Previ e Funcef vão em busca de investimentos com mais risco

Valor Econômico
Marcelo Mota

Na carteira da Previ, maior fundo de pensão do país, hoje cabem cerca de R$ 4 bilhões em títulos privados. Em cinco anos, pode haver espaço para mais R$ 15 bilhões, segundo o diretor de investimentos da fundação, Renê Sanda. Para ele, esse é o caminho para continuar honrando no futuro o compromisso firmado com os funcionários do Banco do Brasil, os associados do fundo.

Como qualquer fundo de pensão no país, a Previ vem se valendo nos últimos anos de uma característica única do mercado brasileiro, onde ainda é possível bater metas atuariais somente com títulos públicos.

“Essa realidade a gente imagina que vai acabar nos próximos anos”, disse Sanda, em entrevista na sede da Previ. “Basta que (o juro) fique em patamar próximo ao de outros países emergentes que você já está numa situação de ter que correr mais riscos.”

Na Petros, dos funcionários da Petrobras, e na Funcef, da Caixa, ninguém discorda. O que varia são as alternativas que cada fundação busca para tentar compensar a perda de rentabilidade nessa parte da carteira.

A participação da renda fixa no patrimônio dessas fundações já vem caindo. Na Previ, que tem um patrimônio de mais de R$ 150 bilhões, essa fatia já foi a maior parte do bolo. Hoje corresponde a cerca de 30%. No entanto, desses R$ 45 bilhões, mais de 90% ainda são títulos públicos.

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De acordo com o diretor de Investimentos da fundação, o todo da renda fixa até deve voltar a crescer, por uma característica própria da Previ, que tem um plano mais maduro, com pagamentos de R$ 6 bilhões a R$ 7 bilhões a cada ano.

“Uma política possível seria manter em caixa o equivalente a um ano de pagamento de benefício”, explicou ele. Com isso, explica, haveria, em números arredondados, R$ 30 bilhões a serem distribuídos entre diferentes papéis de renda fixa – públicos e privados.

Sanda vê à frente dois caminhos para essa parte da carteira. “Primeiro, a gente vai ter alongamento de prazos. A taxa real vai cair abaixo do atuarial somente nos prazos mais curtos.” Ele estima que metade desses R$ 30 bilhões continue em papéis do governo, mas de prazos mais longos, e carregados até o vencimento. Os outros R$ 15 bilhões devem abrir espaço para os papéis privados.

Com todo esse tamanho, no entanto, a Previ mede bem os movimentos antes de se mexer. E o espaço no mercado de títulos privados, hoje, é muito limitado.

“Não tem papel para todo mundo. Tem muitos papéis, mas não tem bons papéis”, afirmou Sanda, que sequer cita a ausência de liquidez no mercado secundário de títulos privados quando lista os empecilhos com os quais se depara ao analisar ativos para ampliar essa carteira.

Atualmente, a Previ mantém em carteira R$ 1,8 bilhão em debêntures, o mesmo montante em títulos de dívida de instituições financeiras (CDBs e Letras Financeiras) e R$ 2,3 bilhões em Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). Apesar de responderem pela maior parcela dessa parte da carteira, os FIDCs são onde a Previ encontra a maior dificuldade.

“A gente gostaria de fomentar esse mercado, para que pudesse desenvolver produtos que fossem adequados ao nosso apetite”, disse Sanda. Ele se queixa da intermitência do mercado local, onde um emissor se reserva o direito de resgatar os títulos de longo prazo bem antes do vencimento, além da falta qualidade das garantias oferecidas, como acontece no exterior. “Se a empresa quebrar, você não vai conseguir separar o fluxo de recebíveis que é meu do fluxo de recebíveis que é da loja. Tem que confiar muito no chinese wall do emissor.”

Também pesa, segundo ele, a insegurança jurídica. Recentemente, o debate sobre desindexação dos contratos de concessionárias de serviços públicos preocupou a Previ. “Se vier essa desindexação, que venha logo, antes dessa leva de demanda por títulos privados aparecer.”

Enquanto o mercado de papéis privados não pega e a ponta mais longa dos títulos públicos não fica mais atraente, os gestores fazem o que podem na ponta, extraindo a maior rentabilidade possível dos papéis com maior liquidez.

Segundo o diretor de Investimentos da Funcef, Demósthenes Marques, a fundação investe R$ 500 milhões em quatro fundos nos quais tentam obter liquidez com títulos públicos de longo prazo, atrelados à inflação, alternando a estratégia com ativos prefixados. O número é pouco relevante, se comparado ao patrimônio de R$ 44 bilhões da Funcef, mas o resultado gera “muito interesse”, segundo Marques. “Eles têm conseguido bater a meta atuarial.”

Na Funcef, a rentabilidade anual a ser atingida é a inflação medida pelo IPCA, acrescida de 5,5%. Mas a fundação já compôs a sua carteira de títulos públicos para carregamento, que soma R$ 15,5 bilhões e rende, em média, inflação mais 7,5%.

Na Petros, a aposta para compensar a queda de rentabilidade nos papéis públicos são os Fundos de Investimento em Participações. Segundo o diretor de Investimentos da fundação, Carlos Fernando Costa, a Petros já tem 24 fundos, por meio dos quais participa em mais de 100 empresas. Prepara a criação de mais quatro, que serão voltados para as oportunidades em óleo e gás.

A fundação tem R$ 53 bilhões em patrimônio investido. Disso, cerca de R$ 4 bilhões estão nesses fundos. A parcela só não é maior porque, nessa área, o resultado demora mais para aparecer. À medida que os ganhos fiquem evidentes, se abrirá mais espaço na carteira de R$ 16 bilhões em títulos públicos.

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