O desenvolvimento capitalista no mundo segue cada vez mais concentrado em poucas e grandes corporações transnacionais. Cerca de 500 maiores corporações transnacionais respondem atualmente por cerca da metade de toda a produção mundial e quase dois terços do comércio e dos investimentos em novas tecnologias.
Este movimento ganhou maior importância com a aplicação do receituário neoliberal da desregulação das economias e redução das barreiras comercial. O poder das grandes corporações transnacionais permite, por exemplo, que somente 50 delas possuem mais valor econômico que 150 países.
Isso decorre direta e indiretamente do processo de concentração e centralização do capital que se encontra em curso, sobretudo com o avanço da globalização. As operações de fusões e aquisições das empresas transformam a estrutura empresarial.
No ano de 2013, por exemplo, quase 70% de todas as fusões e aquisições realizadas no mundo ocorreram nos países desenvolvidos. Aliado a essa constatação, percebe-se que das 100 maiores empresas existentes no mundo, 93 delas localizam-se nos países ricos, sendo 23 nos Estados Unidos e 11 na França.
Apesar da concentração das grandes corporações transnacionais nos países desenvolvidos, constata-se o importante movimento de crescimento relativo de empresas pertencentes aos países do chamado eixo Sul-Sul do planeta. No ano de 1999, por exemplo, mais de 90% de todos os investimentos diretamente realizados no estrangeiro pelas empresas localizavam-se nos países desenvolvidos.
Quatorze anos depois, em 2013, a participação das empresas estabelecidas nos países desenvolvidos havia decaído para 61% do total realizado no mundo. Com isso, aumenta a presença de corporações transnacionais oriundas de países das regiões Sul-Sul, como China, Brasil, Índia, entre outros.
O Brasil, por exemplo, destaca-se nos ramos produtivos da aeronáutica (Embraer), agroalimentar (JBS) e siderurgia (Gerdau). A china, por outro lado, aponta para a expansão dos setores da eletrônica, transporte e logística e bens e consumo.
Em grande medida, as chamadas cadeias globais de produção terminam expressando tanto a reorganização da produção como a divisão do trabalho no mundo. Ao contrário das antigas relações internacionais, que indicavam interações entre nações, com o centro da produção no interior dos países, assiste-se à emergência de redes empresariais que organizam a produção em que cada país participa parcialmente, seja com mão de obra barata, matéria prima, montagem, produção e difusão tecnológica, equipamentos, entre outros.
O acirramento da competição leva ao alinhamento de trabalhadores e países a condições de produção e emprego da mão de obra que nem sempre permite distanciar-se do movimento maior da precarização no uso da mão de obra, rebaixamento dos mecanismos de sustentabilidade ambiental e regulação pública da competição. O resultado tem sido, a desigualdade maior no desenvolvimento capitalista entre países, regiões, classes sociais e indivíduos.
Marcio Pochmann é economista e professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas