Os empresários brasileiros aproveitaram a crise econômica mundial para demitir os empregados que ganham mais em troca de trabalhadores com salários menores. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no primeiro semestre deste ano a rotatividade atingiu 23,4% dos cerca de 29,4 milhões de trabalhadores formais do setor privado.
Para o professor de Recursos Humanos e Relações Trabalhistas da FGV-SP, Sérgio Amad Costa, essa prática das empresas é nefasta não só para o mercado de trabalho, mas para toda a economia. Em artigo publicado no jornal Estado de S. Paulo, o professor explica que a rotatividade sempre foi alta no Brasil, mas cresceu com a crise.
“Porém tal rotatividade não é resultado da crise, mas da falta de visão de alguns empresários descompromissados com a qualidade de seus produtos ou serviços, independentemente de crise ou não. Trata-se de uma prática que a empresa é livre para fazer, mas só contribui para manter uma economia debilitada”, destaca Costa.
Segundo o professor, essa política salarial da rotatividade faz com que todos percam: a empresa vende menos, o empregado vê seu poder de consumo minguar e o governo gasta mais com o seguro-desemprego. “A redução dos salários é muito prejudicial para uma economia de mercado.”
Bancos
As instituições financeiras no Brasil são especialistas em usar a rotatividade para achatar salários e elevar seus lucros. No ano passado, os bancos dispensaram 39.398 bancários com média salarial de R$ 3.325,89 e contrataram 54.627 novos funcionários com vencimentos de R$ 1.959,84, em média, segundo levantamento da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com dados do Ministério do Trabalho e Emprego.
A mesma situação ocorreu em 2007, quando os bancos demitiram cerca de 40 mil bancários com salários médios de R$ 3.085,35 e contrataram 50 mil ganhando em média R$ 1.871,40.
O presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino, destaca que a defesa do emprego é uma das principais reivindicações dos bancários na campanha nacional que está começando. “Embora os bancos sejam campeões de lucratividade no Brasil, bem à frente dos outros setores, a responsabilidade social não faz parte da política das instituições financeiras”, ressalta.
“Por isso, o tema da campanha dos bancários deste ano é: ‘Cadê a responsa, banqueiro?’. Temos uma série de reivindicações para proteger os empregos dos bancários, mas um dos dispositivos que mais defendemos para fortalecer o combate à rotatividade é a ratificação do Brasil à Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que dificulta a demissão imotivada”, explica.
Marcolino ressalta que além de prejudicar os bancários, os clientes também sofrem com a rotatividade que vem se mantendo alta. “Basta ver o quanto aumentou o número de reclamações dos clientes. Os bancários com salários mais altos também são os mais antigos e experientes. Esses números são mais uma mostra de que os bancos estão devendo à sociedade e vamos cobrar a responsabilidade social nesta campanha”.