, sempre, registrar Boletim de Ocorrência para os assaltos e outros ataques a bancos”, finalizou o delegado José Cláudio.
Também participaram os diretores do Sindicato, Suzineide Rodrigues e João Rufino.
Nova reunião de acompanhamento
A próxima reunião do Grupo de Acompanhamento do Projeto-piloto será realizada na segunda quinzena de fevereiro, desta vez em São Paulo. O encontro será ampliado com a participação da coordenação do Comando Nacional dos Bancários e do Coletivo Nacional de Segurança Bancária.